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Por Uma Infância Melhor
Dizem que Jorge, com 15 anos, é o melhor jogador do time dos moleques da Vila Bom Jesus, favela pobre e gigante de Porto Alegre, 30 mil moradores.
Eu vi uma foto dele, todo orgulhoso com uma medalha recém conquistada em um torneio qualquer. Me chamou atenção o fato de que ele era bem menor do que seus colegas de time. Só que ele não é mais novo do que os outros. Seu problema é que ele só faz 5 refeições por semana – de segunda a sexta feira ele almoça na creche. Nos finais de semana e à noite, ele come, no máximo, biscoitos. Quando tem.
Creche é modo de dizer, porque o Movimento por uma Infância Melhor não é exatamente um creche.
Eu não acredito em anjos, mas que eles existem, existem! Se o leitor um dia quiser conhecer um, pode ir ali na entrada da Vila Bom Jesus e procurar pela Marlene. A Marlene trabalhava de noite em uma operadora de telefonia, servindo cafezinho e arrumando a copa. O marido dela trabalha como porteiro. Eles moram naquele trecho que ninguém sabe exatamente se já é favela ou se ainda é bairro.
Bem em frente a casa deles havia um imenso terreno baldio, com um arremedo de campo de futebol. E terreno baldio na entrada da favela, já viu, né? Vira lixão, espaço para deixar porcos, burros e outros animais.
Não dá para dizer que a vila é completamente abandonada pelo Estado. Lá tem creche, escola, assistente social. Mas são as particularidades brasileiras que incomodam. A creche é em período integral. Mas só crianças até 6 anos podem ficar lá. A partir de 7 anos, só na escola. De meio período.
Então as crianças saíam da escola e simplesmente não tinham para onde ir. Os pais, trabalhando, deixavam a molecada largada à própria sorte. E uma parte deles começou a vagar por ali mesmo, combatendo o tédio no terreno baldio, brincando com o lixo, flertando com a marginalidade que explora o comércio de drogas na região.
Aos poucos, Marlene foi chamando as crianças para ficar em sua casa mesmo, chocada com o abandono bem de frente para a sua janela. Elas foram chegando, duas, três, quinze, quarenta crianças. Famintas. Marlene começou a fazer comida para elas. Imagina, com o seu salário de copeira, mais o salário de porteiro do marido.
Para encurtar a história, que é imensa, Marlene conseguiu uma rede de apoiadores e hoje há 94 crianças no quintal da sua casa, onde está sendo erguido um sobrado de 2 andares, para acomodar melhor o pessoal que todo dia vai lá em troca de comida e algum lazer – é lá que Jorge, o projeto de craque que abriu esse texto, fazia as únicas refeições de sua vida. A coisa evoluiu, a PUC manda uns estagiários para lá darem aula de esportes, inglês, informática. A prefeitura murou o terreno baldio e promete construir uma pracinha.
O mais bacana é que cada uma das crianças agora ganhou um “Padrinho do Coração”. O padrinho do Jorge marcou uma consulta para ele em uma nutricionista e exige que o menino siga à risca a dieta. Além disso, o padrinho comprou uns suplementos alimentares. Em pouco tempo o Jorge já vai estar pronto para fazer o teste no Grêmio. Três colegas seus já jogam nas categorias de base de times gaúchos. E ele, o mais habilidoso de todos, ainda precisa compensar as carências de tantos anos de subnutrição.
Eu também tenho um afilhado do coração, de 10 anos. O menino foi abandonado pelos pais logo que nasceu e era criado pela avó. Só que ela faleceu repentinamente e ele ficou quase sozinho no mundo. Mora com uma tia, ela própria mãe de outras 2 crianças também atendidas pelo MIM. Espero que eu consiga ajudá-lo a ter um 2012 melhor.
A banda Chimarruts, conhecida por seu engajamento social, resolveu homenagear em seu clipe mais recente várias entidades que realizam trabalhos humanitários. Todas as entidades dignas de aplausos, muito difícil dizer qual delas é a mais essencial. Mas basta ver o (ótimo) clipe para concluir de imediato: a que tem as instalações mais humildes é justamente o MIM, que aparece no fim do clipe. Confira: