Complementando a coluna de ontem, o colunista Rafael Rafic faz o balanço da participação brasileira nos esportes individuais nos Jogos Olímpicos de Londres.
Pessoalmente acredito que 25 medalhas é um número bastante factível para 2016.
Balanço Olímpico Brasileiro: Esportes Individuais
Continuando a análise sobre o desempenho brasileiro nos Jogos Olímpicos de Londres, vamos a uma análise dos esportes individuais:
Atletismo: junto com a natação, as grandes decepções do Brasil. O atletismo, além de passar zerado após mais uma atitude polêmica de Fabi Murer, sequer apresentou bons resultados em relação aos melhores tempos dos próprios atletas. Ou seja, dá para se contar nos dedos aqueles que chegaram perto dos tempos que se esperavam deles. Uma decepção total. Para finalizar, o revezamento 4x100m masculino errou a passagem de bastão duas vezes e ficou fora da final.
Só no final é que a maratona masculina salvou um pouco o fiasco com a excelente 5ª posição do Marilson dos Santos e o 8° lugar de Paulo Roberto de Paula, na prova da vida dele. É a primeira vez que o Brasil coloca dois top 10 na maratona. Ainda tivemos Frank Caldeira em 13°. A melhor maratona da nossa história.
O alento que fica é que as melhores performances ficaram por conta de alguns jovens que surpreenderam. Eles vieram para Londres apenas para ganhar experiência, já pensando em 2016, mas tiveram desempenhos surpreendentes.
Destaco aqui a Rosângela Santos (100m rasos e 4x100m), que por centésimos não chegou a uma impossível final nos 100m, Aldemir Jr. (200m rasos), Mauro Vinícius (salto em distância) e Evelin dos Santos (200m rasos e 4x100m).
Quanto as minhas apostas, nem tenho como comentar o que ocorreu com Murer. Maggi era mais uma aposta pela cabeça dela do que o físico. Não me espantou a saída precoce dela.
Natação: já fiz a análise do desempenho do esporte no post de 6/8, mas errei todos os meus prognósticos. Até as medalhas saíram errado. Bronze do Cielo quando o esperado era o ouro e uma prata totalmente inesperada do Thiago nos 400m medley que, nas palavras do próprio, “não sei de onde tirei, fiz 5 segundos abaixo do que eu já tinha feito até em treino”.
Eu esperava pelo menos uma final do Felipe França nos 100m peito e do 4x100m. O primeiro não chegou à final em uma prova muito forte e o revezamento caiu nas eliminatórias pela decisão duvidosa de poupar Cielo.
Por fim, fora os velocistas, não foram apresentados revelações ou promessas.
Boxe: a grande surpresa positiva da campanha brasileira. Esquiva Falcão se superou, fez lutas muito inteligentes e chegou a uma inesperada final, a primeira da história do Brasil nesse esporte, a qual perdeu por 1 mísero ponto em decisão controversa da arbitragem.
Além da prata de Esquiva, temos o bronze de Yamaguchi Falcão e de Adriana Araújo na estréia do boxe feminino em Jogos Olímpicos. Isso apenas vem coroar o trabalho da confederação de boxe, que tem sido um dos melhores desde o advento da Lei Agnelo-Piva.
Espero que após esse brilhante resultado, os patrocínios comecem a aumentar e finalmente saia o centro de treinamento com o porte sonhado pelo boxe, um sonho antigo dos pugilistas.
Essas três medalhas só não se tornaram quatro porque o excelente campeão mundial Everton Lopes pegou na 1ª luta o cubano Sotolongo, que ganhou o ouro com sobras. Se não fosse essa peça da chave, ele também estaria na briga por medalhas.
Minhas duas apostas acabaram passando longe de medalhas. Everton caiu na peça da chave e Robson Conceição não lutou o que eu já tinha visto.
Canoagem: o melhor resultado foi uma semifinal de Ronilson Oliveira. Resultado dentro do esperado, nada demais. Se nem o remo consegue ir bem, imagina o “primo pobre”. Nosso único canoísta de respeito, já aposentado, ainda foi “importado” da Argentina: Sebastian Cuatrin.
Ciclismo: nosso ciclismo de pista é nulo. Na estrada não levamos time completo nem tínhamos um sprintista fenomenal que pudesse dividir uma chegada e no contra-relógio estamos anos luz atrás dos grandes especialistas Wiggins e Cancellara. Impossível fazer alguma coisa.
No BMX, onde tínhamos alguma chance, a inexistência de pistas de supercross nos matou (a primeira do país deve ser construída para os Jogos de 2016). Resultado: os nossos dois ciclistas tiveram acidentes feios em suas primeiras baterias e tiveram que sair da competição.
Dentro das possibilidades da equipe, um resultado normal. Mas é um esporte que tem potencial para dar muito mais para nós do que temos hoje. Principalmente na estrada e no BMX.
Esgrima: me reporto à coluna de 6/8.
Ginástica Artística: já escrevi sobre a ginástica na coluna de 6/8, mas posso me gabar de acertar 100% aqui.
