Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, fala um pouco do panorama político do Brasil, em especial de PSDB e PT.
Pessoalmente, tenho duas observações a fazer. A primeira é que o PSDB precisa renovar seus quadros, por um lado, e por outro abandonar a posição mais à direita para tender mais ao centro, ainda que conservador. Defender as políticas dos Anos FHC de concentração de renda e desprezo pelos mais pobres só dificulta um projeto consistente de volta ao poder. Além disso uma eventual candidatura de Aécio Neves possui alguns limites que, me parece, são bastante complicados de se contornar.
O segundo ponto é que Lula, a meu ver, só volta a ser candidato a Presidente em um cenário de conflagração. Sua aposta em alguns novos nomes nestas últimas eleições deixou claro que, animal político que é, já está pensando nas eleições de 2018 e 2022. Um bom exemplo é o prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
Feitas de uma vez as “Notas do Editor”, vamos ao post.
O futuro do PSDB – e o outro lado
Fui convidado para escrever uma coluna em caráter excepcional para um outro blog e me foi enviada uma capa da revista “Isto É” com Aécio Neves e José Serra. A revista meio que queria saber o caminho que o PSDB deveria percorrer.
Achei que seria interessante dividir com os amigos do Ouro de Tolo até porque fala de um assunto que nunca escrevi aqui. Sim, já falei de política, mas nunca do PSDB, um dos maiores partidos políticos do país e mesmo não sendo da minha linhagem política não dá pra negar sua importância. Acrescento o que escrevi para o blog por encomenda com um outro lado: como o PT se prepararia para esse embate.
Acredito que essa revista tenha sido lançada antes das eleições municipais, onde José Serra foi derrotado por Fernando Haddad. Acredito que hoje não existam mais dúvidas, pelo menos não deveria.
Mas sabemos que Serra é teimoso, ele não deixará barato assim o status de número 1 do partido e lutará sempre pra manter o poder partidário em São Paulo. Contudo mas a lógica diz que está na hora desse poder mudar um pouco de lado e que a intransigência que o partido vem demonstrando ao longo dos últimos anos vem lhe prejudicando.
É fato que PT e PSDB são hoje os principais partidos políticos do país e, para horror de seus militantes, se parecem mais do que muita gente pode imaginar. Mas tem suas diferenças e nelas que vemos porque o PT acaba de completar 10 anos no poder – e provavelmente irá pelo menos para 16.
O PSDB, com Fernando Henrique Cardoso, começou as mudanças no país. Ainda no governo Itamar Franco, tendo FHC como Ministro da Fazenda foi criado o Plano Real que acabou com a inflação, estabilizou a economia e deu 8 anos de mandato presidencial ao partido.
Mas mesmo com esse feito o PSDB não conseguiu se manter no poder em 2002, por que?
Porque ao contrário do PT o PSDB nunca conseguiu se aproximar do povo, falar sua linguagem. O PSDB muitas vezes passa a imagem da burguesia paulistana e o resto do país torce o nariz para isso. O PT sempre foi mais acostumado com o povão, a falar sua língua e isso lhe trás grandes benefícios como o fato de mesmo surgindo escândalos novos a cada dia o partido, além de não ser ameaçado, crescer seu poderio.
[N.do.E.: vale lembrar que, em 2002, a taxa de desemprego estava em 16%, o salário real estava em seu nível mais baixo desde a redemocratização e, anualizada, a inflação chegou a 20% naquele ano.]
Desde a saída de FHC o PSDB não consegue ouvir “a voz rouca das ruas”. Quis sangrar Lula até a morte no escândalo do mensalão em 2005 e falhou: o político saiu como mártir. Em 2006, quando ele ainda cambaleava, tinha em José Serra líder nas pesquisas presidenciais e escolheu o desconhecido fora de São Paulo Geraldo Alckmim como candidato. Alckmim tem o carisma de um repolho cru e, mesmo com Lula em seu pior momento, foi derrotado – obtendo menos votos no segundo turno que no primeiro.
Em 2010 o PT veio com Dilma Roussef, completamente desconhecida da população e o PSDB teve a chance de escolher o governador de Minas Aécio Neves, provavelmente o político mais carismático do partido para candidato. Optou por José Serra. Escolheu Serra com quatro anos de atraso, depois dele largar prefeitura e governo do estado: evidente que não deu certo.
Agora surge a pergunta. José Serra ou Aécio Neves.
Tem que ver para qual lado o partido quer prosseguir. Sejamos sinceros: são remotíssimas as chances de Dilma perder uma reeleição. Seu governo tem grande aceitação popular, passa por menos problemas de corrupção que o ex-presidente Lula e ainda tem ao seu lado o fato que dificilmente governante no Brasil não se reelege.
