Na segunda edição da coluna “Sabinadas”, o jornalista Fred Sabino mostra seu desencanto com o momento atual do futebol brasileiro.
Confesso que não compartilho uma visão tão pessimista, mas o texto suscita uma parada para reflexão. Vamos ao texto.
Não é um mero saudosismo besta. Mas é fato que ultimamente estão fazendo de tudo para expulsar os verdadeiros torcedores de futebol dos estádios. E estão conseguindo.
Nem vou me ater aqui ao que acontece nas quatro linhas, com a nossa péssima safra de treinadores, responsáveis por esquemas ultrapassados e defensivos, e os limitados jogadores, com raras exceções. O problema é muito mais sério.
Na verdade é um problema de pessoas, mesmo. Em todos os níveis, como abordou o Julio Gomes em ótimo texto na ESPN – aqui.
A começar, claro, pelos dirigentes, que se servem dos clubes sem pudores, fazendo deles cabides de emprego e formadores de rebanhos políticos com fins eleitorais. Com isso, os clubes de futebol hoje estão vazios, a figura tradicional do sócio quase não existe – talvez a única exceção seja o Internacional-RS, com um ótimo programa sócio-torcedor.
[N.do.E.: discordo ligeiramente do colunista, há outros clubes com bons programas de sócio.]
Lembro que quando era pequeno frequentava a Gávea e via de perto meus ídolos treinarem. Ídolos que permaneciam no clube por muito tempo e não saíam logo – esse, aliás, é um tema para outra coluna. Com o sócio cada vez mais afastado do clube e a saída rápida dos jogadores para o exterior, automaticamente não se cria mais a identificação do torcedor com o ídolo.
A reboque vem o problema das torcidas organizadas, que, desnecessário dizer, também afastam o torcedor comum do estádio. E essa cultura do ódio ao adversário, cada vez mais disseminada (sobretudo nas redes sociais), atinge níveis inaceitáveis, como o que vimos no último fim de semana no Couto Pereira. Uma menina que queria uma camisa de Lucas, do São Paulo, foi ameaçada por marginais da torcida do Coritiba.
Aí vem outro ponto inaceitável: a (falta de) atuação das autoridades. No episódio supracitado, nenhum policial agiu em defesa da menina. Simplesmente deixaram a coisa acontecer, claramente querendo evitar “sarna para se coçar”.
Cito ainda outro episódio que vi recentemente no qual, na entrada do Engenhão, um transeunte tentou “furar a fila” bem na frente de um policial, que nada fez. Quando questionado pelo grupo em que eu estava, o policial fingiu que não era com ele: “a culpa é de vocês, que o deixaram entrar”.
Pergunto então eu: e se tivéssemos tirado esse cidadão à força? Fatalmente seríamos presos, claro…
Dentro das quatro linhas, outro problema: a arbitragem. Impressionante como não há praticamente nenhum jogo em que não haja falhas dos profissionais que conduzem os jogos… Ops, peraí, eu disse profissionais?
Desculpem-me a falha, os nossos árbitros não são profissionais… As falhas são tão grosseiras e repetitivas que, sinceramente, não consigo mais saber se é incompetência ou má intenção – ou os dois juntos.
Então, ora bolas, de que vale ir a um estádio se há risco de ser agredido por marginais, se não posso usar a camisa do meu time na rua, se não temos mais ídolos de verdade, se meu clube está sendo lesado pelos dirigentes, se o árbitro pode prejudicar meu time (deliberadamente ou não), se um policial não coíbe comportamentos inadequados?
[N.do.E.: e olha que o colunista não cita a absurda proibição da cerveja nos estádios.]
Definitivamente, o que vejo hoje não é o futebol que eu aprendi a amar. Estamos retrocedendo a cada dia.
Principalmente enquanto sociedade.