Finalmente saiu a medalha da ginástica que já esperávamos desde Atenas 2004 com Daiane dos Santos, e saiu logo a de ouro.
Talvez ela tenha saído justamente porque pouquíssimos conheciam o trabalho de Arthur Zanetti e ele pode trabalhar sem qualquer pressão, exatamente o oposto dos incensados Daiane dos Santos e Diego Hypólito.
Mas o leitor do Ouro de Tolo, mais uma vez, pode bater no peito e dizer que já sabia dessa possibilidade de medalha, que eu já tinha adiantado na coluna de 27/6.
Não importa como saiu, o importante é que saiu e tira um peso dos ombros de todos os ginastas que vierem a ter chance de medalha futuramente na modalidade.
Sobre o momento e o futuro da ginástica brasileira, me reporto à coluna de 6/8.
Hipismo: o adestramento conseguiu seu melhor resultado da história, mas ainda está muito longe da disputa por medalhas. Muito longe mesmo.
O concurso completo, que poderia fazer alguma graça, teve problemas de contusão de cavalos que afetaram a equipe. Normal em um esporte tão arriscado como o concurso completo e seu temido cross-country.
E nos saltos, acertei minhas previsões. Doda e Rodrigo Pessoa não estavam em suas melhores fases: o primeiro por falta de talento e o segundo por falta de cavalo. Não passaram nem perto de medalhar individualmente.
Na disputa por equipes tivemos o refugo do quarto elemento e sua eliminação ainda na primeira rodada e isso matou qualquer chance de medalha por equipes.
Judô: os comentários sobre o esporte também já foram feitas na coluna de 6/8.
Quanto aos meus palpites, anunciei três dos quatro medalhistas nas minhas previsões. Só faltou o Rafael Silva. Até foi um vacilo meu, mas imaginava que ele pudesse enfrentar dois judocas muito bons, o russo e o francês que fizeram a final, antes da hora e por isso não achei que ele medalhasse. Após sair a chave, comecei a acreditar fortemente.
Levantamento de peso: Fernando Saraiva ficou em 12° em sua categoria e Jaqueline Ferreira em 8ª, bem longe de medalhas. Nunca tivemos a menor tradição no esporte e posso praticamente assegurar que não disputaremos nada em 2016 ou 2020 nele, salvo algum fenômeno que eventualmente possa surgir ou uma melhora incrível do Fernando Saraiva, na qual não aposto (e suspeitarei bastante se isso ocorrer).
Luta Olímpica: nossa única representante Joyce Silva, perdeu sua primeira luta. A luta nunca teve nenhuma tradição e mesmo a ida de um atleta é raridade.
A prática do esporte vem aumentando bastante no Brasil, embalada pela esteira da popularização do MMA no Brasil. A luta, junto com o jiu-jitsu e o muay thai são as principais artes dominas pelos grandes nomes das artes marciais mistas e ele foi incluído nesse ano nas Olimpíadas Escolares que são organizadas anualmente pelo COB.
Acho que para 2016 é muito cedo para que a luta apresente algum resultado, mas para 2020 é bastante interessante uma aposta nesse esporte dominado hoje amplamente pelo Irã, pela Turquia e pelo Azerbaijão.
Nado Sincronizado: nosso dueto ficou em 13° e fora da final, na qual só vão os 12 melhores. Não conheço muito o esporte, mas houve vaias da platéia após a divulgação das notas das brasileiras. Em um esporte no qual parece que os juízes já tem as notas para o time russo prontas antes das apresentações, é permitido o estranhamento.
Pentatlo Moderno: Outra possibilidade que eu havia avisado na coluna de 27/6. Ninguém falava de Yane Marques (foto), mas ela tinha condições de medalhar. O bronze conquistado na última competição dos Jogos Olímpicos foi o ponto alto de uma atleta que lutou contra tudo e contra todos para poder representar o Brasil em um dos esportes mais desgastantes.
Apesar de ser um bronze, foi a única medalha que mexeu bastante com as minhas emoções. Só quem acompanha a longa jornada de Yane (eu a acompanho desde 2006) sabe o quanto ela sofreu e ainda sofre para se manter competindo no alto nível que uma medalha olímpica exige. É a primeira medalha do Brasil na modalidade.
Apesar disso, esse fenômeno parece ser aquele efêmero. Assim que a Yane sair de cena, o Brasil voltará a ser nulidade no esporte. Uma pena. A confederação até está tentando fazer um trabalho em busca de novos atletas, mas por ser um esporte extremamente exigente, a busca de nomes não é nada fácil e ninguém se destacou até aqui.
Quanto à Yane, ela está com 28 anos, o que em tese é a idade do auge de um pentaatleta. Para 2016 ela terá 32 anos. É difícil uma pentaatleta chegar nessa idade em alto rendimento, mas dessa pernanbucana arretada eu não duvido de mais nada.
Remo: me reporto à coluna de 6/8.
Saltos Ornamentais: mesmo problema do tênis de mesa. Nossa equipe é exatamente a mesma há 3 jogos: Juliana Veloso, Cesar Castro e Hugo Parisi. O máximo foi uma semi de Castro no trampolim de 3m. É outro esporte que está devendo, principalmente em termos de desenvolvimento de atletas. Não digo sobre os resultados dos atletas em Londres, que já eram esperados.
