Neste sábado, temos mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada pela Anna Barros. Em uma passagem de Ano Novo bastante chuvosa, com enchentes em alguns lugares, o texto é um alerta para a prevenção de uma doença ligada diretamente a granbdes massas de água barrenta: a leptospirose.

Um novo velho problema: a leptospirose que chega com as enchentes

Com as enchentes em Minas Gerais e em Nova Friburgo, uma doença ameaça atingir essas populações: a leptospirose.

O agente etiológico é uma espiroqueta do gênero Leptospira, sendo que dentre os catorze tipos a principal é a Leptospira interrogans. A distribuição da doença é universal, mas ela acomete locais envolvidos com enchentes aliados às populações aglomeradas e de baixas condições financeiras, às condições péssimas de saneamento básico e à alta infestação de roedores infectados.

Algumas profissões podem ser mais suscetíveis a terem a patologia: trabalhadores em limpeza e desentupimento de esgotos, garis, catadores de lixos, agricultores, veterinários, tratadores de animais, laboratoristas, militares e bombeiros, entre outros.

Ela é uma doença infecciosa febril de início abrupto que pode alcançar formas graves. Quando ela é leve, ela pode ser confundida com uma síndrome viral como influenza ou dengue. Seu curso é bifásico que pode ser descrita como se segue:

1)Fase precoce ou septicêmica: Esta fase dura de três a sete dias, com início súbito de febre, cefaleia, mialgias (principalmente abdome e panturilhas), anorexia, náuseas e vômitos. Pode haver diarréia, artralgia e hemorragia conjuntival. A sufusão conjuntival , que é uma expressão de hemorragia na conjuntiva, é um achado característico em 90 % dos casos, o que pode ajudar no diagnóstico diferencial.

2) Fase tardia ou imune: Em 15% dos casos há evolução para formas mais graves que começam após a primeira semana da doença. A manifestação clássica é a tríade: icterícia rubínica, insuficiência renal aguda e hemorragias, sendo a principal a pulmonar. A icterícia é o sinal mais comum, mas nas formas graves a insuficiência renal e a hemorragia pulmonar podem acontecer em pacientes anictéricos, ou seja, sem icterícia.
A doença é transmitida pela urina do rato. Os ratos são os reservatórios da bactéria. Dentre eles a ratazana, o rato-de-esgoto e o rato de telhado. Outros reservatórios de importância são os caninos, suínos, bovinos, eqüinos e caprinos.

A infecção humana se dá pelo contato direto ou indireto com a urina do rato ou de animais infectados. A entrada do microorganismo acontece através da pele íntegra ou de lesões nela existente. O elo hídrico é fundamental para a transmissão da doença através da ingestão de água contaminada ou de alimentos contaminados, por isso que as águas das enchentes são um enorme perigo à saúde da população.

O período de incubação é de 1 a 30 dias (em média de 5 a 14 dias). O período de transmissibilidade dos animais infectados pode durar meses.

As principais complicações são as pulmonares através de hemoptise ou de infecções que levem a uma síndrome respiratória aguda, a insuficiência renal aguda, miocardite, arritmias, pancreatite e encefalites.

Os métodos diagnósticos principais são: a cultura da bactéria e os métodos sorológicos como ELISA-Ig M e a microaglutinação. Os exames inespecíficos são: hemograma completo, bioquímica, provas de função hepática, ECG e gasometria arterial.

A antibioticoterapia é o tratamento de escolha para a leptospirose como amoxacilina e a doxiciclina, sendo que esta última não pode ser usada em crianças menores de nove anos. A duração do tratamento costuma ser de uma semana.

A leptospirose é uma doença de notificação compulsória. E não existe, infelizmente, ainda uma vacina contra a leptospirose.

Os cuidados preventivos são: uso de equipamentos de proteção individual para trabalhadores ou indivíduos expostos ao risco, redução de riscos de exposição de feridas abertas à água contaminada através de cobertura com gazes ou panos limpos na ausência delas, imunização de animais domésticos com vacinas de uso veterinário.

Tenho orgulho de fazer parte do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro que mandou a todos os médicos um guia de bolso com as doenças infecto-parasitárias que inspirou primordialmente a confecção desta coluna que irá ajudar muita gente.

Esperamos que as autoridades façam obras de contenção de encostas e de prevenção de enchentes nas áreas que costumeiramente são afetadas pela chuva excessiva. Os lugares são conhecidos, pré-determinados e a impressão que temos é que há muita falácia  e pouca ação. Janeiro é um mês chuvoso, logo as autoridades têm a faca e o queijo na mão.

Feliz 2012!

Até a próxima!
Anna Barros