Bom, o assunto do momento no mundo do futebol é a série de escândalos envolvendo os principais dirigentes do futebol mundial e, por tabela, do brasileiro. Escrevi sobre o assunto anteriormente.
Naquela ocasião havia citado que finalmente havia sido lançado em português o livro do jornalista inglês Andrew Jennings contando os escândalos da entidade, e que faria a resenha proximamente. E este é nosso tema de hoje.
Li o livro rapidamente, praticamente inteiro nas três horas de vôo do Rio de Janeiro a Natal. É estarrecedor. A quantidade de escândalos e a cara de pau dos envolvidos em determinadas situações é absolutamente inacreditável.
Tanto que esta resenha será um pouco diferente. Listarei alguns dos casos do exemplar para o leitor ter uma idéia do quilate dos responsáveis por esta paixão global que é o futebol. Entremeio com alguns vídeos da recente série de reportagens do Jornal da Record sobre o futebol brasileiro, exibida semana passada.
1) A propina com endereço errado – Uma propina – que, pasmem, é absolutamente legal na Suiça, a sede da Fifa – de 1 milhão de francos suiços acaba depositada por engano na conta da entidade – o destinatário era um famoso brasileiro, veterano dirigente.
2) Eleição de Havelange à Fifa – em 1974, mostra como o apoio de Horst Dassler, dono da Adidas, foi fundamental para sua primeira eleição à entidade. Gordos envelopes em dinheiro para os votantes, patrocinados pela empresa – que lucraria posteriormente com contratos e marketing esportivo.
3) Apostas com a chancela da Fifa – Havelange, Ricardo Teixeira e outros empresários – entre eles o brasileiro Matias Machline – idealizaram uma espécie de loteria em cima dos resultados do futebol, chancelados pela Fifa. A morte do empresário brasileiro acabou abortando o projeto.
4) A ISL e os direitos televisivos – a empresa fundada pelo grupo Adidas foi favorecida nas “licitações” – como se vê no livro, de “carta marcada” – para os direitos televisivos das Copas do Mundo de 2002 e 2006.  Como se mostra, tal “preferência” veio à base de gordas propinas pagas pelo grupo.

5) Havelange e o apoio a políticos impopulares – A Fifa não se preocupava com questões políticas e apóia ditaduras – como a da Nigéria, que assassinou opositores na década de 90 enquanto Havelange se encontrava com o presidente do país e garantia o Mundial Sub-20 em 1997 para o país africano mergulhado na ditadura, na pobreza e na corrupção.

6) Laranjas votando – em duas ocasiões o presidente da Federação Haitiana de Futebol não pôde participar de duas votações importantes. O poderoso Jack Warner, presidente da Confederação da Concacaf e depois Vice-Presidente da Fifa – afastado recentemente – resolveu o “problema”: colocou dois laranjas como se representantes do Haiti fossem.

7) A eleição de Blatter – “presentes” da Fifa a federações africanas, propinas de US$ 50 mil a estes mesmos dirigentes, dinheiro da Fifa utilizado na campanha do então Secretário Geral da Entidade… a lista de irregularidades é farta.

8) Conta da Fifa, conta de Blatter – o presidente da entidade utiliza a verba da entidade como se pessoal fosse. O dinheiro da Fifa é dele e foi utilizado para despesas pessoais dele, da família e para acumulação de patrimônio. Detalhe: incrivelmente, tudo documentado…

9) Os desmandos na Concacaf – Jack Warner, chefão da confederação centro americana, utilizou dinheiro da entidade destinado ao desenvolvimento do futebol na região em causa própria. Inclusive criando um clube particular em Trinidad e Tobago, o “Joe Public”, com infraestrutura e dinheiro da entidade. O que seria público se transformando em particular.

10) O Mundial Sub-17 em Trinidad e Tobago – outra do mesmo dirigente. O mundial trouxe grandes lucros a Warner – e pesado prejuízo ao governo do país. Sem contar as péssimas condições de acomodações e dos estádios.

11) O dinheiro da Rede Globo – 22 milhões de dólares pagos ao grupo ISL pela tv brasileira em 1998 e que deveriam ter sido repassados à Fifa simplesmente foram desviados pela empresa. O dinheiro, curiosamente, jamais foi cobrado pela entidade responsável pelo futebol mundial.

12) A quebra da ISL – afogada em propinas e em maus negócios, a empresa quebraria em 2002. Um destes maus negócios foi a parceria com o Flamengo, onde US$ 63 milhões foram investidos e simplesmente sumiram, evaporaram – mas esta é outra história…

13) O buraco nas contas da Fifa – em 2002, com os problemas da ISL, a entidade estava passando por sérios problemas financeiros. Foi feita uma operação privada de securitização dos direitos de marketing das Copas futuras, algo que fez a entidade perder muito dinheiro.

14) Propinas – A ISL pagou vultosas comissões a dirigentes esportivos, alguns deles ultrapassando a casa de 1 milhão de francos suiços. Isso foi investigado quando da falência da empresa, e a devolução dos valores recebidos requisitada. Quem pagou esta devolução? A própria Fifa.

Dois destes dirigentes são Ricardo Teixeira e João Havelange.

15) Blatter e suas manobras – utilizando-se de leais dirigentes, o presidente da Fifa barrou todas as tentativas de investigá-lo.

16) O escândalo dos ingressos – ingressos solicitados por federações para a Copa de 2002 foram parar em mãos de cambistas e revendidos a altos preços. Nominais, chegou-se ao absurdo de uma fila inteira de assentos com o mesmo nome – um figurão da instituição.

17) Antigua e Barbuda – o pequeno país do Caribe tinha um dirigente que aplicou em negócios pessoais e na própria conta bancária a verba destinada pela entidade ao desenvolvimento do futebol em países pequenos. A Fifa apoiou o dirigente em questão e sabotou a chapa de oposição que havia sido eleita após a confusão toda. Na Jamaica houve algo parecido.

18) A escolha das sedes da Copas de 2006 e 2010 – mais uma vez, acusações de propinas, com direito ao misterioso “sumiço” do delegado que daria a vitória à África do Sul para sede da Copa de 2006.

19) O imbróglio Mastercard/Visa – Jerome Valcke, atual secretário geral, rasgou regras e contratos a fim de beneficiar a Visa na renovação do contrato, sob ordens de Blatter. A Fifa acabaria derrotada na justiça.

20) As sedes de 2018 e 2022 – muito, muito dinheiro em propinas, envolvimento com a máfia russa e “otras cositas más”.

Acredite, leitor:  mesmo tendo listado 20 situações, estou longe, muito longe de abordar todas as situações descritas no livro. Impressiona a falta de transparência, a falta de controle e, em especial, a corrupção e a escancarada roubalheira.

Na Livraria da Travessa, custa R$ 40. É leitura indispensável para se entender o submundo do futebol mundial.

One Reply to “Resenha Literária – "Jogo Sujo – O Mundo Secreto da Fifa"”

  1. O livro parece ser mesmo excelente. Conta alguma coisa sobre a vitória da França em 1998?

    Aguardo o amigo blogueiro me emprestar o livro – inclusive tenho dois livros do amigo aqui para devolver. rs

    Abs.

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