Nesta quinta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista Fred Sabino, faz uma análise dos sambas escolhidos pelas escolas de samba do Grupo Especial para o carnaval 2013.
Eu irei esperar o cd oficial sair para escrever minhas opiniões – até porque não ouvi as versões finais de todos os sambas ainda – mas nos próximos dias teremos dois posts do colunista Rafael Rafic comparando os sambas às suas sinopses.
Aproveito para registrar o meu protesto quanto às desnecessárias mudanças sofridas pelo samba da Portela (acima, a versão definitiva), que continua sensacional mas que, indubitavelmente, teve bastante do seu brilhantismo podado. Passemos ao texto.
Sambas melhores do que os enredos
Como prometi, segue a avaliação dos sambas-enredo para o próximo desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Admito que quando tomei conhecimento dos enredos, fiquei preocupado. Afinal, nos últimos anos vimos o começo de uma recuperação da qualidade dos sambas e temia por um empobrecimento das obras.
Mas, se o número de ótimos sambas ficou reduzido a dois, pelo menos não temos nenhum daqueles sambas horrorosos que tanto infestaram os desfiles nos últimos dez anos.
Os destaques absolutos da safra, mais uma vez, são Portela e Unidos de Vila Isabel. Os sambas das demais escolas variam entre bons e razoáveis. Como curiosidade o fato de Tinga e Wander Pires terem se destacado nas defesas dos sambas vencedores nas eliminatórias – até perdi a conta de quantas vezes eles cantam.
Preferi não dar notas, pois ainda gostaria de ouvir as versões do CD: sempre há modificações. Mas aqui segue a minha ordem de preferência em relação às obras que vão embalar as escolas em 2013.
Lembrando que é puramente uma preferência pessoal de alguém que curte o gênero samba-enredo e respeita imensamente os responsáveis por escrever e dar melodia à maior festa popular deste país.
1) PORTELA – Mais uma vez os compositores Wanderley Monteiro e Luiz Carlos Máximo presentearam os amantes do samba com uma obra envolvente e que não vai morrer na quarta-feira de Cinzas.
O refrão de cabeça, além da ótima sacada “Abre a roda, chegou Madureira”, tem um balanço irresistível. A receita do excelente samba de 2012, com algumas repetições curtas de versos, é feita com precisão ao longo da letra, que casa bem com a sinopse e facilita o canto do componente. E as variações melódicas também se mostram envolventes.
Eu prefiro a versão original das eliminatórias que o samba (desnecessariamente a meu ver) alterado e gravado na voz do ótimo cantor Gilsinho. Mas é o melhor samba de 2013. Por fim, torço para que Wanderley e Máximo continuem rompendo com os padrões e liderem um definitivo resgate do gênero samba-enredo enquanto música popular e não uma trilha perecível.
2) UNIDOS DE VILA ISABEL – A superparceria formada por Martinho da Vila, André Diniz e Arlindo Cruz, como se esperava, nadou de braçada nas eliminatórias e produziu um dos melhores sambas da safra.
A letra conta com precisão a proposta do enredo e tem momentos bem inspirados, como os versos “Agradeço a Deus por ver o dia raiar”, “A lua se ajeita, enfeita a procissão” e “A Vila vem plantar felicidade no amanhecer”. A melodia também é envolvente e gostosa de ouvir.
Resta saber como o samba ficará na gravação e no desfile com o estilo mais aguerrido e “vibrante” de Tinga em relação ao “romântico” de Wander Pires. Em 2010 o samba de Martinho sobre Noel Rosa foi bastante modificado e gostaria que isso não acontecesse.
3) IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – Fiquei decepcionado com a escolha do samba da tradicional e laureada escola de Ramos.
Calma! Não que o samba vencedor do Me Leva (vencedor recente de dois prêmios Estandarte de Ouro) e seus parceiros seja ruim: muito pelo contrário, melodia e letra são de grande qualidade. Aliás, a interpretação do jovem Thiago Britto na versão das eliminatórias foi extraordinária.
Mas a obra do Zé Katimba, que ficou pelo caminho, era daquelas para serem lembradas por muito tempo. De qualquer forma, como já vem sendo rotina, a GRESIL, que a meu ver tem a melhor ala de compositores da atualidade, terá uma obra muito competente na passarela.
Vamos ver se os problemas de desfile vistos nos últimos anos se repetirão. Tomara que não e a escola de Ramos faça uma apresentação digna de seus grandes momentos.
4) ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – Confesso que, enquanto mangueirense, fiquei inicialmente preocupado com o samba devido à escolha do enredo sobre Cuiabá.
Mas a obra de Lequinho e seus parceiros me deixou muito mais tranquilo para o desfile (risos). Embora o samba não esteja no nível dos dois anos anteriores, o resultado ficou bem positivo. O refrão de cabeça tem ótima pegada, com a teoricamente óbvia – mas bem-feita – rima entre Jequitibá (remetendo ao clássico samba “Jequitibá”) e Cuiabá.
A melodia também mescla essa pegada característica dos sambas mangueirenses com uma letra direta e de momentos inspirados. A Estação Primeira muito bem representada no desfile em samba. Tomara que o acabamento das alegorias, ponto fraco dos últimos desfiles, melhore com a verba generosa do governo local.
5) UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – Numa das eliminatórias mais disputadas do ano, o samba composto pelo Ginho e seus parceiros venceu.
A obra que contará a vida de Vinícius de Moraes é bastante correta e tem bons momentos, mas, como o enredo da agremiação insulana é um dos melhores do ano, esperava um pouquinho mais da letra e da melodia no geral. Mas, com a competência do Ito Melodia e a garra dos componentes, o samba deve crescer e a Ilha (uma escola pela qual tenho grande simpatia e sempre torço para ir bem) tem tudo para fazer um belo desfile.
6) ACADÊMICOS DO GRANDE RIO – O samba do Mingau e cia. também era o melhor das eliminatórias e vai representar bem a escola.
A obra me agradou principalmente na sua segunda parte, com letra e melodia superiores à da primeira. Como curiosidade, o curtíssimo refrão principal lembra a ideia daquele do Império Serrano de 1988 (“Dá cá o meu, dá cá, me dá o meu!/ O povo carioca quer aquilo que perdeu”).
O enredo foi outro que não me agradou, pois me pareceu panfletário demais. Mas vamos ver no desfile, já que a Grande Rio tem uma bela estrutura de carnaval e faz desfiles sólidos.
[N.do.E.: o samba a meu ver tem um problema sério que não é dele, vem da sinopse: os erros conceituais na definição de royalties.]
7) BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – É um samba no padrão Beija-Flor.
Ou seja, bem feito de letra, com boa melodia (na versão da eliminatória, vale exaltar, muito bem cantado por Tinga e Luizinho Andanças), mas que não causa lá uma grande emoção, até porque o enredo, para meu gosto, não combina com samba.
A não ser que Neguinho esteja num dia muito inspirado e a escola faça uma apresentação de impacto, o que nos últimos anos não aconteceu mesmo no desfile sobre Roberto Carlos, é um samba que vai render boas notas, mas não sei se vai cair no gosto popular.
Posso estar errado, claro, até porque não se pode duvidar de nada vindo da gigante Beija-Flor.
8) INOCENTES DE BELFORD ROXO – Depois da polêmica vitória no Acesso em 2012, a escola da Baixada chega ao Grupo Especial com um samba do Billy e parceiros, vencedores numa disputa com nada menos do que o campeoníssimo Cláudio Russo.
E a obra ficou muito interessante, com uma melodia agradável e letra correta sobre a Coreia do Sul. A escola tem a ingrata missão de abrir o desfile, vamos ver se o samba consegue funcionar com todo mundo ainda frio. Mas foi uma boa escolha e quero ver como vai ficar na voz do excelente cantor Wantuir no CD.
9) UNIDOS DA TIJUCA – O enredo sobre a Alemanha rendeu um samba que descreve bem o enredo, mas sem o impacto que se deseja para uma escola campeã.
Sinceramente, se eu fosse desfilante teria certa dificuldade para memorizar a letra. Na versão das eliminatórias, o Wander Pires deu aquela caprichada nas reverberações. Vamos ver como o samba vai se adaptar na voz do Bruno Ribas, que, costumam dizer por aí, tem um estilo parecido.
Mas esperava mais da Tijuca, tomara que o samba não se arraste no desfile.
10) ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Como vem sendo rotina no Salgueiro, é uma obra “pra cima”.
Só que, ao contrário dos últimos quatro anos, quando os sambas funcionaram muitíssimo bem (a ponto de renderem um título em 2009, vices em 2008 e 2012 e um potencial título em 2011), é uma obra que não me agradou tanto, apesar de o refrão principal ser daqueles “grudentos” e de fácil canto.
É que realmente prefiro sambas mais clássicos, sem versos como “se vacilar, cair na rede, vão criticar, o que é que tem?”, “tá na capa da revista”, “se você quer saber, espera” e “vida de celebridade é um vai e vem”.
De qualquer forma, o samba até que supera o enredo sobre fama e o Salgueiro, capitaneado pelo excepcional carnavalesco Renato Lage, obviamente vai fazer um desfile para brigar em cima apesar da péssima posição de desfile. Vamos ver como o samba e a escola se comportam.
11) MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – É uma análise parecida com a do Salgueiro.
Embora abaixo de obras anteriores da agremiação, o samba do Jefinho e seus parceiros era o melhor das eliminatórias e se mostra um tanto melhor que o enredo sobre o Rock in Rio.
Isso, apesar de também ter versos como “a minha popstar chegou rasgando o céu” e “na apoteose e nova edição, overdose de emoção”. A cabeça do samba e o refrão central são elogiáveis, mas será que o rock vai dar samba?
12) SÃO CLEMENTE – Mais uma vez a escola da Zona Sul aposta num samba leve e de letra simples para contar a história das novelas.
Samba, aliás, oriundo de uma junção, que ficou aceitável. Confesso que o enredo não me agrada, mas pelo menos ficou uma obra irreverente com a cara da São Clemente. Porém, tecnicamente fica devendo aos outros sambas da safra.
Gostei dos comentários, apesar de discordar de alguns pontos.
Parabéns…
Eu trocaria de posições entre a Ilha e a São Clemente sem pestanejar. De resto concordo com quase tudo.