Aproveito para fazer um protesto. Meia dúzia de três ou quatro idiotas gritou “vai morrer” na arquibancada do Engenhão enquanto o técnico era retirado. Era um ato de provocação – idiota – até porque não se tinha noção da gravidade do estado de saúde do técnico.
Pois é: o fato gerou uma verdadeira “caça às bruxas” aos rubro negros nas redes sociais e fora delas no final do domingo e da segunda feira, com muitas ofensas distribuídas de forma genérica: “é a torcida do Flamengo”. Eu mesmo, que trabalho, pago minhas contas e levo uma vida honesta e digna tive de ler diversos xingamentos dirigidos a mim – e não foram poucos. Não se deve tomar três ou quatro imbecis como o todo.
Lembro, ainda, que até hoje a própria torcida vascaína entoa nos estádios uma musiquinha aludindo aos flamengos mortos na queda da arquibancada em 1992. Disso ninguém fala. Mas a verdade é que hoje é “modinha” criticar o Flamengo, seus torcedores e os incautos que se atrevem a ponderar neste mundo cada vez mais insano e radical em que estamos.
Dito isso, vamos ao que realmente importa.
A solidariedade a Ricardo Gomes e atenção para uma doença que pode ser fatal
Não consigo pensar em mais nada essa semana a não ser em Ricardo Gomes. Não só por ser técnico do meu time, mas também pelo problema de saúde que o afetou.
Na hora em que assistia ao jogo Vasco e Flamengo, no último domingo, 28 de agosto, e vi que ele passara mal percebi no desvio de seu lábio pro lado esquerdo que ele estava sofrendo um Acidente Vascular Cerebral, que depois foi diagnosticado como hemorrágico. Já sabia de sua história pregressa de um ataque isquêmico transitório em 2010, quando treinava o São Paulo em um jogo que seu time perdeu para o Palmeiras por 2 a 0. E dali só pude rezar e vibrar: Força, Ricardo.
A partir dali, o jogo perdeu a importância. Só queria saber de notícias do nosso comandante. Ele acabou sendo operado para a drenagem do sangue que extravasou de suas artérias após a elevação da pressão arterial para 190×120 mmHg. A cirurgia durou três horas, foi um sucesso, mas ficou a apreensão do que aconteceria nas 72 horas subsequentes. Se ele teria sequelas, se falaria normalmente, se voltaria a treinar futebol.
Depois disso o que se viu foi uma das maiores manifestações de solidariedade de outros times que eu vi. No Twitter, o #forçaricardogomes alcançou os Trending Topics do domingo com o apoio de twitters de sites como o Netflu e o Botafogonews. Muitas mensagens de carinho e de apoio.
Isso sem contar a bela homenagem que Vasco e Ceará fizeram com faixas onde se liam também: Força, Ricardo Gomes. E a oração de um Pai Nosso no centro do gramado junto com a arbitragem. Um momento realmente tocante e bonito. E a vitória de 3 a 1 sobre o Ceará para coroar a noite, que o time dedicou ao técnico de forma emocionante.
As boas notícias não pararam de acontecer. Ricardo Gomes abriu os olhos, fez movimentos e sorriu quando soube que o time cruzmaltino havia vencido o Ceará. Isso tudo aconteceu porque sua recuperação vem evoluindo bem e os médicos retiraram seus sedativos que o colocavam em coma induzido. Isso prova que vibrações positivas, orações e toda a sorte de boas energias ajudam àquelas pessoas enfermas que precisam. No mundo caótico, materialista e individualista em que vivemos é preciso ter Fé.
Nem nós, torcedores do Vasco, nem o próprio Ricardo, poderíamos imaginar que ele fosse tão querido. É porque ele tem características difíceis de encontrar no meio do futebol: caráter, integridade e correção.
E seu drama chamou atenção para uma doença silenciosa: o AVC ou AVE, que é a nomenclatura mais recente. Acontece por aumento da pressão arterial que muitas vezes pode estar relacionada ao stress de sua profissão. E os sintomas mais frequentes são: perda de força no lado contrário à área atingida pelo derrame, ptose palpebral, fala arrastada ou dificuldade de falar, desvio de comissura labial para o lado contrário e perda da visão de um dos olhos. Se alguém próximo a você ou você mesmo sentir esses sintomas e tiver histórico de hipertensão arterial não controlada ou controlada, precisa procurar o serviço médico imediatamente. Nesses casos, os minutos podem ser fatais ou salvarem a vida do paciente.
No caso de Ricardo Gomes, o salvaram.
Se é que podemos tirar um lado positivo desse drama que nos sensibiliza e nos comove é atentar para uma das doenças mais comuns à nossa volta, que muitas vezes passa despercebida e em muitas situações podendo levar à morte. Rezo para que Ricardo Gomes se restabeleça o mais rápido possível e não tenha seqüelas, podendo tocar a sua vida normalmente. E presto minha solidariedade à sua esposa, seus filhos e familiares. Força, Ricardo Gomes! Sempre!
Até a próxima!
Anna Barros