Leitores, não esperem um post encadeado, bonitinho, hoje. A idéia é dar alguns pitacos a praticamente um mês das eleições.
Começo por São Paulo. Em fevereiro escrevi aqui post dizendo que achava muito arriscada a aposta de José Serra de se candidatar à Prefeitura, tamanhos eram os problemas. À época fui chamado de louco, mas o que o desenrolar do quadro está mostrando é que a chance de um segundo turno sem o eterno candidato é bastante plausível, diria até bastante provável.
Além dos próprios problemas o candidato tucano enfrenta a rejeição da população paulistana à administração de Gilberto Kassab, por questões que já elenquei aqui em outras oportunidades. Acredito que a intensificação dos suspeitíssimos incêndios (foto) em favelas paulistanas – tema que abordei em janeiro de 2010 – junto com intervenções como a da Cracolândia tenham contribuído para aumentar ainda mais a impopularidade do prefeito.
Também deve se considerar que a ala do PSDB paulistano ligada ao governador Geraldo Alckmin não parece muito entusiasmada com a candidatura serrista. Uma derrota deste permitiria ao governador assumir definitivamente o comando do partido no estado, ainda mais se levando em conta que Kassab parece querer alçar vôo próprio no recém fundado PSD.
Sobram Russomano e Haddad. O primeiro parece capitalizar sua postura de defensor dos direitos do consumidor em seus programas televisivos, assumindo uma postura basicamente personalista: “sua vontade” irá resolver os problemas dos paulistanos. Pesa contra si o apoio da Igreja Universal, que certamente será explorada pela mídia.
Por outro lado Haddad tem a favor a promessa de um bom relacionamento com o Governo Federal e o carisma do ex-presidente Lula, além de explorar os problemas da prefeitura atual. Seu ponto fraco é o histórico conservadorismo da sociedade paulistana, que vem elegendo e reelegendo políticos conservadores há bastante tempo.
Certo é que Haddad tem um eleitorado cativo de cerca de 30% da população, o que deve ser suficiente para levá-lo ao segundo turno. Pessoalmente não descartaria o candidato do PMDB Gabriel Chalita, que conta com apoio discreto de políticos do PSDB ligados ao governador Geraldo Alckmin.
Curiosa será ver a postura da Rede Globo da televisão em um eventual segundo turno entre Russomano e Haddad: afinal de contas, será o candidato da Rede Record contra o PT.
No Rio de Janeiro ao que parece o atual prefeito Eduardo Paes deverá liquidar a fatura em primeiro turno, apesar do crescimento do candidato do PSOL Marcelo Freixo.
Este vem crescendo em cima do eleitorado tipicamente elitista e reacionário de classe média e alta – Zona Sul, Tijuca, Barra da Tijuca e áreas da Ilha do Governador – preenchendo o espaço deixado pelo ex-candidato Fernando Gabeira e que não é ocupado pela candidatura de Rodrigo Maia.
Para isso o PSOL vem adotando um discurso crescentemente reacionário e bastante próximo de teses defendidas por partidos como o PSDB e o DEM, em especial a respeito de um suposto “puritanismo” na prática política. Isso deve significar uma votação acima da obtida nas últimas eleições para o partido, mas à custa do afastamento de uma base de eleitores ideológicos que acompanhavam o PSOL desde o início.
Agora acho que o leitor entende o comentário que fiz em outras ocasiões, de que não votaria no PSOL nestas eleições. A guinada à direita dada pelo partido está me desagradando bastante.
Ainda não tenho intenção de voto consolidada, mas diria que a tendência, hoje, seria “tapar o nariz” e dar um voto de confiança ao atual prefeito. Sei dos vários problemas que este grupo político representa e tem, mas em minha avaliação Paes faz um governo razoável – ainda mais se sabendo que ele herdou o município destruído pelos 16 anos do mandatário anterior – e o alinhamento aos governos do Estado e Federal pesa bastante em minha avaliação.
Quanto à insólita chapa formada por Rodrigo Maia e Clarissa Garotinho, confirma-se o que escrevi em post anterior: o custo de tal aliança é muito maior que os benefícios. São eleitorados distintos e que são mutuamente excludentes.
Aproveito para deixar registrado meu protesto quanto à propaganda eleitoral desta chapa. Rodrigo Maia fala dos problemas da cidade omitindo que seu pai, Cesar Maia, foi o czar da cidade durante longos 16 anos. Alias este último declarou à Justiça Eleitoral não possuir quaisquer bens em seu nome, o que, convenhamos, é um escárnio.
Finalizando o quadro carioca, me espanta a coragem do candidato do PSDB, Otávio Leite, em apresentar Fernando Henrique Cardoso e Marcello Alencar em sua publicidade eleitoral. Dois sujeitos que são odiados pela população local – não sem motivo.
Belo Horizonte registra liderança do atual prefeito, mas não me parece fatura liquidada dado o crescimento de Patrus Ananias. Recife, outra cidade emblemática, viu a virada do candidato apoiado pelo governador Eduardo Campos sobre Humberto Costa, do PT, até de forma rápida.
Mas nesta virada pesa a boa avaliação do governador e a péssima imagem do atual prefeito nas pesquisas qualitativas.
Por falar em pesquisas de opinião, fecho o post com um assunto que me foi alertado por um leitor: no interior de São Paulo há uma máfia de pesquisas que produz resultados prontos de acordo com o gosto do freguês.
Estas empresas cobram cerca de R$ 10 mil a prefeitos da região para não publicar resultados que lhe seriam ruins (manipulados), ou então “fabricando números” para alardear um suposto favoritismo. Caso o prefeito não compre, os adversários políticos se utilizam destes números em suas propagandas – pagando o preço cobrado por estas empresas.
O detalhe é que são pesquisas registradas no TRE, apesar de tudo. A principal empresa deste esquema, sediada em Presidente Prudente , enfrenta uma série de acusações na Justiça, bem como seu sócio majoritário.
Lembro aos leitores que a possibilidade de manipulação de números é muito maior nas cidades menores, que não contam com imprensa influente ou instituições de controle fortes como a das grandes cidades. Na prática, é uma forma sofisticada de coação e desvio de recursos – muitas vezes públicos.
(Foto: Estadão)