Memórias de Uma Guerra Suja
Sem dúvida alguma o lançamento literário que está causando maior repercussão depois do “Privataria Tucana” é o livro titulado acima – cuja capa pode ser vista no alto do post. Tratam-se das memórias de um ex-integrantes do aparato de repressão policial da Ditadura, que com crises de consciência resolveu contar o que sabe. E as revelações são estarrecedoras.
O leitor mais antigo deste blog sabe que sou a favor de alguma forma de levar ex-torturadores ao banco dos réus, como escrevi em outras ocasiões. Vale lembrar que ao fim e ao cabo a Anistia acabou sendo muito mais aos torturadores que aos opositores do Regime Militar, pois estes foram presos, cumpriram pena, foram torturados, mortos e exilados. Os algozes continuam flanando por aí – a ponto de um deles ser o presidente de fato de uma conhecida agremiação carnavalesca tendo como apelido o próprio codinome que utilizava como torturador.
Entre outras revelações, o livro traz que opositores do regime foram incinerados no forno de uma usina de cana de açúcar em Campos (RJ), que o Delegado Sergio Fleury, um dos maiores carniceiros do regime, foi na verdade assassinado como “queima de arquivo” e que Leonel Brizola (abaixo, em foto de época) sofreu duas tentativas de assassinato – em uma delas com a intenção de responsabilizar a Igreja Católica pelo crime. Ainda conta em detalhes o episódio da bomba no Riocentro em 1981.
Na Livraria da Travessa o livro já se encontra disponível, ao custo de R$ 34 – já encomendei meu exemplar. Parece tão impressionante como livro sobre a Guerrilha do Araguais que li anos atrás, que é estarrecedor. Este é assunto que deve sempre se relembrar – para que jamais se repita.
Na última quarta feira peguei meio de relance um documentário do canal Globonews – que, aliás, quando não quer fazer política partidária oferece coisas bastante interessantes – sobre a ex-primeira dama da Argentina Eva Perón, apelidada “Evita” pelo povo argentino e que morreu precocemente há sessenta anos, vítima de um câncer.
O programa – que pode ser visto aqui – tem como principal atrativo as imagens de época, que trazem especialmente comícios com centenas de milhares de pessoas em uma época onde não havia sequer televisão, apenas o rádio. Sem entrar em juízos de valor político, são impressionantes as demonstrações de apreço pela figura da então primeira dama, que se transformou em um mito no país platino.
Também vale a pena pela história do embalsamamento e depois roubo de seu corpo, que seria encontrado na Itália e posteriormente entrerrado em Buenos Aires a metros de onde, ironicamente, repousa o sepulcro do general que ordenou o sequestro.
Na nossa faixa musical da semana passada tinha dito que veria o show do cantor Ney Matogrosso na nova casa de shows Miranda, na Lagoa. Estive no último sábado.
A casa em si é muito mais um bar com música ao vivo que propriamente uma casa de shows. É pequena (talvez uns 250 lugares, o que explica os salgados preços de ingressos) e tem toda a arrumação espacial mais típica de um bar. O palco é bem pequeno, como se pode tentar ver na (mal tirada) foto acima. Assisti ao show na fila do gargarejo, a uns dois metros do cantor – que, registre-se: iniciou pontualmente às 22:05 conforme anunciado.
O show em si é bem legal, passando por várias épocas da música brasileira. Ney Matogrosso está em plena forma e possui um domínio de palco e de platéia bastante intenso, ainda mais se levando em conta de que é um senhor na faixa dos 70 anos – embora não pareça.
Entretanto, há um senão sério: com bis e tudo, dura exata 1 hora e dez minutos de duração. Levando-se em conta o que paguei nos ingressos, não valeu a pena – e nada contra o artista. Outra coisa é que a anunciada “carta de cervejas” da casa se limitava a Budweiser, Bohemia e Stella Artoais – ou seja, sem comentários.
Lamentavelmente não consegui fazer nenhum registro em vídeo, mas leitor: em uma outra casa de espetáculos, com preços menos salgados, Ney Matogrosso vale muito a pena. A se registrar também que não se deve beber e dirigir, mas sem transporte público e sem oferta de táxis para o retorno fica complicado…