Como os meus leitores mais antigos já sabem, não sou jornalista. Sou apenas um economista que procura observar os fatos do mundo e fazer minha leitura, sem qualquer intenção de imparcialidade. Também busco chamar a atenção para aspectos inusuais dos fatos e der respaldo a matérias que não tiveram acolhida na grande imprensa.
O leitor também sabe que ando bastante insatisfeito com os rumos que a chamada “grande imprensa” vem tomando. Os grandes veículos vem se comportando muito mais como um partido político que propriamente como órgãos de informação, o que vem trazendo visível perda de credibilidade a estes jornais, revistas e noticiários televisivos.
Podemos dar como dois bons exemplos recentes deste viés ideológico e partidário adotado as recentes coberturas do vazamento da Chevron e a (não) cobertura do “Escândalo Controlar”. Nos dois casos o leitor pôde ver aqui, na medida do possível, mas a cobertura dos grandes jornais e noticiários foi, para se dizer o menos, enviesada – vale lembrar a omissão total da informação de que João Faustino, preso no episódio, era o caixa nacional da campanha nacional de José Serra à Presidência em 2010.
Em especial a Rede Globo deu uma guinada conservadora e reacionária a partir da ascensão de Ali Kamel à Diretoria Geral de Jornalismo. Kamel tratou de impor a sua linha ideológica a ferro e fogo, promovendo expurgos e colocando colunistas e comentaristas afeitos às suas teses – como Míriam Leitão, Merval Pereira, Carlos Alberto Sardenberg e outros menos votados.
Politicamente a emissora – secundada pelo jornal Folha de São Paulo e a revista Veja, esta resvalando no Código Penal – tratou de se aliar aos políticos reacionários, em especial a DEM/PSDB. Mergulhou de cabeça nas campanhas presidenciais de Geraldo Alckmin em 2006 e José Serra em 2010, inclusive com episódios como a montagem envolvendo os “aloprados” em 2006 e o patético caso da “bolinha de papel” ano passado. Como a história registra, sem muito sucesso.
Falo da Rede Globo por ser a maior e mais poderosa, mas poderia falar em geral dos maiores órgãos de imprensa. Apenas me utilizo de um exemplo. Aliás, ao que parece Kamel está perdendo poderes e espera-se uma ligeira guinada ao centro por parte da emissora, em busca de recuperar credibilidade e falar “à nova Classe C”.
Mas esta postura não é nova. Coloco acima matéria realizada pela Rede Record em cima das bombásticas declarações de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, primeiro em livro de memórias e depois em entrevista à Globo News, que reproduzo trecho abaixo. Pela primeira vez alguém da Globo assume publicamente algo que todo mundo já imaginava, que houve auxílio de profissionais da emissora na campanha de Fernando Collor de Mello à Presidência em 1989.
E isso talvez tenha a ver com rumores de que o governo estaria pensando em editar algum tipo de regulação das empresas de mídia. Não é um projeto de censura ou de controle de conteúdo, mas sim visaria a disciplinar algumas situações que ocorrem nos dias de hoje. Pessoalmente, acredito que alguma regulação no sentido dos órgãos de imprensa separarem o que notícia do que é opinião, bem como o direito de resposta, se faria desejável, mas é opinião pessoal minha.
Entretanto, há várias questões que precisam ser revistas. Uma delas é o fato de um mesmo grupo, no mesmo estado, de ter rádios, televisões, jornais e influência política – nem nos Estados Unidos, pátria da livre iniciativa, a lei permite isso. Isso gera um poder político absolutamente imensurável – não por acaso, Sarney e a família de Antonio Carlos Magalhães são donos de jornais, rádios e televisões em seus estados.
Outro problema é a livre venda de concessões de televisão e de horários na tv. Estas são flagrantes irregularidades, haja visto se tratar de concessão pública. A própria Rede Record beneficia-se de uma brecha na lei para alugar horários à Igreja Universal, o que no mínimo se configura uma forma criativa de capitalizar a emissora – embora tal influência já tenha sido maior. Também precisam ser coibidas tais práticas.
Outra questão é o fato de empresas que produzem conteúdo também controlarem a distribuição. Um caso emblemático são os canais da Globosat, ou a dificuldade de se ter canais como a Record News na Net.
Vale lembrar também que as telefônicas se preparam para entrar com tudo neste mercado, em uma briga desigual. A regulação de mercado se faria necessária a fim de não imperar “a lei do mais forte”, o que seria ruim para o consumidor e, provavelmente, para as empresas dominantes hoje – muito menores que as teles. Também nota-se que o mercado brasileiro é um dos mais protegidos do mundo.
Ou seja, uma lei de regulação tem muito mais a ver com impedir a concentração do que “censurar” a imprensa. Me parece claro, contudo, que há setores interessados em embaralhar o debate para manter como está – correndo o risco de serem engolidas por competidores muito maiores a médio prazo.
Voltarei brevemente ao tema, que é complexo e que estou longe de esgotar neste post. Mas espero ter ajudado a esclarecer ao leitor as questões que realmente importam a meu ver.
Escrito por: Pedro Migão em 6 de dezembro de 2011.