Bom, ontem havia prometido reiniciar o tema referente ao futuro dos clubes brasileiros em um mercado cada vez mais global. Pois bem, aqui estamos.
Desta vez nosso tema parte tendo como ponto inicial a questão das dívidas e de sua relação com as receitas dos clubes.
Ao contrário do que mostramos ontem, o ranking de devedores tem o Atlético Mineiro como líder, seguido de três clubes cariocas: Botafogo, Vasco e Fluminense. Os quatro possuem uma relação dívida/receita bastante complicada: Atlético e Botafogo com “sete para um” e o Vasco com “quatro para um”. Ou seja, para cada real que o clube arrecada ele tem quatro, ou sete, em dívida.
Sem dúvida alguma são situações bastante complicadas, em especial a do Botafogo, porque como vimos no post de ontem são agremiações que não possuem mercados potenciais a fim de ampliar de forma considerável suas receitas. E mesmo o novo contrato de televisão não deverá trazer ganhos substanciais a estas equipes, embora seja previsto um incremento.
Repetindo a quinta colocação do ranking de receitas temos o Flamengo. Sua relação dívida/receita é de pouco menos de 3, o que torna a situação um pouco mais sustentável. Vale lembrar que o rubro negro mesmo abrindo mão de cerca de R$ 60 milhões na licitação da tv terá um aumento substancial na receita com este ítem. Somado ao potencial inexplorado de receitas é algo perfeitamente equacionável.
O problema do Flamengo, na verdade, é de gestão. Não há modelos de gestão e de governança no clube, o que limita muito a qualidade de sua administração. Muito há a ser feito no assunto para despertar esta potência adormecida.
Depois temos Santos, Palmeiras, Grêmio e Internacional, com fatores pouco acima de 1. Chama a atenção o crescimento de 45% na dívida palmeirense entre 2009 e 2010, ano em que o clube contratou o técnico Felipão pagando R$ 1 milhão mensal entre salários e impostos e ainda trouxe o meia chileno Valdívia por cerca de 16 milhões de reais.
Após estes temos dois clubes verdadeiramente “quebrados”: Portuguesa e Guarani, com dívidas equivalentes a seis anos de faturamento. Ambos estão na Série B e com isso as receitas de televisão e de bilheteria são menores.
O Guarani está pretendendo vender seu estádio – onde estive ano passado – para pagar as dívidas, mas vem encontrando problemas com a Prefeitura da cidade e o tombamento do local. Portuguesa e Guarani são clubes que tendem a transitar entre as divisões inferiores, ou mesmo desaparecer. O caso da Ponte Preta, também de Campinas, é semelhante.
Embora o valor seja bem menor me chamou a atenção o crescimento da dívida do São Paulo, de 42% no último ano.
Estes números deixam claro duas coisas: que conceitos como gestão e governança praticamente não existem nos clubes brasileiros; e a sobrevivência de forma competitiva dependerá de mercados consumidores ampliados em um quadro de concentração do mesmo.
Concentração esta que, ao que parece, será feita pela televisão. Os contratos assinados pela Rede Globo com os clubes – sobre os quais tratei em uma série de artigos – irão criar uma espécie de “castas” no futebol brasileiro: Corinthians e Flamengo como os principais, um segundo grupo com mais quatro ou cinco, um terceiro e depois os demais.
Pelo que se noticiou a diferença entre o que Corinthians e Flamengo irão receber para o chamado “segundo grupo” é de cerca de R$ 50 milhões anuais, o que já cria uma diferença considerável de patamares. O valor estimado para o Flamengo em 2012, R$ 120 milhões, é praticamente o total de receitas auferidas pelo clube em 2010.
Como o leitor pode perceber, estes novos contratos não somente irão aumentar o patamar de faturamento dos principais clubes como concentrar o mercado em alguns poucos grandes “players”. A época de termos sete campeões brasileiros em uma década, como ocorrido na primeira deste terceiro milênio, parece perto do fim. Será substituída pelo domínio de Flamengo e Corínthians, com espasmos, aqui e ali, dos clubes pertencentes ao chamado “segundo grupo”. Uma espécie de Espanha tupiniquim, ao que parece.
O caminho para os clubes “não-dominantes” em suas metrópoles enfrentarem esta inevitável concentração talvez seja a união de forças através de fusões. Com isto ganharem musculatura, mercado consumidor e poder se projetarem em termos nacionais e sul-americanos.
Dois casos que me parecem claros a médio prazo são as fusões de Atlético e Cruzeiro em Minas Gerais e de Vasco, Botafogo e Fluminense no Rio. O estado mineiro tem condições, a meu ver, de ter apenas um único grande clube, assim como aqui no Rio há espaço para no máximo dois – e um deles é o Flamengo, pelos motivos expostos hoje e ontem.
Ou seja, nestes dois estados ou há a fusão dos clubes ou um deles se tornará dominante, com os demais sumindo na poeira das divisões inferiores. Outro estado onde me parece haver esta necessidade é o Paraná, mas lá o quadro é um pouco mais embaralhado, a meu ver.
Somente após a consolidação deste processo – que vai durar algum tempo – é que saberemos quais os clubes brasileiros em condições de se projetarem mundialmente.
Mas este é papo para depois.
Não será necessário fusão nenhuma entre os clubes não-dominantes. Apartir de 2017, o campeonato nacional será composto apenas pelos grandes “players”. Corinthians e Flamengo se enfrentarão em 40 fianis de semana para ser apontado o campeão brasileiro. Estádios superlotados e audiência da TV nas nuvens. Que maravilha!!!!!