Veio da noite profunda e do ventre maldito dos tumbeiros. Cruzou a Calunga Grande e, das entranhas da dor, vislumbrou nos céus de Tupã a mesma estrela a anunciar o retorno à Aruanda ancestral, a terra sem males do Morubixaba, seu irmão na mesma sina e guerreiro da mesma guerra.
Com ele, por ele, Nzazi veio batendo seu tambor, Dandalunda abençoou as águas, Lembarenganga amenizou o frio e Vunji manteve na escuridão o sorriso da criança. Oxóssi lhe deu um embornal de flechas certeiras e Ogum, seu irmão, abandonou o arado e ergueu a espada de Marechal de Campo. De Logunedé, o caçador menino, pedra de rio fundo, recebeu a dádiva maior do canto. Olorun, Zambiapongo, lhe deu um samburá de melodias.
Jogou a capoeira escondido pela vastidão de um mar de sambaíbas, arrepiou São Bento Grande e deu volta ao mundo. Gritou machado pro jongueiro velho e pediu licença aos catimbozeiros encantados. Foi ferido, quase de morte, mas resistiu como junco que não quebra. Optou pela luta contra a intolerância e o preconceito e, com seus guerreiros de fé, criou o Quilombo.
Ergueu o brado de liberdade, o mesmo que cavalgou o vento desde a serra da Barriga e berra ainda nos nossos ouvidos acomodados. Sentou em trono de rei, ergueu altaneiro o olhar que até hoje desafia e morreu lutando. Não foi humilhado. Vitorioso, brilha como ancestral maior no firmamento da Grande Noite, na memória do tempo. O dia de hoje é dele.
Com a coité e a cuia no embornal, ofereço o primeiro gole ao guardião das esquinas, Homem da Rua, e deixo aqui, com as bençãos dos mais velhos, gravado o nome do Quilombola maior, mártir de todos os Palmares e vivo, profundamente vivo, em cada toque de tambor brasileiro:
– Antônio Candeia Filho.
Sabe Simas, eu fico “meio assim ” … sabe comequé internet, a gente elogia, diz que o texto é o maravilhoso e coisa e tal… Mas falar o que dum post deste ????
Esse blog deveria ser matéria obrigatória nas escolas…
Xiii! Não estava falando lé com cré, releva mestre !
Simas,
Viva Candeia!
Você saberia dizer quem está no violão nessa gravação?
Abraços