Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, aborada aquele que a meu ver é um dos dois únicos gênios vivos da música brasileira: Chico Buarque de Holanda.
Chico Buarque do Brasil
Se existe uma unanimidade no país ela se chama Chico Buarque de Holanda.
Ele poderia se chamar Chico Buarque do Brasil porque ninguém contou nossa história, nossas dores de amores, nossas dores patrióticas, as nossas alegrias tão bem quanto ele nos últimos cinquenta anos.
Um pouco de sua história retirada pela Wikipédia:
“Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda, iniciou sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando venceu, com a canção A Banda, o Festival de Música Popular Brasileira. Socialista declarado, se auto-exilou na Itália em 1969, devido à crescente repressão da ditadura militar no Brasil, tornando-se, ao retornar, em 1970.
Um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização do Brasil. Na carreira literária, foi vencedor de três Prêmios Jabuti: melhor romance em 1992 com Estorvo, além do Livro do Ano tanto pelo livro Budapeste lançado em 2004, como por Leite Derramado, em 2010.”
Aí em cima tem um resumo, mas ainda é pouco para definir Chico Buarque.
Chico é um daqueles gênios que temos em nossas artes que se aproxima ou passou da casa dos setenta anos. Como ele temos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Jorge Ben e outros..sempre foi estudioso, amante de livros, nasceu numa casa de intelectuais que recebia visitas de grandes artistas e pensadores brasileiros – o que moldou sua formação. Surgiu como compositor e cantor nos efervecentes anos sessenta. Anos de chumbo não só no Brasil, mas por toda América Latina. A repressão que ditaduras militares subjugavam seus povos contrastava com a fúria artística e de talento que vinham dos jovens da época.
Nasceu no Rio de janeiro, em 1944, filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Dois anos depois a família se mudou para São Paulo e em 1953 para a Itália onde Ségio foi dar aulas na Universidade de Roma. De volta a São Paulo Chico já mostrando interesse pelas músicas compõe “Umas operetas” que cantava com as irmãs.
Em 1963 ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo onde participou de movimentos estudantis. Nesse mesmo ano participa do musical “Balanço do Orfeu” com a música “Tem mais samba”. No ano seguinte participa do programa “O fino da bossa” comandado por Elis Regina, no ano seguinte lança seu primeiro disco compacto com as músicas “Pedro Pedreiro” e “Sonho de um carnaval”. Fez também as músicas do poema “Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, que ao ser apresentado no IV Festival de teatro universitário de Nancy, na França, ganha o prêmio de crítica e público.
Em 1966 sua música “A Banda”, cantada por Nara Leão, vence o Festival de Música Popular Brasileira – empatada com “Disparada”. Nesse mesmo ano sai o seu primeiro LP “Chico Buarque de Holanda”. Suas primeiras canções, como “Pedro Pedreiro”, impregnadas de preocupações sociais, foram seguidas de composições líricas como “Olê, olá”, “Carolina” e “A Banda”. Ainda nesse ano Chico casa-se com a atriz Marieta Severo, com quem teve três filhas, Silvia, Helena e Luíza. Chico Buarque muda-se para o Rio de Janeiro em 1967, e lança seu segundo LP “Chico Buarque de Holanda V.2”. Nesse mesmo ano escreve a peça “Roda Viva”. Faz parceria com Tom Jobim e vencem com a música “Sabiá”, o Festival Internacional da Canção, em 1968.
Em junho de 1968 Chico participa da ‘Passeata dos Cem Mil’, contra a repressão do regime militar. Em 1969 vai exilado para a Itália, só retornando em 1970. Na Itália assina um contrato com a gravadora Philips, para produção de mais um disco. Sua música “Apesar de Você” vende cerca de 100 mil cópias, mas é censurada e recolhida das lojas – sendo somente gravada em LP em 1978.
Depois do show no Teatro Castro Alves em 1972, com Caetano Veloso e o do Canecão, com Maria Betânia, em 1975, Chico passa um longo período sem se apresentar, mas continua produzindo. Escreve a peça Gota d’água, em parceria com Paulo Fontes, o que lhe valeu o prêmio Molière. Escreve a música “Vai trabalhar vagabundo”, para o filme do mesmo nome e as versões da música “O que será”, escritas para o filme “Dona flor e seus dois maridos”.
Nas décadas de 80, 90 e neste novo século continuou a produzir obras geniais, enveredando pela literatura além da música. Foi enredo campeão de 1998 pela Mangueira.
A história de Chico é extensa e plural. Em minha opinião ninguém na história desse país dominou o dom da escrita como ele. Pode não ser o melhor compositor, escritor ou dramaturgo de nossa história (para mim é o melhor compositor), mas é muito bom nos três itens. Dizem que ele é muito bom ao falar sobre as mulheres. Tem o dom de desvendar a alma feminina e falar como uma de suas tristezas e paixões. Eu discordo, acho que isso é diminuir seu talento. O Chico é um despidor de almas, não só femininas, mas humanas em geral.
Quem nunca sentiu dor de amor e ao ouvir uma canção de Chico como “olhos nos olhos” não se indentificou? Não viu ali em forma de letra e melodia toda a dor que sentia?
Chico com suas canções consegue expressar o que nossas lágrimas dizem ao ver partir a mulher amada e pedí-la o disco do Neruda, ao sentir orgulho de nosso guri, beber um cálice com vinho tinto de sangue, dizer que nosso amor tem um jeito louco que é só dele, que não existe pecado do lado debaixo do Equador, que vai passar nessa avenida um samba popular, viu nosso coração morrer na contramão atrapalhando o tráfego…
…ou mesmo nos emocionando ao ver a banda passar, apesar de você.
Chico é o poeta de um povo, quem psicografa nossos anseios e sonhos, quem através de olhos verdes profundos e sorriso tímido mostra o rosto de nosso país. Usou seu talento como arma e foi a luta. Como Chico, como Julinho da Adelaide e tantos outros que não se deixaram oprimir. E nessa roda viva de emoções que é nosso dia a dia o orgulho de termos uma voz. Tudo bem, a voz pode não ser grande coisa, mas ninguém é perfeito, nem ele poderia ser.
Salve Chico Buarque do Brasil. Orun Ayé!