Em edição extra, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, fala sobre a recente impugnação – e substituição – do candidato à presidência do Flamengo Wallim Vasconcelos, além de dissertar sobre o clima de intolerância criado pelos apoiadores da chapa.
Tenho de concordar com o colunista, pois não apóio a chapa, tenho ressalvas sérias a alguns nomes e pontos de sua plataforma e venho sofrendo uma implacável patrulha ideológica por parte de seus apoiadores.
Lembro também ao leitor que, no Flamengo, a torcida não vota – e o perfil dos sócios do clube é bem diferente do que se encontra no torcedor médio. O sócio do Flamengo, em média, é muito elitizado.
Passemos ao texto.
Não sou muito ligado em Twitter, mas na noite que o Conselho Deliberativo do Flamengo votava a homologação das candidaturas à presidência do clube, fiquei acompanhando amigos e conhecidos que estavam tuitando direto da ante-sala da reunião, abastecendo a comunidade rubro-negra de informações em tempo real.
Logo que a candidatura de Wallim foi impugnada, a versão brasileira do #8N portenho explodiu em formato virtual. Uma revolta estridente, raivosa e inquisitória contra os que a ela não se somavam.
De repente, em meio a tantos flamenguistas irados, na minha Timeline aparece minha filha, adolescente de 15 anos, que mora em SP com a mãe, praguejando contra a vida. Eu pensei que ela tivesse brigado com a mãe ou o namorado, mas, surpresa máxima: ela era mais uma de tantos rubro-negros protestando contra a decisão dos conselheiros do clube.
E eu, que estive acompanhando de perto e até de dentro esse processo eleitoral rubro-negro, só aí tive a noção exata da dimensão que a chapa azul provocou na Nação. O casamento perfeito entre a esperança de cada coração flamenguista, o desejo incontido de atuar, intervir, de sonhar com um Flamengo melhor.
Um Flamengo que não seja só dos seus 10 mil sócios, mas que olhe e dialogue com os seus milhões de apaixonados, que mire uma transformação real, que refunde o clube sob novos pilares.
Esse sentimento, até então oculto em uma torcida que se limitava em torcer – e mais recentemente, em sofrer, foi libertado pela magnífica campanha da Chapa Azul, que deu a todos o direito de sonhar.
Eu imaginava que, passada a frustração com a impugnação do Wallim, logo as coisas voltariam ao normal e marcharíamos, unidos, até 03/12, quando se poderia – ou se poderá, melhor dizendo – transformar o sonho em realidade.
A frustração em si é altamente compreensível: Wallim fora o capitão dessa legião, o homem que tornou capaz a mobilização em torno desse ideal; era justo que fosse, ele próprio, o ungido. Não deu, paciência, que se vire a página.
Mas que antes de se virar, que se abra um parênteses: nada do que aconteceu no 8N rubro-negro foi surpresa ou orquestrado.
Desde o primeiro momento – e aqui falamos disso mais de uma vez em ocasiões anteriores – a elegibilidade do Wallim era algo controverso, digamos assim para simplificar. E que ele se lançou candidato ciente desses riscos, tanto assim que sempre enfatizou que sua candidatura era algo “de grupo” e que na hipótese do Conselho de Administração a invalidar, ele seria prontamente substituído. Como, aliás, aconteceu sem sustos ou sobressaltos.
Aliás, para o Wallim, para seus aliados e para o Flamengo em si, me arrisco a dizer que a emenda saiu melhor do que o soneto: Wallim seguirá sendo o comandante da aeronave, mas agora de forma profissionalizada e remunerada, como eu sempre defendi que as coisas deveriam ser no futebol. Os cargos políticos (campo em que o Wallim aparentava certo desconforto, como se viu por sua postura um tanto tímida nos debates) serão ocupados por aliados seus com mais bagagem no clube, mostrando um casamento interessante entre o ontem e o amanhã.
Portanto, tudo resolvido, certo?
Não, infelizmente.
Aí a culpa não é do Wallim ou do seu “sucessor”, Bandeira de Mello. A culpa é do clima sufocante que se cria ao seu redor, uma patrulha ideológica raivosa, intolerante e que se dedica a disseminar o ódio pelos contrários.
É quase que uma versão digital dos ‘Camisas Pardas’, prontos a agredir e perseguir em massa quem ousa pontuar um pensamento diferente ao fanatismo que passaram a nutrir, vejam só, por uma mera eleição de um clube.
Um amigo meu desenvolveu uma tese totalmente amalucada, mas interessante. Sustenta ele que tudo foi feito de caso pensado. Que a ideia sempre foi escolher um candidato com dúvidas estatutárias para que, ao final, quando ele fosse barrado, pudesse retornar, nos braços da torcida, para combater “a corja” que o impediu de concorrer.
