Excepcionalmente nesta quarta feira, devido ao feriadão, a coluna “Sabinadas”, do jornalista Fred Sabino, toca em um ponto bastante sensível do jornalismo brasileiro: as diferenças de cobertura “in loco” e a partir da sede do veículo, entre outros.
Isto me lembra um entrevero que tive com um destes “jornalistas especializados” em automobilismo (o qual obviamente não cito o nome) pelo Twitter, que terminou com o mesmo recebendo a alcunha de “kicker” (chutador). Ao que parece, o apelido que dei pegou no meio automobilístico…
Mas vamos à aula dada pelo colunista.
Coberturas bem diferentes
A cobertura do automobilismo no Brasil é muito diferente da que é praticada pelos veículos europeus, tanto os impressos quanto os eletrônicos. Não podemos cair na tentação de dizer que aqui os veículos especializados não são confiáveis e lá são acima de qualquer suspeita.
Mas, com o tempo, pude filtrar em quem se pode confiar e, principalmente, quem faz uma cobertura mais técnica.
Este ponto, aliás, é fundamental nesta análise. O público brasileiro não tem o embasamento técnico do europeu. Afinal, nossa cobertura jornalística começou para valer em 1970, quando Emerson Fittipaldi estreou na Fórmula 1 – 20 anos após o começo da categoria (foto). Com uma cobertura de tanto tempo na Europa, o público pôde ser educado.
Todavia o leitor pode se perguntar, e com razão: como até hoje não somos educados tecnicamente?
É um tanto simples responder: como em outras modalidades, tirando o futebol, a cobertura dos jornais e da TV sempre foi focada nos brasileiros, sobretudo nas suas vitórias, e não na competição em si e seus meandros, salvo exceções. Isso continua até hoje.
O automobilismo é um esporte muito visto no Brasil, tem a sua parcela grande de apaixonados, mas os números estratosféricos vistos na época de Piquet e Senna foram turbinados pelos que queriam ver os brasileiros ganhando e não as corridas em si. De qualquer forma, ainda são números importantes. O automobilismo só perde em audiência para o futebol em TV e internet.
[N.do.E.: pessoalmente, não sou destes. Gosto do automobilismo enquanto esporte, independente de termos brasileiros ou não.]
Diga-se de passagem, com o surgimento da internet, vieram a reboque muitos sites especializados e uma nova geração de jornalistas. Só que esses sites (e a maioria dos jornais), até por uma evidente questão de custos, não realizam as coberturas da F-1 in loco e muitas vezes acabam reproduzindo o que sai na Europa.
Aí está a armadilha. Seja por cometerem erros de tradução ou por não vivenciarem o ambiente das corridas no exterior, alguns profissionais acabam não sabendo filtrar o que é certo ou errado, em qual informação se pode confiar e até mesmo qual é a análise mais precisa.
Quando a notícia contaminada vai ao ar, um abraço pro gaiteiro, como diz aquele apresentador popular.
Outro problema é uma prática que infelizmente acontece aqui por parte de alguns “redatores”. Consiste em pegar um contexto que se desenha, por exemplo, que um piloto X está em negociação com a equipe Y, e “cravar” a informação em seu veículo mesmo sem ter apurado tal notícia.
No fim, se o chute vai ao gol, o “profissional vaidoso” em seu veículo clama pelo “furo que deu”. Quando é a chamada “barriga” não se admite o erro… Ou seja, é mais um aspecto que não ajuda em nada a tal educação a que me referi no começo do texto.
Por isso, afirmo com a tranquilidade de quem já cobriu muitas corridas no Brasil e exterior que uma cobertura técnica, isenta e, principalmente precisa, é praticada na maioria das vezes pelos profissionais que estão nos autódromos, de preferência o ano todo.
[N.do.E.: percebi isso quando estive cobrindo a Stock Car este ano no Rio de Janeiro.]
No jornalismo, infelizmente as imprecisões acabam acontecendo, seja por apuração errada, vaidade do repórter ou por este querer “dar o furo” de qualquer forma. Mas, com o jornalista estando no local, a chance de isso acontecer é menor, pois o profissional aprende a filtrar o que se passa e a entender o lado técnico.
E nisso, por questões históricas e geográficas, ainda estamos muito defasados…