Excepcionalmente neste sábado, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, fala um pouco do seu desencanto com a política atual.
Pessoalmente, apesar de vários e diversos reparos, não compartilho de visão tão pessimista. Mas vamos ao texto.
A gente tem absoluta certeza de que ficou velho quando se presta ao ridículo de ficar repetindo aos mais novos o surrado clichê de que “no meu tempo era melhor”. Aliás, só o fato de existir um tempo para chamar de seu já é uma tristeza de dar dó, mas eu preciso passar por essa vergonha nessa ressaca eleitoral.
No domingo de sol em Porto Alegre que antecedeu as eleições municipais, fui passear com minhas filhas gêmeas no Parque Farroupilha, mais conhecido como “Redenção” (acima, em foto do Editor Chefe quando esteve por aqui).
Tenho quase certeza que os leitores do blog pouco sabem de Porto Alegre, por isso me sinto no dever de explicar: a Redenção é uma espécie da orla Ipanema/Leblon, só que sem praia.
Um parque imenso, que mistura feira de artesanato, antiguidades, mendigos bolivianos, cachorros para adoção, parquinho de diversões, baianas e seus quitutes, fruteiros, cantores de rua, malabaristas, enfermeiros que medem a pressão, floristas e mais várias outras coisas que se eu ficar aqui enumerando vou cansar a beleza do leitor e o texto não terminará.
Claro que um lugar com tamanha diversidade é o palco predileto de nove entre dez candidatos da cidade, ainda mais na reta final da eleição. No domingo em questão cruzamos com um arrastão do candidato do PT e pouco depois com outro ainda maior, da candidata do PCdoB. E essa politicagem é fonte de discórdia aqui em casa.
Eu, nostálgico dos tempos de militância socialista, adoro passar no meio da muvuca, ser assediado pela montanha de candidatos, me entupir de santinhos, adesivos e badulaques eleitoreiros.
Já minha esposa tem pelos cabos eleitorais o mesmo sentimento que nutre pelas moças que entregam propaganda nos sinais ou rapazes que entregam filipetas no centro: quanto menos papel, melhor. É o tempo todo um empurrando o carrinho das nenéns para longe do caminho do outro.
Só que a minha nostalgia – é aqui que entra a história do “meu tempo” – é injustificada. Aquela gente entregando papel nada tem a ver com o ambiente político dos meus 18 anos.
A primeira vez que fiz campanha foi para o Gabeira, em 1986, então candidato pelo PT ao governo do Rio e ainda uma pessoa de esquerda e progressista, bem diferente desse conservador abduzido dos dias atuais. Ainda vou contar aos meus netos o dia que a gente deu o “Abraço na Lagoa”, uma catarse coletiva às margens da Rodrigo de Freitas.
Política tinha a ver com paixão, crença, ideologia, entrega, esperança. A gente se envolvia porque acreditava que cada santinho distribuído era uma forma de tornar um mundo melhor, um jeito de transformar o Brasil, um passo a menos em busca de uma sociedade mais justa.
Esse tempo passou. Hoje quem encara o sol para entregar um papel e colar o adesivo no peito o faz em troca de uns R$ 30,00 e, com sorte, um sanduíche de presunto. Um dos meus heróis daquele tempo, que resistiu às mortes no Araguaia e às dores da tortura, acaba de sair da história pela porta dos fundos, réu confesso em um esquema de dinheiro sujo (me poupem de eufemismos e sofismas).
Era bom aquele tempo de sonhar.
O Brasil melhorou e a desigualdade encolheu, mas o sonho envelheceu e faleceu. Hoje, sobraram os panfleteiros profissionais, os candidatos arrivistas, os eleitores enfastiados e anestesiados, o Genoíno condenado. No fundo, minha mulher é que está certa: deve-se fugir dos santinhos eleitorais tanto quanto se foge dos papéis que prometem trazer a pessoa amada em três dias.
Ouça a sabedoria feminina, Walter. Quanto mais longe desta política atual melhor, como diria a lata de coca-cola zero. Aliás, o sabor de vanguarda da velha coca que bebíamos, usando jeans e gritando palavras de ordem contra os EUA.
Pelo menos nos livramos do Dirceu rsrsrsrs
JEFF
Aí vai o meu comentário baseado na experiência de mais de 20 anos morando na Alemanha; um país de pouco sol, pouco carnaval mas muita seriedade: É muito triste ver panfleteiros profissionais, mas mais triste ainda é ver a falta de profissionalidade na maioria dos políticos brasileiros! A paixao pela política talvez seja hoje uma utopia ou um luxo – nao importa, pois para se construir uma sociedade mais justa bastaria integridade, trabalho e continuidade. Cris.