Neste início de semana, mais uma edição da coluna “Orun Ayé”, escrita pelo compositor e publicitário Aloisio Villar. O tema de hoje é o início do carnaval 2012 para uma classe muito particular de sambistas: os compositores.
Vamos ao texto. Este ano é possível que eu venha nas parcerias de nosso colunista tanto no Boi da Ilha quanto na Acadêmicos do Dendê. Veremos.
E Começou o Carnaval 2012
Parece exagerado o título da coluna, não é? Como assim começou o carnaval? Mal começou junho e o frio está de lascar [N.do.E.: a coluna foi escrita na quinta feira última]. O máximo que se pode fazer agora é botar um casaco e curtir uma festa junina, como assim carnaval?
Pois é, mas começou… Aquilo que vocês vêem na telinha em fevereiro, o desfile das escolas de samba, é na verdade o fim do carnaval. A conclusão de meses e meses de trabalho. O último capítulo da novela, onde os desfechos acontecem ou são revelados ao grande público. 
Na verdade o carnaval 2012 começou assim que saiu o resultado do carnaval de 2011, mas falo da minha parte. O carnaval pra mim começa nesse fim de semana.
Como o Editor Chefe do Ouro de Tolo colocou como referência minha sou compositor de samba-enredo. E vou explicar para você leitor um pouco desse mecanismo. Neste momento não vou falar das disputas em detalhes porque essa parte deixarei para o momento quando estas começarem; vou falar da preparação de um samba.
O pessoal que é mais vidrado em carnaval já notou que quase todas as escolas já anunciaram seus enredos para o próximo carnaval e nas últimas semanas começaram a pipocar as sinopses desses enredos. A sinopse é uma espécie de livreto que contém as informações do enredo, a história e tudo que a agremiação pretende levar para a avenida e tem informações importantes [N.do.E.: muitas vezes obrigatórias] para os compositores fazerem seus sambas.
Do grupo especial do Rio de Janeiro, por exemplo, que são as que saem agora nesta época do ano, normalmente a sinopse é dividida em oito setores – que mostram cada parte que esse enredo será contado. Isso facilita o trabalho dos compositores na divisão das informações contidas no tema na letra. Algumas vezes uma sinopse também contém palavras grafadas: quando isso ocorre quer dizer que são importantes e que devem ser encaixadas na letra.
Não existe uma ordem fixa de como tem que ser uma letra de samba-enredo. 
A tendência verificada hoje é que seja dividida em quatro partes: uma primeira parte de oito a dez linhas, um refrão do meio normalmente de quatro linhas, segunda parte do tamanho da primeira e refrão principal com quantidade do refrão do meio e “explosivo”. Não é regra nem dá para se dizer que é um molde bom, mas hoje normalmente é assim e na coluna sobre a disputa discutiremos o porquê.
Uma parceria de compositores contém normalmente de quatro a cinco pessoas. Não, não são necessárias quatro a cinco pessoas pra escrever uma música, mas pra concorrer na disputa da escola sim. Fazer e concorrer nesse caso não são sinônimos, se completam. Etapas diferentes.
Um samba-enredo não é só música: antes de tudo é política, negociação e essa hora que é a hora de fechar as parcerias e pegar as sinopses mais do que nunca. Não pode haver erros: uma parceria mal montada prejudica todo o trabalho lá na frente.
Como disse, o carnaval para mim começa nesse fim de semana quando pego minha primeira sinopse e vou relatar ao leitor depois como será a composição desse samba. Na hora que ele ficar pronto darei o passo a passo de como construir um sonho e ver sua obra cantada na avenida.
A sorte está lançada.
Orun Ayé!