Quem é o político mais forte do PSDB? Aécio, evidente. Ele naturalmente deveria ser o candidato a enfrentar Dilma, mas vale a pena desgastar o candidato com uma derrota? Em 2018 ele teria mais chances contra um candidato novo do PT.
Penso o seguinte. Ele vai perder, ele ou qualquer candidato do PSDB. Mas acho que o caminho é ele e o senador tem que ser o candidato do partido a presidente.
Como eu já disse ele é carismático, o político mais forte do partido, mas ainda não é conhecido nacionalmente. Seria interessante o PSDB apresentar Aécio Neves, o neto de Tancredo ao Brasil e quem sabe esperar que ele consiga uma boa votação. Acho difícil até haver segundo turno hoje em dia, mas quem sabe em 2014?
Ele, mais conhecido, pode nos quatro anos seguintes fazer um trabalho de massificação do seu nome. Junto ao PSDB ele tem que apresentar propostas concretas, ser a verdadeira oposição no país, coisa que o PSDB ainda não conseguiu ser nesses dez anos.
Oposição não tem que ser algo que atrapalhe, que acuse, que faça bravatas. Oposição fiscaliza e principalmente apresenta propostas alternativas à situação.
Mas principalmente. Aécio e o PSDB devem urgentemente criar laços com o povo. Acabou essa fase de oligarquias determinarem o futuro da nação. A classe C hoje tem tv de plasma, celular moderno e viaja ao exterior. Ela descobriu o que é bom e sabe o que precisa e não precisa fazer para que isso continue e evolua.
E o erro crucial: o povão está mais preocupado com comida na mesa que mensalão e julgamento no STF. As urnas de 2012 disseram isso. A classe C foi ao paraíso e ao poder e é com ela que o PSDB tem que negociar a partir de agora.
Sinceramente, não acho que consiga com Serra, Alckmim ou com qualquer outro candidato que nunca tenha se sujado comendo uma laranja ou jogado bola na vida. Vejo o futuro do partido passando por Aécio Neves, só tem que ver se o futuro do Brasil também passa por ele.
O outro lado
Para o PT as coisas são mais simples. Basta parar de se meter em confusões (coisa que vem sendo difícil nos últimos dez anos) e fatalmente reelegerá Dilma como presidente.
E cogitei uma coisa na noite em que escrevi a coluna que eu nem sabia que já existia um burburinho sobre isso. Lula vir como candidato ao governo de São Paulo em 2014 e tentar voltar a presidência em 2018.
Vários aspectos têm que ser levados em consideração. A saúde do ex-presidente é uma, sua idade a segunda. Ainda é relativamente jovem para um político, mas são conjecturas pra mais dez anos de uma pessoa que ainda luta contra o câncer (ele só é considerado realmente erradicado depois de cinco anos) e se o leitor paulista estaria disposto a elegê-lo.
Lula venceria facilmente hoje uma eleição para presidente, mas São Paulo sempre apresentou um “pé atrás” com ele. É um estado mais politizado, bastante conservador, de maior renda e sua população leva em consideração escândalos como os que lhe cercam. É um dos centros eleitorais do PSDB, o que já mostra uma certa oposição a Lula.
Perder essa eleição não seria bom para ele: seria seu fim político e para o PT.
Mas caso dê tudo certo seria o que o PT precisa para ficar ainda mais tempo no poder. Lula é carismático, tem uma história forte de vida e mesmo quem não aprova seu governo reconhece isso, além de grande carisma e aceitação popular.
Juntando tudo isso, quatro anos na frente do maior estado brasileiro com quatro anos de mídia e holofote Lula ficaria (mais) invencível em 2018. Se tudo corresse bem com sua saúde seria o presidente do bicentenário da independência para fechar sua carreira política com chave de ouro.
Como eu disse isso são conjecturas, nada oficial, ninguém sabe e Lula ou o PT querem isso, mas é uma situação plausível.
Resumindo o que penso. Se nada de extraordinário ocorrer 2014 já foi, Dilma fica e a eleição de 2014 na verdade decidirá 2018. O PSDB tentando fortalecer Aécio, o PT podendo usar essa possibilidade que acenei ou mesmo o PSB tentando popularizar o governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Mas isso tudo está muito longe ainda, por enquanto é só um exercício de futurologia. Que o tempo traga a resposta
Ainda retrospectiva 2012
Na última coluna falei de meu ano de 2012 e disse que foi um ano decepcionante: prometeu, não cumpriu e teve nada de extraordinário.
Enfim, “cuspi pro alto e acertei minha testa”. Nos últimos dias 2012 me prometeu algo que foi cumprido no dia 2 de janeiro. Serei pai novamente: minha filha Bia ganhará um irmão ou irmã.
Divido com vocês então essa alegria. Peço desculpas a 2012 e espero que o restante de 2013 seja como seu início. De alegria e belas surpresas.
Para todos nós.