O leitor deve ter estranhado o fato de ainda não ter escrito o tradicional post sobre os sambas de enredo do grupo de Acesso B. Mas realmente este início de ano tem sido bastante corrido.
Além disso, a fraquíssima safra me deu uma desestimulada a escrever. Nos onze sambas deste grupo não há um que sequer possa ser chamado de razoável. Consegue ser pior, muito pior que a safra de 2011, que era horrorosa mas ainda tinha dois bons sambas.
Vamos aos áudios e a pequenas impressões de cada samba, na ordem de desfile:
1 – Unidos de Vila Santa Tereza
Voltando a desfilar na Sapucaí após 19 anos, a escola traz um enredo sobre brinquedos com samba assinado pelo campeoníssimo Cláudio Russo.
Melodia comum e letra com soluções batidíssimas, como o refrão “pergunta-resposta”.
2 – União de Jacarepaguá
Este samba tem uma particularidade: eram quatro composições na disputa. Uma foi eliminada na semifinal e as três restantes foram fundidas na final. Resultado: o samba tem nada menos que 17 autores – acho que é recorde mundial.
Apesar disso, o enredo sobre reis ganhou um “Frankstein” que é um dos menos ruins do grupo.
3 – Sereno de Campo Grande
A escola de Campo Grande traz outro samba bastante comum para seu enredo sobre a noite. A composição apela para rimas fáceis em toda a sua letra.
4 – Alegria da Zona Sul
A escola tem um bom enredo – a peça “Os Saltimbancos”, de Chico Buarque – mas isto não se refletiu em um bom samba, apesar de ser mais longo que o padrão adotado habitualmente.
5 – Arranco
Este enredo sobre a dança é praticamente idêntico ao apresentado pela própria escola em 2008. Mas o samba é bastante inferior. O puxador, que parece cantor sertanejo, torna a audição da faixa, digamos, pesada…
6 – União do Parque Curicica
Esta escola é uma espécie de “Grande Rio” deste grupo: sempre sambas e desfiles chatos e sempre bem colocada. E o samba sobre as “cartas” segue a mesma linha, apesar de um refrão final com estrutura um pouco diferente.
7 – Mocidade de Vicente de Carvalho
A escola pelo segundo seguido só está no Grupo B devido a penalizações aplicadas a co-irmãs na apuração. O enredo sobre Caruaru ganhou uma composição que é espécie de “forró universitário” do samba. Acho que entenderão a analogia.
8 – Tradição
A agremiação de Campinho tem aquele que considero o melhor enredo deste grupo – uma homenagem ao cartunista Ziraldo – mas como bem alertado pelo comentarista André Mariz a composição tem uma proeza. Todos os versos tem exatamente a mesma melodia.
Uma pena.
9 – Caprichosos de Pilares
Apontada pelos analistas como a grande favorita deste grupo, seu enredo auto referente tem um samba que é de autoria de uma das maiores “firmas” do samba carioca, embora o líder não assine.
Apesar de ser um samba bem abaixo do padrão habitual deste compositor, diria que é o menos ruim deste grupo.
10 – Unidos de Padre Miguel
O enredo sobre a arte ganhou uma leitura correta, valorizada pelo bom trabalho do puxador Igor Vianna. Mas é mais um balaio de clichês recorrentes.
11 – Difícil é o Nome
Encerrando os desfiles de 2012 da Marquês de Sapucaí, já no início da manhã da Quarta Feira de Cinzas, a escola de Pilares – cuja quadra fica se muito a uns 500 metros da Caprichosos – vem com um enredo difícil – sobre a “flor de lis” – que gerou um samba que beira o trash. Em uma safra catastrófica, talvez seja o pior de todos.
Curiosidade: é a primeira vez na história que as duas escolas de Pilares desfilam no mesmo grupo.
Complementando, os Acessos C, D e E, que desfilam na Intendente Magalhães, ganharam seus cds recentemente, em produção bastante interessante da Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
Até por questões éticas – sou um dos autores do samba do Acadêmicos do Dendê, do Acesso D – não analisarei os sambas, mas além do próprio samba do Dendê recomendaria os sambas do Jacarezinho no Aceso C e o da Mocidade Unida de Jacarepaguá no Acesso D.
O post com a análise dos sambas do Especial está aqui, e o do Acesso A neste link.
Escrito por: Pedro Migão em 11 de fevereiro de 2012.