Nesta quinta feira, a coluna “Sobretudo”, do publicitário Affonso Romero, traz um outro aspecto da questão que levantei no post da última terça feira: sob o aspecto institucional do Flamengo. Como sempre, indispensável.

Achincalhes Rubro Negros

Na última terça-feira, o Migão escreveu aqui no blog um texto absolutamente ranzinza, que deu em polêmica numa roda de amigos nossos em comum.

Analisei o caso pela perspectiva rubro-negra, exclusivamente. Claro que o texto original do Migão ia muito além disso: a foto em si era só um exemplo, um pretexto para tocar num assunto abrangente e cuja pertinência maior eu acato.

Mas talvez uma reflexão mais pontual, fixada na foto em si, também leve à compreensão de que por detrás de todo detalhe há uma relação causa-consequência mais profunda. Nossos amigos acham que o Migão pegou pesado, fez tempestade no copo d’água de um menino que postou uma foto engraçada. 

Pois eu vou nadar na contramão da contramão.

Eu concordo integralmente com o texto do Migão. Deve ser solidariedade de gente ranzinza, mas eu concordo. Posso até entender, como o Migão também disse entender, que a foto do Diego Maurício pode ser o menor dos problemas do Flamengo hoje. Mas… será que é mesmo? Senão, vejamos…

O que faz com que o Diego Maurício poste por aí a inocente e idílica fotografia?

A completa falta de noção de que – usando a expressão destacada pelo Migão – “vai dar merda”. E por que isso? Ora, se gente bem esclarecida acha que o Diego Maurício é só mais um “garoto meio bobo de 20 anos que teve menos infância do que deveria e que pode se dar ao desfrute de tirar e postar fotinhas mezzo-gays”, imagina entre os imbecis que habitam as entranhas do Flamengo, imagina também o próprio jogador e os demais boleiros.

Só que ele não é “um garoto normal”. Talvez devesse ser, mas não é.

Para começar, ele recebe um salário que não é normal no meio de onde ele vem, na família dele, no bairro dele, no universo dele fora do futebol. Este salário não é por acaso. Lembrem-se: boleiro não recebe o que recebe pelo que joga, este é o menor dos fatores. Boleiro recebe bem porque representa algo, tem uma imagem, vende coisas, incorpora sentimentos e projeções. 

Segundo que, sendo um profissional de destaque (e ele é: a imprensa tem interesse pelo que faz, seu nome é conhecido, está numa “empresa” de destaque etc.) tendo a idade que tiver, ele tem a obrigação de ter uma postura correta e pretendida de quem representa uma marca, uma instituição. Jogador de futebol não entende isso. Ele quer ganhar o dinheiro de um profissional de ponta, ele quer a notoriedade de um profissional consagrado, mas ele não quer a responsabilidade que é resultado disso. Não existe só uma parte do pacote. 

No Flamengo (e na maioria dos clubes), porque ninguém diz isso a eles, porque o profissional de maior destaque do elenco é um fanfarrão (e antes era um outro fanfarrão com problemas sérios), ninguém compreende a postura que deve ter. Isso se reflete no campo, não apenas na foto do Facebook do Diego Maurício. A foto é uma questão menor sim, mas é efeito da mesma causa. E se reflete no mesmo tipo de consequência.

Teve quem comentasse que “…se ele jogasse no Fluminense a gente estaria dando gargalhadas…”

Verdade, e não estaria dando gargalhadas do jogador, mas dando gargalhadas do clube oponente. Porque o jogador representa o clube, queiramos ou não, seja justo ou não. E o fato é que a este exato momento tricolores estão gargalhando às custas de rubro-negros. 

E por quê? Porque um moleque irresponsável não sabe o que deveria representar, o que ganha para representar. Porque ele pode ser um tonto, um inocente, um non-sense mas é, antes de tudo, um grande bobo. Que não merece estar onde está, porque nem sabe a importância disso. O mais grave: está cercado por uma cambada de bobos ainda maiores, que não souberam educá-lo. E aí não é problema pequeno não.

O problema aqui, e que se refere dentro de campo, e só faz se realimentar e se multiplicar, se chama “imagem institucional”.

O Flamengo vive um momento de achincalhe geral. Um auto-achincalhe, uma coisa estúpida que brota de dentro para fora. Esta diretoria atual – apesar de concordar que o problema é antigo – levou o Clube de Regatas do Flamengo ao mais baixo nível institucional de sua mais que centenária História. Eu nunca vi o clube tão degradado. Não há desculpa, não há justificativa aceitável. Não há compensação possível. Um grande clube é tão-somente uma imagem.

Um Flamengo é uma idealização. Muros, campos, piscinas, direitos esportivos, a única coisa que tem valor financeiro hoje no Flamengo é a sua marca, a sua trajetória, a paixão que é capaz de gerar. Atentar contra isso é fazer o que de pior pode ser feito à instituição.

Patrícia Amorim foi a pior dirigente que já meteu os pés na Gávea, muito menos pelo que fez, mas principalmente pelo que deixou de fazer, e pelo que deixou fazerem. Não havia como tirar uma foto para ilustrar esta frase. Do alto de sua patética inocência, Diego Maurício deu uma imagem para o Flamengo atual.

