Neste primeiro sábado de julho, a coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada pela colunista Anna Barros, trata de um assunto que, confesso, não acompanhei durante a última semana: as críticas de Carlos Alberto Torres a Tostão (na foto, os dois na Copa de 1970) a respeito de uma “aposentadora especial” para ex-campeões do mundo – que o primeiro defenderia e o segundo é contra.

Não conheço os pormenores da proposta, mas a princípio me parece razoável tendo em vista os relevantes serviços prestados em um tempo onde as grandes estrelas não ganhavam 1% do que ganha hoje um jogador mediano para fraco como, por exemplo, Renato do Flamengo. 

Mas vamos ao texto, escrito por quem sabe.

Em defesa do médico e comentarista de futebol Tostão

Poucas coisas me surpreendem hoje em dia. Mas ler no Blog do Juca, do portal Uol, que Carlos Alberto Torres xingou Tostão e o chamou de demagogo ultrapassou todos os limites. A questão foi a aposentadoria para os campeões mundiais, proposta a qual Tostão é contra e disse que, se receber, devolverá o dinheiro. Não bastasse tudo isso, o Capita ainda insinuou que Tostão não escreve as suas colunas publicadas nos mais diversos jornais do País.

Tostão é ex-jogador, brilhou no tricampeonato da Copa do Mundo de 70, é médico ortopedista e comentarista de futebol, designação que ele se dá por não ser formado em Jornalismo. Ele escreve muitíssimo bem, é lúcido, tem clareza ao analisar todos os fatos e parece ser uma pessoa ética e justa.

Fiquei extremamente chocada com as declarações de Carlos Alberto, ferindo uma pessoa que é um ídolo para mim. Não tive o privilégio de vê-lo jogar pela Seleção Brasileira, ou pelo Cruzeiro – onde se destacou – ou pelo Vasco da Gama. Entretanto, vi videoteipes, sempre me interessei por sua vida e principalmente por seus comentários. Não estou sendo corporativista pelo fato de ele ser médico, mas por ser uma pessoa do bem que foi atacada de maneira cruel e equivocada. Não sei se há ressentimentos entre o “Capitão do Tri” e Tostão, mas nada justifica a agressão gratuita que ele sofreu.

Eu particularmente discordo de Tostão em um ponto: acredito que os campeões mundiais de futebol, basquete e outras modalidades deveriam ter uma aposentadoria, visto que muitos deles como Belini e Nilton Santos têm enfrentado dificuldades relacionadas à sua saúde. Uma aposentadoria do governo os ajudariam, e muito, a superar estes problemas recorrentes na fase da vida em que todos estão.

Nem todos tiveram a mídia que existia naquela época, muito menos a grana: apenas Pelé conseguiu capitalizar para si a fama e o reconhecimento. Sabemos também que se o Rei vivesse na época de hoje em que “soccer is business” seus ganhos poderiam ser muito maiores. Sabemos também o fim que levou Garrincha, pobre e entregue ao alcoolismo. Mas Tostão tem todo o direito de exprimir sua opinião e de declarar que caso receba o benefício irá devolvê-lo.

Somos livres para expressarmos nossas ideias e sentimentos. Vivemos numa democracia.

Percebo também que a intolerância em termos de internet [N.do.E.: não somente na internet. Será tema de post próximo] aumentou consideravelmente. As pessoas não respeitam mais as outras, não aceitam que outras discordem delas, não toleram em muitas situações um não como resposta ou uma simples opinião minimamente divergente. E os trolls da grande rede se escondem muitas vezes sob o véu do anonimato e pensam que tudo podem fazer e dizer: chegando até às raias da violência muitas vezes, tanto verbal como física – o famoso ‘cyberbullying’.

Fiquei muito sensibilizada com essa questão pelo papel que Tostão tem em minha vida. Eu e ele nos encontramos na interseção de duas profissões e vejo em seus textos uma beleza ímpar, que beira até a poesia. Por vezes comprava o extinto JB às quartas só para ler sua coluna. Ou entrava no site do Estado de Minas para ler o que ele havia escrito naquela semana.

Ele é tão singelo que escreve as colunas à mão como que burilando um diamante como um ourives, uma pedra preciosa que é a escrita, a palavra. Não tem como não se indignar ao ler na íntegra o que Carlos Alberto Torres disse. Os campeões mundiais que ele tentou defender, da pior forma, não mereciam. Tostão também não. Espero que o Capita se retrate e volte atrás em suas palavras. Tostão mereceria uma retratação, ou um pedido singelo de desculpas, que fosse.

Mesmo que a causa que se luta seja justa, ela merece ser defendida sempre com hombridade e delicadeza. E nunca pode se buscar um bode expiatório para se colocar holofotes em uma causa ou magoar alguém que tenha uma alma tão especial e que enxergue muito além de seu alcance.

Sou uma pessoa por essência contestadora e esse foi um dos maiores legados de minha faculdade de Jornalismo. Para me convencer de algum argumento tem que ter habilidade com as palavras e boas proposições. Mas jamais deixei de respeitar quem quer que fosse por ter posições contrárias ou divergentes.

Todos merecem ser ouvidos. Toda opinião é relevante. Todos podemos ser livres para dizermos o que pensamos. Mas da maneira que se respeite a todos.

Esse é o mundo ideal. Esse é o mundo moderno e tecnológico que eu quero viver. Quero viver num mundo que tenha a sábia análise de pessoas como Tostão.

Até a próxima!
Anna Barros”

4 Replies to “A Médica e a Jornalista – "Em defesa do médico e comentarista de futebol Tostão"”

  1. Concordo em gênero numero e grau com o texto. Mas acho que essa aposentadoria especial não deveria vir do governo e sim da CBF que fatura rios de dinheiro, inclusive usando as imagens desses ex-jogadores em publicidade. E é preciso também ter critério pois varios ex-jogadores (campeões do mundo ou não) merecem ter essa ajuda financeira e outros, já milionários, não.

  2. Belo tema abordado no post. Concordo em alguns pontos, discordo em outros. Concordo também com o Régis Marra, quando diz que a ajuda deveria vir da entidade máxima do futebol brasileiro, que por décadas arrecadou muita grana e hoje é uma instituição que só atende a interesses particulares. E mais: muitos jogadores já estão ricos e realizados – o proprio C.A. Torres é um deles – e não precisam de ajuda. No fundo, essa atitude reforça a idéia corporativista, de pensarem apenas no seu benefício particular. O governo não tem que gastar dinheiro com isso, tem coisas mais importantes: saúde, educação, segurança etc. Imagina se amanhã ou depois os jogadores de vôlei, de basquete, de handbol, de tênis.. se os golfistas, os nadadores, os que praticaram sinuca ou tênis de mesa também querem aporte financeiro? Quem paga isso? rs

    Concordo com a autora do post quando fala do ridículo ataque de C.A. Torres a Tostão. Torres se mostrou agressivo, deselegante e irascível. Tostão se mostrou inteligente, coerente em suas idéias e exemplar na conduta, quando resolveu não revidar aos ataques.

    E o cyberbullying é uma prática nociva, utilizada cada vez mais por gente pequena, que se esconde atrás de um computador, ou em conversas particulares, gente que por não ter argumentos para discutir, recorre a esse recurso. A saída é ignorar.

  3. Regis e Fabrício, obrigada pelos comentários! É essa interatividade que dá vida a um post! Continuem visitando o OT e comentando! Grande abraço, Anna

  4. Concordo que poderia ser provida pela CBF, mas não me desagrada uma aposentadoria especial. Mal ou bem, prestaram serviços relevantes ao país.

    abraços

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