O leitor deve ter notado que, ao contrário dos anos anteriores, não escrevi este ano o tradicional post em novembro com a avaliação da safra de sambas de enredo. Embora tivesse ouvido o cd com antecedência, os afazeres foram deixando para depois, para depois… E acabei não escrevendo.
Além disso, a safra do Grupo Especial não me animou muito a escrever, bem como esta sanha inquisitória sobre aqueles que colocaram alguns sambas para audição, sem download.
De qualquer forma, faço aqui uma ligeira avaliação, englobando tanto o Grupo Especial como a Série Ouro, que, aliás, voltou a se chamar Grupo de Acesso A. De antemão digo que, apesar de contar com 19 escolas, a safra deste último, em média, é bem superior – embora os dois grandes sambas inéditos do ano estejam no grupo principal.
Hoje começamos com o Especial e, no post de amanhã, os sambas do Acesso.
No Grupo Especial, os especialistas em samba, entre os quais não me incluo, costumam dizer que “bons enredos geram bons sambas”. Esta tendência se mostra clara e inequívoca: em um ano de enredos tenebrosos, os sambas também estão longe de serem considerados bons, de uma forma geral.
Mas, leitor: não culpe os compositores.
Fazer samba sobre a “Fama”, ou “Coréia do Sul”, ou ainda sobre a lei de royalties do petróleo, entre outros, é tarefa que nem Silas de Oliveira, Didi ou Candeia conseguiriam desempenhar a contento. Ainda mais com as sinopses bastante “engessadas” encontradas atualmente.
Isso também explica a superioridade da safra de sambas de 2012 em relação à de 2013 no Grupo Especial: o conjunto dos enredos.
Há duas claras exceções neste quadro: uma positiva e outra nem tanto.
O samba da Unidos de Vila Isabel, sobre as manifestações rurais do Brasil, apesar de uma sinopse que “puxa” bastante para o agronegócio empresarial, enfatizando bastante os (supostos) benefícios dos transgênicos. Ainda assim, saiu um sambaço, assinado pelos “galácticos” Andre Diniz, Martinho da Vila e Arlindo Cruz, samba voltado mais ao homem do campo.
Por outro lado, a União da Ilha escolheu uma composição sobre Vinícius de Moraes que, embora não seja exatamente ruim (em minha opinião, é chato), está bem aquém do que o enredo e a sinopse mereciam. Sem dúvida algumas as questões políticas que há alguns anos permeiam a escolha de samba da escola estão interferindo mais do que, a meu ver, deveriam.
Dito isso, minha avaliação – e a de quase todos os especialistas – é que, uma vez mais, Portela e Vila Isabel sobram na turma. As mudanças (desnecessárias) feitas no samba da Águia por seu presidente e seu intérprete pioraram a composição; mas ainda disputa em condição de igualdade com a Vila para o posto de melhor do carnaval.
Vale lembrar que são duas concepções antagônicas as representadas: de um lado os “artesãos” que não vivem de samba enredo e só escrevem para a Portela. Do outro um verdadeiro trio campeão de samba enredo, “profissional” no assunto. Entretanto, são duas grandes composições, e, como dizia o líder da abertura econômica chinesa Deng Xiaoping, “não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”. Traduzindo para o mundo do samba: sendo uma boa composição, a origem é o que menos importa.
E são duas grandes composições, dignas de entrarem nos anais das melhores de todos os tempos. Por uma grande felicidade, as duas escolas fecham os desfiles, uma em cada dia – a Portela domingo e a Vila Isabel na segunda feira.
Por outro lado, dos doze sambas do Especial pelo menos em sete se suspeita da presença das chamadas “firmas” de compositores do carnaval carioca. E olha que, vendo o quadro das escolhas, poderiam ter sido onze…
Os demais sambas do grupo ressentem-se de seus enredos e sinopses, uns um pouco melhores, outros nem tanto.
No primeiro grupo classificaria Salgueiro (que fez milagre com um enredo difícil e com uma sinopse que o mago Renato Lage, desta vez escrevendo sozinho, tornou confusa), a própria União da Ilha (em que pesem as ressalvas expostas acima), a Mangueira e sua composição genérica (serviria para quase qualquer enredo) e a Beija Flor.
Esta última tem uma passagem no samba que, pessoalmente, me incomoda, por evocar idéias de “raça pura”: “Acreditar… Que fui a raça escolhida! / Sou um puro sangue azul e branco / um acalanto… a mais sublime criação!” Eu sei que faz parte do enredo sobre o cavalo manga larga marchador, mas pessoalmente me incomoda – embora seja a meu ver um dos melhores da safra.