Sua tese se escora no fato de que instantes após o anúncio da impugnação começaram a pipocar textos acusando a chapa de ter sido vítima de um “golpe”, divulgados de forma tão ágil e intensa que teriam de estar prontos antes da decisão.
É claro que isso é totalmente insano – até porque pelo Wallim eu boto minha mão no fogo quanto à sua lisura, integridade e firmeza de propósitos – mas o clima de secessão que os pitbulls virtuais propagam é de dar nojo.
A ideologia que disseminam é de uma nota só: os que estão com eles são os redentores; os que ousam criticá-los são os membros da “corja” e precisam arder no fogo do inferno.
Prometem, inclusive, uma passeata, sabe-se lá com que propósitos, quando a esta altura deveriam estar trabalhando com afinco para conquistar o voto dos sócios, nos menos de 30 dias que faltam para o dia D. Mas a campanha ficou em segundo plano: só sobrou espaço para xingamentos.
Eu estava louco para poder declarar, com orgulho, meu voto na chapa azul. Espero, aliás, poder fazê-lo em breve, porque tenho sempre a esperança de que a poeira abaixe e essa gente retome a serenidade.
Inclusive porque, em meio aquela gente intolerante, não há apenas jovenzinhos que nem idade para votar tem, como a minha filha que inspirou o artigo. A maioria é de gente mais velha, tem até a turma da terceira idade, com anos de serviços (e em alguns casos, péssimos serviços) prestados ao clube.
Vamos torcer para que todos entendam que só se constrói o novo com pluralidade, democracia, respeito às minorias, pregando a paz. Porque, a seguir no ritmo da intolerância, eu prefiro que me incluam fora dessa.
A promessa era de transformação. Mas, por enquanto, eu só vejo o futuro repetir o passado. Um museu de grandes novidades.
Esse texto diz exatamente o que penso. Sou favorável a chapa azul, porém longe de agir como patrulheira da moralidade e muito menos acho Wallim ou esta chapa os salvadores da Nação.
Claro que dentre todas as opções disponíveis, me parecem os melhores disparados, porém não acredito que irão fazer metade do que prometem e, nem só por não querer, mas porque os velhos caciques rubro-negros não deixarão.
Só espero que esta Nação furiosa, que marcha em apoio a chapa azul, não se cale diante de um carioqueta e um título esporádico da Copa do Brasil. É preciso permanecer atento e cobrar seja lá de quem vencer no dia 3, não pode simplesmente fechar os olhos, calar a boca ou os dedos.
Interessante notar que essa patrulha ideológica que o editor-chefe condena se aproxima muito da que faz os militantes do PT, esses bem quistos pelo mesmo editor-chefe (risos).
Afora isso, confesso que não vivenciei a atuação desta patrulha, pois deixei de usar o twitter e não tenho facebook. Por isso, talvez não consiga ter a mesma impressão. Compreendo a veemência desses torcedores, que estão se excedendo, nitidamente, por uma questão de desespero. Não conseguem mais admitir novos anos de martírio rubro-negro, com nosso adversários nos passando em títulos, em valor de marca, em patrocínios. Não suportam mais ver o Flamengo ser feito de piada nacional, ou de ver o clube nas páginas policiais, ou de ver crises e inadimplências contumazes no pagamento de vários tipos de compromissos, como tem acontecido de forma recorrente ao longo desses últimos anos (não só nesses terríveis anos da gestão Amorim, diga-se de passagem). É uma espécie de “estado de necessidade” do torcedor – na acepção jurídica do termo, que o colunista conhece.
Não nego que esses excessos não são positivos, mas por outro lado, fico contente que a torcida do Flamengo esteja reagindo de forma tão eloquente. Tomara que seja o começo de uma nova forma de torcer, menos letárgica em relação a questões tão importantes quanto o futuro e a política do clube. Se for assim, ser chamuscado pelas faíscas dessa “patrulha ideológica” pode ser um preço bem pequeno a pagar.
Saudações Rubro-Negras e que vença a Chapa Fla Campeão do Mundo.
Texto muito bom. Como ex-candidato que conversou politicamente com o pessoal da Chapa Azul, também sofro patrulha e até agressões verbais nas redes por ter me posicionado contra a indicação do Wallim. Afinal, eu mostrei que estava certo, porque o que apontava era a irresponsabilidade de jogar tudo num nome que, inevitavelmente, seria impugnado. E foi. Só quem não conhece o Flamengo para pensar que não seria. E esta turma, conquanto seja bem sucedida na vida empresarial, não entende nada de Flamengo.
