No dia 12 de outubro de 1898 foi fundado, no Rio de Janeiro, o Clube de Regatas São Cristovão, dedicado ao remo. No dia 5 de julho de 1909 foi criado o São Cristovão Atlético Clube, voltado para a prática do futebol e campeão carioca de 1926. No dia 13 de Fevereiro de 1943 ocorreu a fusão entre os dois clubes do bairro imperial, nascendo então o São Cristovão de Futebol e Regatas, o simpático, tradicional e carioquíssimo São Cri-Cri.
Hoje é, portanto, aniversário do São Cristovão de Futebol e Regatas. Não sei se ocorrerá alguma atividade especial para louvar a efeméride. Parece que o São Cristovão vai mal, sem um puto de um trocado pra fazer a festa. Eu, que ando preocupado com a situação terminal dos pequenos clubes de futebol dos bairros da cidade, abro a primeira gelada do dia ao clube da rua Figueira de Melo.
Esses clubes de bairro tem uma trajetória muito similar às escolas de samba do carnaval carioca. Mais do que times de futebol, os pequenos clubes representavam espaços em que as comunidades dos bairros estabeleciam estratégias de convívio, expressavam anseios, manifestavam desejos de festa, integração comunitária e participação efetiva no cotidiano de espaços, muitas vezes depreciados e esquecidos pelo poder público. Os times de futebol desses bairros não tinham a intenção primeira de vencer ou conquistar títulos ; a vitória, no caso, era simplesmente existir e proporcionar o encontro.
Assim como os desfiles assistiram ao surgimento das super-escolas de samba, caracterizadas pela proliferação de alas comerciais e pela verticalização do cortejo – em que as alegorias e adereços se transformam em parafernálias e o componente vira coadjuvante do delírio visual e da ditadura dos carnavalescos – o futebol se tranformou em negócio milionário, controlado por empresários, holdings e o escambau.
A identificação entre jogador e clube desapareceu, a paixão perdeu espaço para as estratégias de mercado e os clubes que não apresentam potencial de retorno financeiro e capacidade de projeção na mídia ( já que não possuem torcedores, ou melhor, clientes , numerosos) correm o risco de acabar ou, quando muito, disputar campeonatos de divisões intermediárias.
Como pode o São Cristovão se inserir nas estratégias de retorno financeiro e midiático do mundo globalizado (expressões tremendamente pedantes e de natureza excludente) ? Não pode, evidentemente. Quem está errado; o São Cri-Cri? Me parece, definitivamente, que não. Nessa maluquice global, a questão é bem mais profunda : É o bairro que está morrendo. Vivemos tempos estranhos, em que é mais fácil o sujeito saber o que está acontecendo com a bolsa de Cingapura do que descobrir o que ocorre na esquina, na feira, no bairro, no botequim e no pequeno clube da localidade.
A míngua dos pequenos é a agonia de um modelo civilizatório mais humano, cordato, afável, apaixonado, destinado ao festejo, ao compartilhamento da alegria e da dor e ao cotidiano dividido com o jornaleiro, o barbeiro, o feirante, o dono da birosca, o amolador de facas e o velho torcedor; aquele que frequenta sempre, até que morra ele ou o clube, o mesmo lugar na arquibancada.
E como diz o belo hino de Lamartine Babo, gravado pelo magistral Silvio Caldas: Avante, São Cristovão / Por seu bem, por nosso bem / Pela grandeza dos esportes / Que essa terra tem!

ss

One Reply to “SÃO CRISTOVÃO DE FUTEBOL E REGATAS”

  1. caro luis, excelente artigo, boa lembrança…sou autor do livro sobre a historia do clube e co-autor de um outro sobre o titulo de 26…sou socio , conselheiro e já fui por 4 gestões dir de patrimonio…grato pela lembrança do meu clube…porém a data que comemoramos é 12/10;;;;a fusão não nos foi benéfica pois unimos o a.c. a um clube falido com 28 sócios (o c.r)…hj estamos a mingua, o futebol sobrevive graças a um arrendamento..
    bom sobre samba, tb adoro os sambas-enredo e procuro os sambas da u,da tijuca de 72 e 78 2 grupo que não foram gravados..nem mesmo lá eu consegui
    raymundo.quadros@bol.com.br
    abvs

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