Também gosto muito da “marchinha safada” (como diria Fernando Pamplona) da Grande Rio, que lembra, com menor qualidade, os sambas do compositor Franco para a União da Ilha nas décadas de 80 e 90. O enredo é pesado, o samba se ressente disso, mas acho que pode funcionar.
Muita gente gosta do samba da Imperatriz: eu, pessoalmente, acho apenas razoável. Já Inocentes acho “pesado” para uma agremiação estreante no Olimpo do samba e que abre os desfiles.
Finalizo com os sambas que já estão no meu “skip” do MP3 player: São Clemente, Unidos da Tijuca e Mocidade. Esta última teve a chance de fazer um grande enredo sobre a história do rock, mas optou – por exigência do patrocinador – por algo institucional sobre o festival.
A Tijuca, uma vez mais, vem com um samba subordinado à proposta de seu carnavalesco, cujos trabalhos, em média, não geram bons sambas. Tal e qual Joãozinho Trinta, aliás. A composição da São Clemente é uma colcha de retalhos de novelas da Rede Globo, fruto de uma junção que, a meu juízo, ficou muito mal resolvida.
A propósito não deixa de ser curioso que a mesma escola que cantou “se esta onda pega, vá pegar em outro lugar”, ironizando o slogan da emissora de anos atrás, hoje faça um enredo enaltecendo a emissora. Revelador.
Finalizando com um comentário sobre o cd: a arte da capa poderia ser melhor elaborada.
Meu ranking seria:
- 1 – Portela
- 2 – Vila Isabel
- 3 – Beija Flor
- 4 – Grande Rio
- 5 – União da Ilha
- 6 – Salgueiro
- 7 – Mangueira
- 8 – Imperatriz
- 9 – Inocentes
- 10 – Mocidade
- 11 – Unidos da Tijuca
- 12 – São Clemente
Leitor, utilize a área de comentários para discordar ou colocar o seu ranking.
Gostei da análise e do ranking, faria apenas algumas alterações. Meu ranking seria:
1- Vila Isabel
2- Portela
3- Imperatriz
4- Salgueiro
5- Grande Rio
6- União da Ilha
7- Inocentes
8- Beija-Flor
9- Mangueira
10- São Clemente
11- Unidos da Tijuca
12- Mocidade
Preciso ouvi-los mais, mas o desânimo com o carnaval 2013 ainda não deixou. Por enquanto:
1) Vila Isabel
2) Portela
(tinha dúvidas sobre qual dois dois era melhor, até que mexeram no samba da Portela)
3) Imperatriz
4) Beija-Flor
(Longe dos dois primeiros, mas bem mais “inteiros” que o resto, para o meu gosto pessoal.
5) Salgueiro
(um milagre, dado o enredo e a sinopse)
6) Mangueira
(como dito, serve para qualquer enredo, mas tem uma melodia gostosa, vai dar muito certo)
7) União da Ilha
(certinho, mas também acho chato)
8) Mocidade
9) Grande Rio
(muito prejudicados pelos enredos)
10) Inocentes
(achei a letra um tanto prolixa)
11) Unidos da Tijuca
(os trechos alusivos à escola são lindos, mas o resto dá sono)
12) São Clemente
(até acho simpático, mas quando misturaram dois sambas, tiraram qualquer nexo da letra)
Discordo 63% desse ranking. Segue minha opinião:
1. Portela
2. Vila Isabel
3. Imperatriz
4. Unidos da Tijuca
5. Salgueiro
6. Beija-Flor
7. União da Ilha
8. Inocentes de Belford Roxo
9. Grande Rio
10. Mangueira
11. São Clemente
12. Mocidade
Quanto a relação entre os sambas e ouas sinopses, me reporto a minha Made in USA de outubro ou novembro sobre o assunto.
Meu ranking hoje;
1 Portela
2 Vila Isabel
3 Imperatriz
4 Grande Rio
5 Beija-flor
6 Mangueira
7 Tijuca
8 São Clemente
9 Inocentes
10 União da Ilha
11 Salgueiro
12 Mocidade
Rafic, esquecimento imperdoável, desculpe-me
Acontece. Estamos com trocentas coisas diferentes na cabeça, seja do trabalho, da família ou dos projetos paralelos. Abraços.
E amanhã tem minha estreia nessa nova fase do blog.
Discordo de todo o ranking do Migão e fiquei feliz com isso rsrsrsrs