Outro sintoma do achincalhe geral pelo qual passa o Flamengo – este, um sintoma que também aflige outros clubes – é a mania inexplicável de pagar altíssimas comissões para que empresas auto intituladas de marketing esportivo façam a negociação entre clubes e possíveis patrocinadores. 

No caso do Flamengo, por conta da equivocadíssima contratação de Ronaldinho Gaúcho, o clube ficou meses à espera da Trafficc, e esta se disse à espera do clube. Caberia à empresa de J.Hawilla apresentar ao Flamengo um patrocinador master para a camisa do time de futebol, além da negociação de outras propriedades. Deste contrato, restaram apenas acusações mútuas e o maior período experimentado pelo clube sem um patrocinador, gerando um déficit infindável no Departamento de Futebol – cujo orçamento contava com um dinheiro que nunca entrou.

Alguém aprendeu a lição? Não. Neste exato momento, Flamengo e Corinthians são deparados com a notícia de que a negociação que ambos faziam com a montadora coreana Hyundai através da empresa 9ine foi suspensa.

Traduzindo ao leitor leigo. Os dois maiores clubes brasileiros precisam que a empresa de Ronaldo Fenômeno os apresente à multinacional de origem coreana, como se os clubes e a marca automobilística fossem desconhecidos mútuos, nenhum executivo de nenhum dos três lados pudesse sacar o telefone e fazer o contato diretamente. É público e notório quem quer vender, quem quer comprar, as partes são conhecidas entre si, e alguém iria ganhar uma comissão para intermediar o negócio. A troco de quê? E nem isso fez a negociação prosperar, sem que os clubes envolvidos pudessem interferir, já que tudo estava nas mãos da compententíssima 9ine que fazia… fazia mesmo o quê?

O pior é que isso virou moda no futebol, provavelmente porque interessa às pessoas que decidem, ainda que não interesse às instituições que representam, se é que me faço entender.

Entretanto, o Flamengo se diz pronto a resgatar sua história recente e reforçar sua marca através da contratação de jogadores com raízes no clube. A paquera agora é com Juan, o zagueiro, e Adriano. Foram, a seu tempo e medida, dois grandes jogadores. Foram, tempo passado. De maneira típica, o Flamengo pensa mais uma vez em se “reforçar” com jogadores com sérias complicações físicas e na fase descendente de suas carreiras. É de uma falta de imaginação, falta de visão, falta de grandeza de pensamento, que nem cabe perder muito tempo comentando.

Mas cabe um contraponto: da única vez em que ousou, em que foi buscar uma fórmula original, na única contratação de expressão que esta diretoria realizou, o desastre foi absoluto e completo. Ronaldinho Gaúcho representa um desperdício de dinheiro, um problema disciplinar, um estorvo técnico e tático, uma liderança negativa, uma imagem decadente, uma contratação negativa em todos os aspectos.

Deve ser por isso que, ainda que não dê o braço a torcer, a diretoria tenha se recolhido rapidamente às soluções medíocres de sempre. Porque, para gente inepta, ousar só faz piorar.

Como poderia uma gente tão obtusa ter realizado pelo Flamengo a parceria que o Boca Juniors acaba de brindar com a inauguração do autoproclamado primeiro hotel temático de um time de futebol no mundo, um belíssimo cinco estrelas no centro de Buenos Aires? Há cerca de seis anos ideia semelhante era discutida dentro do Flamengo como coisa de megalômanos: algo impensável e irrealizável. Está aí a resposta do Boca à mediocridade rubro-negra.

Notícia com o nome do Flamengo não vem colada a uma empreendimento de sucesso. A menos que se considere sucesso a organização de “surubas” com a presença de atletas. É o que fala Vagner Love no aperitivo divulgado da entrevista que acaba de dar para a revista Playboy. É isso: o mundo desabando em volta e um jogador importante dá entrevista para a Playboy falando sobre bebida, noitada, suruba.

Essa é a gestão de marca que o Flamengo faz. Depois reclama que nenhuma empresa séria quer juntar seu nome ao do clube.

Dizia eu entre os mesmos amigos que haviam discordado do Migão (e de mim) que a gestão da Patrícia Amorim é a pior de toda a história. Aí sim, conseguimos algumas vozes concordantes. Mas também amealhamos a pobre lembrança do nome de Edmundo Santos Silva.

Vamos ser justos: por si, o Edmundo foi ainda pior que a Patricida. Até porque, tanto ou mais que ela, atentou contra a imagem da instituição. E, naquele caso, mais por ação que por omissão. No entanto, se o impeachment não salvou a imagem dele, expurgou o clube daquele mal.

Graças ao Edmundo, o Flamengo teve a oportunidade de se destacar na mesmice esportiva e dizer publicamente: “Opa, aqui não!!!”. Da Patrícia, nem isso. Nem a capacidade de reunir em torno de si o ódio necessário para expurgá-la também. A Patrícia é o mal morno.

E, se morno, pior.

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