No último domingo a Rede Record exibiu mais um documentário da série capitaneada pelo jornalista Marco Aurélio Mello, dono do excelente blog “DoLaDoDeLá”. Depois do “Diário da Cracolândia” e do episódio sobre os sem teto – ambos objeto de post neste Ouro de Tolo, desta vez o alvo do documentário foram os refugiados – políticos, religiosos ou mesmo econômicos – que vem tentar a sorte no Brasil.
Vale destacar que o formato, exibido dentro do programa “Domingo Espetacular”, é uma aposta ousada da Record em arena aberta. Disponibilizar cerca de 35 minutos (sem comerciais) em um domingo à noite sem falar de futilidades é algo louvável e que deve ser enaltecido. Ponto para a emissora.
“Perseguidos” mostra de forma didática os principais fluxos de refugiados do mundo para o Brasil e suas causas, mostrando também as ações de acolhimento e o aparente descaso do Governo brasileiro com o fato. Fruto de três meses de pesquisa e entrevistas, consegue oferecer um bom painel da situação.
Um dos grandes méritos do programa é mostrar de forma bastante didática as situações. A partir das histórias de personagens entrevistados, eram mostrados os países e as causas do êxodo.
Também é mostrada a diferença entre refugiados – que fogem por estar em risco de morte, sendo perseguidos por questões religiosas, políticas ou por guerras – e aqueles que optam em vir para o Brasil por questões de tragédias naturais ou crise econômica. Este último caso é tipicamente o haitiano, onde um grande afluxo de pessoas fugindo da crise causada pelo terremoto de 2010 se verificou. Também europeus fugindo da crise econômica, embora neste caso o documentário só toque muito de leve.
Parêntese: muitos destes refugiados econômicos trabalham nas obras voltadas à Copa do Mundo, com salários que, hoje, não atraem com facilidade brasileiros. Fecha o parêntese.
Como refugiados típicos os dois maiores contingentes hoje são o colombiano (fugindo da guerrilha) e os provenientes da República Democrática do Congo (guerra civil). Um dos depoimentos mais dramáticos é do colombiano que se negou a financiar a guerrilha e por isso foi torturado e teve a irmã assassinada. O relato do estupro que sofreu com um cabo de vassoura é um dos mais dramáticos do documentário.
Aliás, o documentário não deixa claro se a guerrilha que vitimou o entrevistado e outros é a FARC, de esquerda, ou a AUC, paramilitar de extrema direita. Esta última inclusive é muito maior e mais abrangente que a primeira. Ainda assim, manifesto aqui minha reprovação com as ligações de setores do PT com as FARC, não tão grandes nem financeiras como a revista Veja em seus delírios militantes afirma, mas que em um passado não tão remoto existiram.
Também são mostrados os passos para a obtenção do status de refugiado e as dificuldades enfrentadas. A maior delas é a demora na concessão deste status, o que dificulta a condição de procura de emprego e os sujeita a subempregos e à miséria. A recente anistia concedida pelo governo brasileiro melhorou um pouco a situação, mas há ainda muitos refugiados que, inclusive, não podem trabalhar por não terem o visto necessário.
São impressionantes os relatos da perseguição religiosa no Paquistão – com enforcamento de cristãos por muçulmanos – e o dos refugiados em locais como a Palestina e a Síria. Bem como o caso do ex-guarda presidencial na República Democrática do Congo que caiu em desgraça após o assassinato do então Presidente.
Outro grande fluxo é o de mulheres grávidas. Com o nascimento da criança no Brasil automaticamente a mãe ganha a nacionalidade, já que prevalece o “jus territorialis” (juristas, me corrijam se estiver errado o termo) e o bebê nascido aqui é brasileiro independente da nacionalidade dos pais.
Ganha destaque o trabalho de instituições como a Caritas e casas de acolhimento de refugiados, que prestam uma primeira assistência. Ainda assim, há muito o que ser feito. Até porque a postura do governo brasileiro tem sido muito a de não perseguir quem está irregular no Brasil, mas também o de não fazer muitos esforços a fim de regularizar a situação de todos os que precisam.
“Perseguidos” – que pode ser visto na íntegra no alto do post – é indispensável para se entender este problema pouco conhecido, mas sério. Segue com maestria a trilha abertapelos episódios anteriores.
O Crack no Esporte
No mesmo domingo vi programa no SporTv mostrando o crack no esporte, contando alguns casos e os esforços de reabilitação. Fugindo do padrão do canal de dar uma abordagem rasteira aos assuntos, é bom painel sobre o assunto.
Pode ser visto aqui neste link – infelizmente ao contrário da Record a Globo não permite “embutir” seus vídeos.
Excelente texto. Gostei também do fato de que você não fugiu de assuntos delicados. Apenas uma pequena correção, não é “jus territorialis” mas “jus soli”.
E a mãe de brasileiro não ganha automaticamente o direito de se naturalizar, mas apenas tem seu processo bastante facilitado com período de residência mínimo de 1 ano.
bom texto
Obrigado, Migão.
Você tem sido importante parceiro neste trincheira aberta por nós. Forte abraço, Marco.
Marco, é o mínimo que eu posso fazer. Até minha mulher, que não tem muito interesse neste tipo de assunto, viu e gostou.
Abração