Os meus leitores mais antigos sabem que há pelo menos quatro anos tenho o hábito de sempre ir ao primeiro ensaio do ano na Portela. Relatei aqui em 2010 e 2011 as minhas visitas à quadra, com minhas impressões.

Desta vez iria seguir a tradição, mas a chuva da sexta feira dia 06 impediu a ida, pois o ensaio foi cancelado devido à chuva e não tive a menor condição física no último domingo, dia 08 – contei esta história na última sexta.

Então a ida acabou sendo na última sexta feira, dia 13, em dia sem chuva. Explico: a quadra da Portela está em obras, com reinauguração prevista para o próximo dia 04. E a escola está ensaiando na rua, na Estrada do Portela em frente à praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz.

Após um dia estressante de trabalho (mais um), cheguei no local por volta de 21 horas, ainda bastante cedo. Aviso: como o estacionamento do shopping não pode ser usado devido à limitação de horário e a Estrada do Portela fica fechada, só restam poucas vagas em torno da Rua Clara Nunes. Ou seja: chegue cedo.

Assim que chego ao local do ensaio, a primeira surpresa: encontro o Seu Arsênio, que foi meu diretor de bateria no ano em que desfilei tocando chocalho (2004). Para minha surpresa, ele disse que ficou três meses  à minha procura para fechar a ala masculina do chocalho, mas o telefone que ele tinha era “antigo”. Só que tem um detalhe: meu número de celular é o mesmo desde 2001…

Ainda ponderei que somente poderia ensaiar no máximo uma vez por semana, e para minha surpresa ele disse que não haveria problema, porque eu era “ponta firme”. Paciência, fica para 2013. Mas é legal ser lembrado mesmo oito anos depois de ter desfilado.

 

Consegui comprar a camisa oficial e ainda atender a algumas encomendas, mas o estoque da lojinha se esgotou rapidamente. Sem dúvida alguma, é uma oportunidade que a escola perde, pois se tivesse os ítens em outros locais ou ainda um contrato com uma empresa de material à moda dos times de futebol poderia faturar exponencialmente mais.

A estrutura de alimentação, bares e especialmente banheiros evidentemente não é a mesma da quadra, tendo as limitações decorrentes de um espaço público. Mas atende razoavelmente.

O esquenta não contou com o puxador oficial Gilsinho, que chegou apenas depois queixando-se de dores no estômago. Após a exibição da bateria, deu-se início aos sambas antigos da agremiação.

Ao contrário de outras ocasiões, desta vez o repertório foi bastante vasto: além dos clássicos “Portela na Avenida” e “Canto das Três Raças”, grandes sucessos de Clara Nunes, pude ouvir grandes sambas que já não ouvia há tempos ao vivo: 1970/2004, 1981, 1984, 1987, 1991, 1995, 1998 e 2006. Curioso é que até hoje me lembro das marcações na bateria de “Lendas e Mistérios da Amazônia”.

Coisa boa: somente sambas da Portela foram cantados. Se estou na Portela quero ouvir sambas da Águia, não de outras escolas.

Gilsinho assumiu o microfone na hora de se cantar o samba oficial de 2012 (no vídeo que abre este post). Apesar da precariedade do som, que era um caminhão à moda dos utilizados em ensaios técnicos na Sapucaí, sem amplificadores, a força do “Madureira sobe o Pelô” poderia ser vista de forma efusiva.

Peço até desculpas aos leitores pelo fato de o som não estar com a qualidade ideal, mas além da questão do carro de som os equipamentos que me utilizei não eram os mais adequados. Mas o registro está perfeitamente fiel, e dá uma boa noção da noite mágica em Oswaldo Cruz.

Todos cantam o samba. Não há necessidade de os diretores de Harmonia ficarem incentivando, pois a própria qualidade da composição incentivava. Após quase duas horas de ensaio o samba não cansava: ao contrário, estava ainda melhor que nas primeiras passadas. Sem dúvida alguma, é o melhor samba desde pelo menos 1995, e deixou o portelense feliz.

Isso era visível. Cada rosto, cada voz, cada expressão eram a mostra da felicidade, do resgate do orgulho portelense. Estamos andando de cabeça erguida e isso era visível. Além disso, estar em Oswaldo Cruz, em seu berço, em sua raiz, trouxe de volta reavivada a alma portelense, sempre pregada por Paulo da Portela.  É uma sensação que não se pode descrever: apenas sentir.

Também achei o ensaio bem mais organizado que nos últimos anos, o que reflete as mudanças ocorridas na administração da escola. Ao final as camisas da comunidade para o ensaio na Sapucaí, que seria no dia seguinte, foram distribuídas de forma rápida. A escola a meu ver ainda tem um longo caminho a percorrer, mas já deu os primeiros passos.

Sem dúvida alguma, fiquei muito feliz com o que vi. O samba é espetacular, o componente está feliz e motivado, a escola respira seus fundamentos e, depois do que vi, minha opinião é de que a escola vem para fazer seu melhor desfile desde 1995, quem sabe até superando. Obviamente, não falo de resultado, pois este é consequência.

Ainda fiquei um bom tempo conversando com os amigos da PortelaWeb e mais alguns portelenses, até retornar feliz e satisfeito. A Portela a meu ver caminha para uma gloriosa redenção na noite de 19 de fevereiro, de reencontro consigo mesma, de se recolocar no lugar que lhe é seu de direito: o de ser a “Majestade do Samba”.

Obrigado, Luiz Carlos Máximo. Obrigado, Wanderley Monteiro. Obrigado, Tuninho Nascimento. Obrigado, Naldo.

Em tempo: devo visitar o barracão da escola no final da tarde de hoje, a fim de confirmar as impressões que dão conta de ser o melhor dos últimos anos. É possível que consiga fazer uma pequena entrevista com o presidente Nilo Figueiredo, o que, se ocorrer, teremos aqui um resumo amanhã – bem como as impressões da visita à Cidade do Samba.

One Reply to “Pedro Migão subindo o Pelô”

  1. Também estive no ensaio (bem próximo do autor deste blog até) e apenas posso assinar embaixo, corroborando tudo o que está dito.

    Mesmo sabendo da qualidade do samba, me impressionou bastante o fato de que mesmo após 90 minutos de ensaio o samba não caiu um só instante. Pelo contrário, cada vez era cantado mais forte e eu tinha a vontade de “subir o pelô” a cada refrão.

    Foi muito bom ver o portelense feliz, cantando (alias, gritando) seu samba em um bom clima, coisa que estava faltando por aqui. Boa posição, título, tudo é consequência de todo um trabalho; porém é impossível não ficar muito otimista após ver o ensaio e verificar que o caminho para isso está sendo seguindo (mesmo que nos seus trechos iniciais).

    Em tempo: realmente o Migão tocou um chocalho imaginário enquanto tocava o samba de 70/04 com todos as marcações.

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