Na última segunda feira, passei pelo dissabor de uma vez mais ter de fazer a vistoria anual do meu carro, no Rio de Janeiro. Estado que, aliás, é um dos únicos a fazer tal exigência.

O drama já começa na marcação da mesma. Tanto pela internet como pelo telefone o atendimento é bastante lento e o agendamento é sempre feito com prazos bastante elásticos. Liguei no início de agosto para fazer a marcação para o final do mês – o prazo para a placa do meu carro era 31 de agosto – e me foi informado que o prazo mínimo era de cinquenta dias. Ou seja, consegui marcar apenas para a última segunda feira, dia 19 – após o prazo final determinado.

Isto gera um problema: apesar dos atendentes do Detran dizerem que com o protocolo o meu carro não poderia ser rebocado em uma das inúmeras blitzes do órgão realizadas todo santo dia, na prática o que está ocorrendo é que os carros sem vistoria feita no prazo estão sendo rebocados independente de terem o protocolo de agendamento ou não. É um flagrante desrespeito à norma e que atende ao objetivo do Governo do Estado de arrecadar pura e simplesmente – afinal de contas, carros rebocados pagam diárias nos depósitos, multa…

Aliás, vale um parêntese: cerca de 95% dos carros apreendidos nas famosas blitzes da chamada “Lei Seca” o são não pelo fato de seus condutores estarem acima do limite de álcool no sangue. E sim por estarem com IPVA ou a vistoria anual atrasados. Fecha o parêntese.

O incauto aqui imaginou que, se a vistoria estava agendada para as oito horas da manhã, bastaria chegar um pouco antes que seria atendido sem problemas. Pois é.

Cheguei no posto da Ilha do Governador, no Cocotá (foto acima), cerca de 07:35 da manhã. Já havia uma longa fila com uns vinte carros à minha frente esperando a abertura do posto, ou seja, o atendimento seria feito pela ordem de chegada. Na mesma conviviam veículos que faziam vistoria anual, outros que fariam a vistoria de transferência de propriedade e ainda carros novos que fariam seu emplacamento. Na prática o horário previamente agendado era peça de ficção.

Fiquei nesta fila para entrar no posto pouco mais de uma hora. Somente às 08 e 40 da manhã é que adentrei as dependências do Detran. Detalhe: na primeira triagem sequer conferiram se eu estava agendado mesmo. Apenas perguntaram qual era o horário que eu tinha marcado. Isso me leva a pensar que se eu tivesse dado uma de “João Sem Braço” e ido ao posto sem marcação prévia muito provavelmente teria feito a vistoria.

Após o atendimento prévio dirigi-me à fila para fazer a vistoria propriamente dita. Esta em si nem demorou muito, deve ter levado uns cinco minutos esperando e mais uns dez para os procedimentos solicitados. O de sempre: checa se setas, faróis, luzes e extintores estão funcionando, verifica as ferramentas, observa-se o estado dos pneus e mais nada.

A novidade é que desta vez a inspeção de gases – pela qual meu carro passou no ano passado de forma aleatória – era obrigatória e imprescindível para a emissão do certificado anual de licenciamento. Foram feitos os testes e como meu carro é relativamente novo e recebe manutenção, aprovado sem problemas.

Então veio o segundo absurdo da história. Temos de aguardar dentro de um salão a impressão do documento, para ser entregue mediante a nossa assinatura.

Entretanto, para a simples emissão e impressão de um documento e sua entrega levou incríveis cinquenta e cinco minutos. O dono ou representante do veículo aguarda ser chamado e finalmente assina o certificado e recebe o documento de sua licença anual – o que significa alguns muitos reais a menos na conta e algum sossego em eventuais blitzes. O detalhe é que em momento nenhum pediram a minha identidade, ou seja: se meu pai ou meu irmão por exemplo tivessem levado o carro poderiam assinar o documento perfeitamente em meu nome.

Só então pude me retirar e ir embora, o que acabou me custando a perda da manhã de trabalho. Claramente o Detran-RJ não está preocupado com o cidadão e nem se ele tem horário no trabalho ou para outros compromissos: fui agendado às oito, atendido às nove e somente tendo encerrado o procedimento depois das dez. Ano que vem acho que irei agendar a vistoria para assim que pagar o IPVA, para ver se diminuo o tempo necessário para tal.

O cidadão fica se perguntando qual a validade prática de tal vistoria além de arrecadar taxas e aumentar a burocracia requerida ao pobre do cidadão. Sinceramente, não vejo o menor sentido prático, até porque a expressiva renovação da frota verificada nos últimos anos diminuiu bastante o número de carros trafegando sem as mínimas condições de segurança. A impressão que dá é que tal exigência é uma forma de elevar o percentual de veículos em dia com o IPVA – do qual, a propósito, pouco vemos retorno.

Ou seja, mais um exemplo da prioridade dada na engenharia de tráfego à arrecadação, seja com multas – que se constituem uma verdadeira indústria no Rio de Janeiro – seja com licenciamentos, reboques, blitzes e que tais. Organizar o trânsito e melhorar a fluidez não tem a menor importância.

E, finalizando, aproveito para colocar um outro ângulo da Baía de Guanabara, fotografado do posto. Até o ano que vem.

2 Replies to “Detran, Vistoria Anual et alli”

  1. Absurdo Migão. Catastrófico. Ando com esta porcaria da impressão da marcação da vistoria no documento do carro mas sei que os meganhas, mal-orientados e sempre péssimos no que fazem, a irão desconsiderar. Esta vistoria anual foi criada para arrecadação brutal de multas. É o Estado criminoso e indigente, muito bem representado neste papel pelo péssimo Sergio Cabral. Não é a toa que ele…deixa para lá.

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