Se o filme fala a verdade (é sempre bom desconfiar da integridade histórica do que passa na TV, mais ainda na sessão da tarde), Thatcher foi sistematicamente boicotada pelos dirigentes locais do partido conservador britânico. Em parte por ser mulher, em parte por ter uma plataforma eleitoral muito dedicada aos temas nacionais e internacionais, enquanto seus concorrentes davam preferência ao cotidiano local.
Há em tramitação no Congresso Nacional uma proposta de reforma política em avançado estágio de negociação. Dois temas chamam atenção: o financiamento público das campanhas eleitorais e a modificação do sistema eleitoral, que deixaria de ser proporcional.
É surpreendente a quantidade de eleitores que ignora, total ou parcialmente, as características do sistema eleitoral proporcional adotado pelo Brasil para eleger seus deputados federais. Daí porque não custa repetir a regra vigente.
Um partido eleitoral pode lançar muitos candidatos ao mesmo cargo, que disputam o voto de todos os eleitores do estado. O número de cadeiras no Congresso Nacional depende do número de habitantes do estado, sendo que haverá no mínimo 8 e no máximo 70 deputados por unidade da federação.
Realizada a eleição, a quantidade de votos válidos é divida pelo total de cadeiras em disputa no estado, cujo resultado é chamado de quociente eleitoral. O Rio de Janeiro, por exemplo, tem 46 cadeiras. Digamos que tenham 4.600.000 votos válidos (na prática tem mais). Logo, o quociente eleitoral seria de 100 mil votos.
Esse sistema tem suas distorções. Imaginemos que um candidato como o Tiririca tenha, sozinho, 1 milhão de votos e que seus colegas de partido tenham, cada um, apenas 200 votos. Ainda assim, o partido do Tiririca ocuparia as 10 vagas, com candidatos praticamente sem votos entrando de carona. O contrário também acontece: candidatos com 90 mil votos não se elegem, porque a soma dos seus colegas de partido não alcança o quociente eleitoral.
Para acabar com esse incômodo, a reforma política pretende introduzir o sistema de “lista fechada”. Ninguém mais votaria em candidato, só em partidos. Assim, a lista dos mais votados, que hoje é formada a partir do voto dos eleitores, passaria a ser uma prerrogativa da direção dos partidos. Quem vai dizer a ordem de prioridades para preenchimento das vagas é a cacicada que controla as máquinas partidárias.
Há bons argumentos a favor e contra ambos os sistemas. E como no Brasil é difícil adotar soluções definitivas, a tendência atual é bagunçar ainda mais a cabeça do eleitorado, introduzindo um inédito sistema misto, onde parte das vagas seria ocupada pelo regime da lista fechada e outra parte deixaria tudo como está.
O que me incomoda, de verdade, é ter que ficar dependente da escolha dos barões da política brasileira. Pois se até Margaret Tatcher sofreu nas mãos do centenário partido conservador britânico para conseguir seu lugar ao sol, não quero nem pensar o que acontecerá no Brasil quando para virar candidato com chances reais de se eleger for necessário obter a benção prévia do Sarney, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Cesar Maia, José Dirceu, Carlos Lupi, Roberto Jefferson e outros da mesma estirpe.
Acredito que em parte do Executivo, o voto distrital já existe, mas com outra forma. Existe a cota do Temer, a cota do Sarney, do PMDB, dos aliados, enfim. Se no executivo é assim, imagine isso no Congresso
Boa tarde, Dárcio
O problema é que o modelo político brasileiro impele a este tipo de ajuste.
abraço