Hoje a coluna “Sobretudo”, do publicitário Affonso Romero, traz um texto enfocando um aspecto muito curioso: a mudança do que significaria um “castigo” na educação de nossos filhos.
Minhas filhas ainda não chegaram na fase enfocada pelo colunista. Mas já sei que não será nada muito diferente.
Crime e Castigo
Vivemos uma época que confirma as teorias do filósofo canadense Marshall MacLuhan em sua “Galáxia de Gutemberg”. Tal qual fofoqueiras de vila sentadas sob os portais de suas casinhas, nossas redes sociais e grupos de discussões via chat e e-mail discutem a vida alheia em tempo real.
Cotidianamente, eu, o Editor Chefe e alguns outros colunistas deste blog, juntamente com amigos das mais diversas partes do Brasil, conversamos sobre futebol, sobre o Flamengo e sobre tudo – e também, às vezes, sobre a Sobretudo.
Alguém postou, por exemplo, que o Sr. Joseph Gonzalez, de Denver, Colorado, obrigou seu filho de 12 anos a segurar publicamente um cartaz que dizia “Sou um ladrão, eu peguei dinheiro de um membro da família”. O garoto tirou US$ 100,00 da carteira de um primo. É o próprio pai que afirma, na reportagem do Denver Post, que o adolescente é um bom garoto e era a primeira vez que fazia algo do tipo. Mas, apesar de reconhecer que “todo mundo comete erros quando jovem”, seu filho merecia aquele castigo.
A notícia correu mundo, traduzida em mil sites e blogs, debatida em milhões de listas. Não vi ninguém que relativizasse o erro do jovem, nem que defendesse que ele não merecia algum castigo. Entretanto, há dúvidas se a estratégia paterna seria eficiente ou não. Há até quem imagine que o trauma da humilhação pública possa criar uma espécie de revolta juvenil e marcar negativamente sua personalidade.
Pesquisei em dois cliques e encontrei a estória da Sra. Dynesha Lax, de Fort Wayne, Indiana, que castigou um filho obrigando-o a usar um cartaz onde se lê “eu minto, roubo e vendo drogas”, depois que outros castigos não o haviam endireitado.
Há claras diferenças entre os dois casos. No segundo, o adolescente era reincidente. Mas o detalhe principal passou despercebido da matéria do portal G1: o menino andava traficando drogas. Ora, não seria o castigo uma forma de propaganda?
Eu e outros escrevemos que era difícil julgar a reação dos pais, principalmente por não conseguirmos imaginar nossos filhos em situações semelhantes. Daí, o debate passou a ser sobre a eficiência das várias formas possíveis de punir/educar adolescentes.
Meu filho já tem 17 anos. A missão de pai está quase cumprida, agora seremos cada vez mais parceiros, amigos, aprenderemos juntos através da troca. Mas pode ser que eu ainda tenha que agir, aqui e ali, como pai, no sentido de ter que impor uma autoridade, educar, instruir.
E, apesar de ter o respeito do meu filho, claro que sempre pinta a dúvida de qual ferramenta eu ainda teria à mão. Não cabe mais colocar de castigo, palmadinha na bunda, falar mais alto, aplicar meu outrora fatal olhar de fúria (que, normalmente, substituía qualquer outro artifício). E se eu precisar usar uma ferramenta de imposição da ordem paterna, qual me resta?
Imaginei uma forma bizarra: “filho, se você não fizer assim (ou continuar a fazer assado) eu espero você estar reunido com seus amigos (e amigas), passo perto com ar casual, e te chamo de Geovênia Katherine.” Assim, sem mais, nada de explicações, saindo em seguida, deixando o pepino nas mãos dele.
O que o amigo leitor acha? Será que um adolescente tímido arriscaria passar uma vergonha tão grande, seja em nome do que for? Pois muitos amigos na internet opinaram que seria inócuo. Eu não entendo nada sobre o que realmente importa para esta geração.
Foi um amigo meu, rubro-negro de Brasília, quem deu a dica através de uma ótima estorinha:
“Um dia desses eu dei um castigo pro meu filho. Enchi o peito e mandei: “eu te avisei, você não escutou, então vai ficar sem o PS3 por uma semana!”
Saí andando, esperando que ele me seguisse desesperado, implorando por piedade. Nada. Pensei: tenho que tirar este puto do sério. Já sei, a tevê. “Olha, e sem tevê também!”
Ele não piscou. Eu jurava que havia um sorriso no canto da boca. Apelei. Fiz algo que não faria nem com o pior inimigo: “E sem computador”. Mexeu um pouco com ele: “Pô. pai…” Mas eu sabia que ele estava fingindo.
E eu pensando: ‘onde eu estou errando?’ Até que… já sei!
‘O celular, me dê já o seu celular. Vai ficar sem celular!’
Em menos de um segundo havia um adolescente fora de si, transtornado, desesperado, implorando perdão, clemência, prometendo que se corrigiria. Mas ficar sem celular, não. Ficar sem o acesso móvel à internet, sem o sms com as gatinhas, aí era demais. É como tirar o ar do cara. Vai por mim, pior que Geovênia Katherine.”
Ok, recado entendido. Obrigado pela ajuda. Os colunistas da Ouro de Tolo Adriana Martins e Walter Monteiro também apoiam seu método com depoimentos pessoais.
A mão da lei familiar tirará seus celulares se vocês saírem da linha.
Tremei, adolescentes do mundo!
Não tenho filhos. Espero tê-los um dia. Agradeço desde já os conselhos.
Só espero que neste ínterim não apareça algum especialista cagador (posso falar cagador aqui??) de regras dizendo que não tenho o direito de tirar o celular do meu filho por que a Constituição assegura os direitos blá blá blá blá blá…