Nesta quinta, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, relativiza a importância do julgamento do mensalão, que se inicia hoje. Ainda chama atenção que, em um julgamento “jurídico”, haverá réus condenados e réus absolvidos.
Mensalão – Um Tema Menor e Desimportante
Estive em São Paulo segunda feira passada e resolvi combater o tédio da sala de embarque e o atraso do meu vôo trocando mensagens com o Editor-Chefe e com o futuro presidente do Flamengo, Affonso Romero.
Um diálogo de malucos, mas por culpa minha. Eles diziam que ‘O Globo’ tinha se tornado um manifesto de política partidária. Eu perguntava como, não via clima conjuntural para tanto. O avião enfim decolou e só aí fui me dar conta de que o desencontro era fruto de referenciais diferentes: eles se referiam à temática nacional, eu pensava que se queixavam das eleições municipais.
Sou viciado em jornais desde criança, mas há quatro anos que a minha fonte primária de informação são os tablóides gaúchos – essencialmente a Zero Hora.
Detesto ler jornal no IPad e o distribuidor local de O Globo era tão ineficiente que o jornal não raro chegava com dias de atraso, ou, com muita sorte, pela tarde. Desisti: me rendi à cobertura local. E agora vi que tive sorte, porque a seção de política vem priorizando as próximas eleições. Naquela segunda feira a única menção ao Mensalão era uma reportagem sobre uma cirurgia de Roberto Jefferson, um dos réus mais famosos do processo maldito.
Não que a imprensa gaúcha seja alienada com temas nacionais. Naquela segunda mesmo a matéria de destaque era uma reportagem com Guido Mantega sobre o desaquecimento da economia. Hoje (quarta) a vez foi da greve dos caminhoneiros. Mas, pelo visto, os jornalistas daqui parecem ter entendido a real dimensão da importância deste Mensalão para o pais: uma nota de rodapé está de ótimo tamanho.
Nada muda, seja qual for o resultado do julgamento. Aliás, o resultado precisa ser completamente imprevisível, porque são muitos réus, muitas provas, muitos argumentos, muitos detalhes.
A rigor, o resultado só parece ter relevância para quem “torce” por um desfecho específico: petistas fazem pressão nos espaços públicos que dominam para o que chamam de um “julgamento técnico”, eufemismo para reivindicar uma absolvição plena – como se não tivessem, realmente, nada a esconder.
Conservadores, majoritários na grande imprensa, vendem a ilusão de que se trata de um momento “histórico” na luta contra a impunidade, como se apenas uma condenação exemplar fosse redimir o Brasil e os brasileiros de todos os pecados de nossa história.
Pois não é uma coisa, nem outra.
Condenar José Dirceu e sua trupe não mudará uma vírgula sequer no comportamento errático da classe política: está aí a CPI do Cachoeira, Demostenes, Agnello e Perillo para deixar bem claro que afastar alguns da vida política não inibe os que restaram de continuar a transgredir.
Absolver os petistas também não é garantia de justiça coisíssima nenhuma. Teve gente ali que meteu a mão com vontade em dinheiro gordo e nem nega – curiosamente, esse não parece ser o caso do vilão-mor, José Dirceu. Até dinheiro na cueca apareceu. Só me faltava essa agora, debater um eufemismo, do tipo “ok, peguei o dinheiro, mas não era todo mês, nem era para comprar meu apoio. Era só para eu enriquecer mesmo”.
Me disseram até que vai ter cobertura ao vivo. Que coisa! Vou logo avisando aos menos familiarizados: não vão esperando um clima ‘Law & Order’. Julgamento no Supremo é uma das coisas mais chatas do mundo de se ver, mais ainda para quem não é do ramo.
Greve dos caminhoneiros.  Desaquecimento da economia. Olimpíadas de Londres. Fora Patricia Amorim. Manuela ou Fortunati? Falta de vaga nos presídios. Obras viárias, para a Copa de 2014. Fuerza Bruta no Porto Alegre em Cena. Carminha x Rita. Dia Nacional da Mobilização Rubro-Negra, 11/08. Um frio de renguear cusco. A pia do banheiro entupida. O escritório mudando de endereço. Revolução Rubro-Negra e Affonso Romero presidente do Mengão. Revisão do carro.  Comprar ou não comprar um Galaxy S III? [N.do.E.: sobre o último assunto, comprei um aparelho destes. Estou encantado.]
Em resumo, coisa para caramba para me manter bastante ocupado.
Vê lá se eu tenho tempo para perder com julgamento de crimes que, tirando Roberto Jefferson e José Dirceu, teriam sido praticados por uns zés-ninguéns da política brasileira? De processo, já me bastam os dos meus clientes, esses sim, decisivos, vitais, fatais, se não para o FlaxFlu da política nacional, ao menos para mim, para minha família e para todas as partes envolvidas.
Próximo assunto, caro Editor. Vamos fazer campanha para o Affonso, porque no final os bons sempre vencem e os bandidos acabam presos mesmo. [N.do.E.: sobre o último item, infelizmente há controvérsias…]

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