Após um longo interregno, a coluna “Do Pouco um Tudo e Vice Versa”, da produtora cultural e jornalista Thaty Moura, retorna com um tema delicado, mas muito mais comum do que pensamos: o assédio moral.
Como a colunista, passei por uma situação semelhante no ano passado, que me levou a procurar ajuda psicológica. Chega em um determinado momento em que começamos a nos achar um lixo, nos considerar incapazes e desprezíveis, um estorvo. Sofri muito, a ponto de ter pelo menos três crises sérias de angústia que me levavam a pensar que minha morte seria um favor aos que me cercavam. Que fique claro: nunca pensei em suicídio.
No meu caso a troca de área na Cia. resolveu. Mas ainda estou me readaptando a uma série de coisas que são “normais” para todo mundo e para mim ainda são motivo de alegria… Enfim, vamos à coluna – e os leitores me perdoem o desabafo.
Sobre o Assédio Moral
Acho que essa vai ser a coluna mais difícil de escrever da vida.
Talvez por isso eu tenha me afundado no trabalho e demorado tanto para transportá-la ao papel. É difícil falar de assédio moral quando você já foi vítima de um, e a cada palavra que escreve rememora as sensações vividas durante o período que foi assediada.
Humilhar, oprimir, constranger, intimidar e afrontar são alguns dos objetivos do assédio moral. Geralmente praticado de maneira vertical e descendente (do chefe para o subordinado), essa conduta abusiva é mais comum do que o se imagina dentro das empresas (mesmo as de pequeno porte).
Você pode ser coagido por seu chefe numa empresa com 10 ou 1000 funcionários que o dano causado em seu estado emocional será o mesmo. Gritos e/ou palavras ofensivas, oras proferidas via e-mail ou frente aos colegas de trabalho caracterizam nitidamente a prática violenta que vai desestabilizar lentamente até o melhor dos funcionários.
Não se trata de não acreditar que está fazendo um bom trabalho, de não ter segurança de que é, de fato, um bom profissional. Trata-se de uma humilhação tão torpe que te toma o desejo de ver e estar com os outros, de desempenhar uma tarefa que outrora te satisfazia, uma humilhação que vai além do seu ambiente de trabalho e começa a te afundar dos outros e da sua própria produtividade. Não importa o que você faça ou o quanto você se esforce, seu agressor nunca estará satisfeito.
As consequências do assédio moral são devastadoras: você acredita que é um lixo, mesmo sabendo que aquilo não é verdade. Você se entrega e morre a cada violência. Mas infelizmente não há um manual de condutas que possa te livrar ou proteger disso. Depende exclusivamente da cabeça do outro, se esse outro não quer te assediar. Porque sim, o agressor faz isso de forma consciente. Não há inocência em nenhum processo de humilhação.
Gostaria de poder fornecer-lhes normas e dizer: faça isso, aquilo e aquilo outro caso esteja sofrendo assédio moral. Mas cada caso tem as suas particularidades. Depende do quanto você precisa daquele emprego, do quanto se sentirá forte para se jogar na busca por um novo trabalho, do quanto você está disposto a arriscar passar novamente por tudo isso, pois não há garantia que numa nova empresa você não sofrerá uma nova agressão.
Há ainda o fato da dúvida quanto ao processo e se você está disposto a reviver tudo que te aterrorizou e massacrou pelo período da agressão sob o julgamento de um juiz avaliando cada uma das suas feridas e mazelas. E foi ai que eu me acovardei.
Eu sofri, me feri gravemente, enfrentei e sai. Mas não levei um processo adiante, por três simples motivos: eu fui covarde por não querer reviver, eu fui covarde em não querer prejudicar alguém que não tinha envolvimento direto com o que estava sofrendo e não haverá dinheiro no mundo que me fará recuperar os sorrisos perdidos naqueles dias escuros.
Minha covardia não foi certa, não garantiu que isso não se repetirá com outrem. Mas nunca tive vocação pra mártir. Acho até que fui forte demais para enfrentar e dizer que bastava daquilo tudo. E foi ai que eu sai e virei a vida de pernas pro ar de novo.
O que posso dar de conselho ao leitor? Enfrentem!
Exponham o seu agressor, juntem provas e levem isso às últimas consequências. Afinal, as cicatrizes da agressão você irá levar de qualquer forma, mas não as some ao peso da sensação de não ter feito tudo o que devia. Assim as cicatrizes ainda vão latejar um pouco.
Saiba mais sobre assédio moral:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ass%C3%A9dio_moral
http://noticias.uol.com.br/empregos/dicas/assedio.jhtm
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/CartilhaMoral.pdf