Fora isso, gosto de muitas das propostas. Ideias que já defendíamos antes, e que as demais chapas de oposição também encamparam. Sobra como diferencial o nome de “notáveis” em áreas empresariais. O que me leva à seguinte preocupação:
O conceito de profissionalismo, pelo Estatuto, há que conviver com uma Diretoria amadora, certo? Sim, porque Presidente, VicePresidente Geral, VicesPresidentes de Departamentos etc. continuam a não ser remunerados. Se vão contratar profissionais para cada área do clube, então os nomes de destaque que anunciam com pompa agora serão, no clube, apenas figuras decorativas. Portanto, poderiam ser substituídos por qualquer um. Se vão efetivamente mandar em alguma coisa, então o modelo será tão amador quanto antes. Com um agravante.
Vamos considerar que estamos lidando com pessoas honestas, porque este é o pressuposto com que deve ser considerado qualquer pessoa. Se são honestos, são honestos para com o clube e igualmente honestos para com as empresas para as quais trabalham: honestidade não é um conceito seletivo. Uma das supostas vantagens que apresentam é que, com eles, o Flamengo abrirá oportunidades de negócios de alto nível com estas empresas, pesos pesados como Visa, Sky, Globo, Grupo EBX etc. Ora, em qualquer relação comercial, por melhor que seja, há sempre momentos de conflitos de interesse. Em casos de conflitos, para que lado vão pender os grandes executivos que pretendem colocar na Diretoria do Flamengo? Defenderão o clube que amam, ou as empresas que lhes pagam os salários? Como profissionais bem sucedidos e honestos que são, espera-se que defendam os interesses de suas empresas. Afinal, enquanto no Flamengo serão dirigentes amadores, em seus empregos pessoais têm obrigações profissionais a cumprir. Ou seja, neste cenário, ou o Flamengo abre mão de se relacionar com tais empresas, ou relaciona-se com alto risco de se prejudicar em casos de conflito de interesse. Ou seja, aquilo que apresentam como vantagem é justamente a maior desvantagem de contar com esta gente na Diretoria.
Compreendo a preocupação do Affonso mas, ainda que o pior cenário que ele imagina venha a se concretizar, a Chapa Azul prevalece sobre as demais por ser a que mais defende a ideia de profissionalização. Eu era cabo eleitoral da Revolução Rubro-Negra e, sinceramente, preferia ela à Chapa Azul, mas já que não foi possível, temos que nos apegar a quem mais próximo chega, ao menos no discurso, daquilo que entendemos ser o melhor para o Flamengo.
Quanto aos VPs, se eles cumprirem efetivamente o papel dentro de uma gestão profissional, ou seja, apenas traçar as premissas de atuação do corpo executivo, eventuais conflitos de interesse deverão ser tratados dentro dessas premissas, sem espaço para casuísmo. Além disso, por uma questão de ética, ao se verem envolvidos em conflitos com seus empregadores e o Flamengo, deveriam se afastar do caso e submeter a questão à presidência.
Se não houver esse tipo de comportamento, deverão ser cobrados por se distanciarem daquilo que estão pregando neste momento. Mas aí já serão outros quinhentos. Não acho que valha ficar sofrendo por antecipação ou fazer presunções negativas sobre quem nem teve oportunidade de começar a trabalhar. Para o momento, resta analisar as propostas e o perfil das pessoas e então decidir. E nessa balança, o fiel pende claramente a favor da Chapa Azul.
Ah, e uma última coisa: juridicamente, a decisão do Conselho de Administração foi absurda. Aliás, de jurídica não teve nada. Foi essencialmente política. O Estatuto, em momento algum, exige 5 anos de vida associativa imediatamente anterior ao registro da candidatura. Pede apenas os 5 anos que o Wallim possuía. Criaram um tipo de restrição à aplicação do Estatuto que o texto do diploma normativo não prevê. Um despropósito jurídico sem tamanho. E sobre a questão da anistia, permitir aos sócios inadimplentes o direito ao voto e, ao mesmo tempo, proibir o direito a ser votado é outro descalabro. Por sinal, manifestamente inconstitucional. Pior de tudo é que acabaram chancelando uma manobra política eleitoreira e das mais escusas possíveis dessa gestão atual.
Sonho meu!!! Como se deixam enganar fácil. Esquecem o passado ainda recente. Infelizmente no Brasil é assim. Prometem administração profissional, quem sabe um Fla SA (uniprivatizado claro, por elles), em troco de uma “dentatura” para cada sócio “desdentado”. O preço será caro para os “herdeiros da dívida” que eles mesmos fizeram no passado.
Pior não foi a impugnação do nome do Wallim. Foi a impugnação do nome do Landim.
Pior ainda o desrespeito ao Art 79 do Estatuto (os membros dos poderes que tiverem interesse diretos e indiretos não podem votar…
Mas o sonho continua. Confio nessas pessoas que são preparadas!
Agora nem falar que esse time não sabe nada do Flamengo a oposição pode falar. Já que o Eduardo Bandeira tem 34 anos de clube e frequenta sempre o conselho deliberativo.
Por um Flamengo melhor! A luta continua.
#Reage Flamengo