Retomando os comentários sobre os sambas, falaremos da safra do grupo de Acesso.
Fruto da junção dos antigos Grupos de Acesso A e B e desfilando na sexta e no sábado de carnaval, a safra apresentada pelas 19 escolas deste grupo, em média, está acima da apresentada pelo grupo de cima (ver post de ontem).
Embora os dois melhores sambas inéditos deste ano estejam no Especial (já explico o porquê do “inéditos”), a quantidade de bons sambas é bem superior neste grupo.
Faço esta ressalva porque este grupo tem duas reedições, ambas da mesma escola (a Portela) e uma delas é simplesmente um dos maiores sambas de enredo da história do carnaval carioca.
A Tradição levará para a avenida simplesmente o clássico de 1981 da Águia, “Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor desta Noite”. Esta composição é considerada por muitos o maior samba de enredo da Portela – o que não é pouca coisa. Ainda que mal gravado no cd, é o melhor samba de enredo do carnaval carioca deste 2013.
Além disso, a União do Parque Curicica irá reeditar o samba de 1994 da mesma Portela, uma composição que em minha opinião é subvalorizada: “Quando o Samba era Samba”. Gosto muito deste samba, e inclusive deverei desfilar na escola unicamente devido a este fator.
A agremiação teve sua diretoria trocada há três meses e sua atual presidenta, Kátia Paz, era segunda porta bandeira da Portela e secretária do Presidente Nilo Figueiredo. Como não havia tempo para uma nova disputa de samba optou-se por esta reedição, que também homenageará, segundo a presidenta, os 90 anos da Portela – a se completarem em 2013.
Uma curiosidade: dos cinco dias de desfile na Marquês de Sapucaí este ano, somente na segunda feira de carnaval não teremos sambas da Portela passando na avenida. A Filhos da Águia, escola mirim, irá reeditar o samba de 1980 na terça feira.
Além das reedições, este grupo tem pelo menos dois sambas inéditos ótimos e outros três muito bons: Vila Santa Tereza e Império da Tijuca no primeiro caso e Império Serrano, Viradouro e Cubango no segundo.
A pequena Unidos de Vila Santa Tereza – que, ao contrário do que indica ao nome, fica no bairro de Rocha Miranda – tem aquele que, a meu ver, é o melhor samba inédito deste grupo. O fato de ter um enredo de temática afro ajuda, ainda mais quando da lavra do carnavalesco Guilherme Alexandre – ele é o autor de “Orun Ayé”, enredo do Boi da Ilha do Governador que gerou um dos sambas considerados clássicos deste século. Acima o leitor pode ouvir o samba da escola e comprovar o que estou dizendo.
O Império da Tijuca (acima, o áudio), também com enredo que resvala em temática africana (sobre as mulheres negras), é o outro destaque deste grupo entre os sambas inéditos.
Como diz o pessoal da Rádio Arquibancada, o Império Serrano ganhou o troféu “Leite de Pedra” deste ano: um enredo ruim que gerou um bom samba. O enredo “CEP” sobre a cidade de Caxambu ganhou uma composição muito acima do tema, inclusive com referências à dança do Caxambu e ao jongo em um dos refrões. É uma composição digna para embalar a sonhada volta da Serrinha ao Grupo Especial.
Por outro lado, o samba mais ousado do ano neste grupo é o da Unidos da Viradouro. Levando ao pé da letra o lema do Salgueiro, homenageado no enredo (“nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente”), a escola de Niterói ganhou uma composição que não tem refrões! O (curto) samba tem dois falsos refrões, que me geram bastante expectativa sobre como será seu rendimento na avenida, ainda mais sendo a última a desfilar.
No cd, é um samba estranho no início, mas que depois agrada a cada audição posterior. Aguardemos na Sapucaí.
O samba de sua co-irmã niteroiense Acadêmicos do Cubango é mais tradicional, mas também agradável. O mesmo pode se falar do samba da Caprichosos de Pilares, este a meu ver um pouco prejudicado pela linha mais “pesada” que ganhou o enredo sobre o fanatismo.