Tênis de mesa: me reporto à coluna de 6/8.
Taekwondo: antes de qualquer comentário vai uma sonora crítica. Em mais uma edição dos Jogos marcada por erros de arbitragens generalizados, o taekwondo foi o esporte em que a arbitragem cometeu os piores erros.
Para complicar ainda mais, mesmo após a revisão oficial com replay em câmera lenta, alguns erros crassos foram mantidos e outros acertos foram revertidos em erros incríveis.
Foi em um desses erros inacreditáveis que a Natalia Falavigna foi eliminada. A adversária coreana claramente deu um golpe na cabeça da brasileira, que vale três pontos, dois ou três segundos após o comando de parada do árbitro, que não deu os pontos à coreana.
Só que, após desafio, inexplicavelmente, os pontos foram dados. Esse erro não foi o único e tivemos mais três erros absurdos que foram mantidos mesmo após revisão durante a competição.
Já quanto ao outro brasileiro, acertei errando. Disse que Diogo Silva não tinha chances de medalhas, o que realmente não ocorreu. Mas foi por muito pouco, Diogo chegou a empatar sua luta semifinal, a qual perdeu na decisão, dessa vez correta, dos juízes. Depois não suportou uma lesão no tornozelo e perdeu a disputa de bronze.
Mas o taekwondo se posicionou muito bem para fazer bonito no Rio de Janeiro, já que não teremos que lutar para conseguir vaga.
Tênis: apesar da falta de sorte suprema do Brasil no sorteio da chave, Bellucci pode sair de cabeça erguida após uma bela partida com o n° 6 do ranking, Tsonga e, junto com André Sá, quase derrubaram na 1ª rodada a dupla americana que domina o circuito há uma década: os irmãos gêmeos Mike e Bob Bryan, que depois viriam a ser medalha de ouro.
Marcelo Melo e Bruno Soares mostraram porque são a melhor dupla brasileira e fizeram um excelente resultado de quartas de final.
O tênis é um dos poucos esportes que não se regulam pelo ciclo olímpico e dificilmente chegaremos em 2016 desse jeito exato como estivemos em 2012, apesar que tanto Bellucci, quanto Melo e Soares tem idade para estarem em alto nível até lá. Em quatro anos muita coisa acontecerá e não tenho como fazer a menor projeção para o próximo ciclo.
Tiro com Arco: nosso único representante, Daniel Xavier foi eliminado logo na 1ª
rodada. Esperado.
Tiro Esportivo: participação quase nula em termos de resultado da equipe de tiro. Também esperado. O stand de tiro de Deodoro, feito para o Pan de 2007 que também será usado em 2016, ainda não deu frutos em formação de atletas.
O máximo que talvez se pudesse esperar fosse uma final de Felipe Fuzaro na fossa olímpica, mas nem ela ocorreu. Também não tenho certeza até hoje se foi justa essa minha expectativa com o Felipe.
Triatlo: como esperado, ficamos no meio do pelotão em posições muito longe de qualquer destaque. Nada inesperado.
Vela: pela primeira vez desde 1992 saímos da vela com menos de duas medalhas. Só conseguimos um bronze na classe star com Scheidt/Prada. Como eu tinha adiantado, a competição foi um belo pega entre a dupla brasileira e a dupla britânica, devidamente acompanhados pela excelente dupla sueca.
Contudo, em um erro bisonho, a dupla britânica foi com tudo para atrapalhar a brasileira na última regata e se esqueceu que a dupla sueca ainda tinha possibilidades matemáticas. Pois bem: os suecos ganharam a regata final e o ouro, para desespero da torcida britânica que lotava a marina olímpica. Nessa brincadeira, Scheidt/Prada acabaram perdendo também a prata.
Das outras apostas minhas, Bimba foi decepcionante e terminou em um longínquo 9° lugar (recuperado no laço após ficar um bom tempo em 12° e 13°) e Fernanda Oliveira e Ana Barbachan tiveram duas regatas seguidas muito ruins e essa seqüência as tirou da briga por medalha. Terminaram em sexto.
Nas outras classes, fomos mal como já estava previsto. O cenário do iatismo brasileiro é um tanto tenebroso, já que a única classe em que temos tradição, a Star, que nos traz medalha há cinco Jogos consecutivos, por hora está excluída dos Jogos de 2016.
Nuzman e Rogge (presidente do COI e ex-velejador olímpico) já estão se mexendo nos bastidores para modificar isso e esperam-se novas notícias na reunião do comitê executivo da ISAF em novembro. Ao que tudo indica, o plano B seria a ida de Scheidt e Prada para a classe 470. Ainda sim, isso é perigoso. A manutenção da Star seria mil vezes mais segura para nós.
Talvez em quatro anos o jovem Jorge Zarif esteja pronto para disputar medalha na classe Finn, mas não garanto. A situação na vela não está boa e a confederação está sob intervenção provisória – quase eterna – do COB por conta de dívidas.