Outra escola que teve sua composição prejudicada pelas feições do enredo foi a Renascer de Jacarepaguá, que tem entre seus autores o leitor deste espaço e amigo Gabriel Carqueijo. O enredo não se decide se é sobre a cidade, o filme “Rio” ou sobre o tráfico de pássaros silvestres, e isso se reflete no samba – que, ainda assim, é bastante razoável.
Vale destacar também a composição da Acadêmicos de Santa Cruz, que embora seja apenas razoável é bem superior às apresentadas nos anos anteriores pela escola. Por outro lado, levando-se em conta a temática africana a Unidos de Padre Miguel possui um samba bem aquém do que seria esperado.
Já a Alegria da Zona Sul ganhou um samba animado, bem no espírito do enredo – o Cordão da Bola Preta. Como a escola será a antepenúltima a desfilar na sexta feira, será um bom “esquenta” para o desfile do bloco na manhã de sábado.
A Unidos do Porto da Pedra – que enfrenta sérios problemas internos – e Sereno de Campo Grande possuem composições que não se destacam, embora não sejam ruins exatamente. Nos dois casos, os enredos não ajudam muito.
A União de Jacarepaguá, que encomendou o samba (ou seja, não fez disputa), tem uma composição correta, mas abaixo do padrão habitual dos sambas do compositor Alexandre Valle, autor de hinos como 2004 (Rio de Janeiro) e 2009 (Paulinho da Viola). Justiça seja feita: o enredo “CEP” sobre a cidade de Vassouras não ajuda.
Contudo, abaixo do padrão do grupo, mesmo, estão os três “sambas homenagem”: Unidos do Jacarezinho (Jamelão), Estácio de Sá (Rildo Hora) e Paraíso do Tuiuti (Chico Anysio). Aliás, é de se perguntar o que houve com a Ala de Compositores da Estácio, reconhecida pela excelência, mas que depois das três reedições seguidas (2005/06/07) não levou para a avenida nenhum samba ao menos razoável.
Jamelão e Chico Anysio também mereciam composições melhores. O samba do Tuiuti sobre o comediante, melodicamente, me lembra muito o samba da própria agremiação do ano passado, sobre Clara Nunes. Não que seja plágio: é genérico.
Finalizo com o samba trash do grupo, que muita gente acha engraçadinho, mas que eu, em minha visão de leigo, acho apenas fraco: Acadêmicos da Rocinha e seu refrão “calórico”, digamos:
“Solta” um x-bacon, que frenesi!
Um sundae com castanha e chantilly
O fast-food é comida do povão
Tá duro, pede um podrão no seu João!”
A fronteira entre o irreverente e o trash é tênue, e a escola de São Conrado ultrapassou-a.
Meu ranking seria:
- 1 – Tradição
- 2 – Parque Curicica
- 3 – Vila Santa Tereza
- 4 – Império da Tijuca
- 5 – Império Serrano
- 6 – Viradouro
- 7 – Cubango
- 8 – Caprichosos
- 9 – Renascer
- 10 – Santa Cruz
- 11 – Padre Miguel
- 12 – Alegria
- 13 – Porto da Pedra
- 14 – União de Jacarepaguá
- 15 – Sereno
- 16 – Tuiuti
- 17 – Jacarezinho
- 18 – Estácio de Sá
- 19 – Rocinha
Lembro aos leitores que, aqui no Rio, o cd do Grupo de Acesso está sendo vendido desde ontem nas bancas de jornal, em uma iniciativa da Lierj e do jornal Meia Hora.
(Foto: G1)
Depois do que vi sábado, nunca o samba da Viradouro poderia estar abaixo do Samba do Império Serrano. E acho o da Caprichosos muito bom…
Como ainda não ouvi a contento os 19 sambas (não acho uma banca que já tenha o CD) não classificarei por ranking.
Apenas afirmo que, salvo surpresas na Sapucaí a Unidos de Vila Santa Tereza merece repetir o feito do Boi da Ilha com Orun-aye (de autoria do dono dos fins de semana do Ouro de tolo, Aloisio Villar) e ganha um Estandarte de Ouro de melhor samba em sua estreia no acesso.
Esse samba é bastante superior aos outros do grupo, até do insensado (mas nem tão bom assim) samba do Imperio da Tijuca.