Nesta quinta temos a segunda parte da coluna “Made in USA” sobre as eleições portelenses. Texto do Rafael Rafic.
Como o próprio colunista escreve, tendo em vista a minha eleição para o Conselho Fiscal da instituição meus posts sobre carnaval serão apenas os “institucionais”. As análises ficarão por conta do citado Rafic e dos colunistas Aloisio Villar e Fred Sabino. Por outro lado, estou bastante animado com as perspectivas portelenses para 2014 – acredito que a escola terá totais condições de colocar um carnaval muito competitivo na avenida.
Notícias de Oswaldo Cruz e Madureira (II)
Agora, a nova administração da Portela encontra um cenário de terra arrasada, não só figurativamente, já que pelos relatos o barracão da Portela na Cidade, não bastasse já estar sem luz e sem água, forçou a nova administração a começar seus trabalhos na quadra da Portela até a criação das condições de realojamento na Cidade do Samba.
Vejo agora que a situação da Portela pode ser resumida em uma figuração que inicialmente ouvi para justificar a vitória de Lula na eleição de 2003: estávamos em um deserto sem saída, com a única expectativa de morrer de inanição pouco tempo depois. Até que avistamos um buraco no chão, do qual não se tinha vista de seu fundo, mas via-se o que parecia ser um trampolim.
Então, sem qualquer outra esperança, decidimos cair no buraco esperando que o mesmo em seu fim tenha um trampolim que nos leve de novo a uma floresta cheia de vida. Porém não há qualquer certeza disto: tanto pode-se ter tal trampolim, como poderá haver espinhos; mas é a única esperança.
Como já disse na primeira parte, nem tudo são flores, nem a eleição desta chapa é a certeza de que a Portela voltará aos seus momentos de glória. Porém, diferentemente de 2004, sabemos exatamente quem é quem nessa chapa e a lista de serviços prestados à Portela por cada um deles. Logo, por mais que não se tenha qualquer certeza, a atual administração passa bastante confiança de que não irá decepcionar em seu trabalho.
O presidente Serginho Procópio em momento algum esconde a verdade dos portelenses e, por mais que sonhe e almeje com o fim do longuíssimo jejum de títulos da Portela, afirma que este carnaval será um carnaval de reconstrução – embora seu discurso na feijoada recente já tenha sido diferente.
Irei mais além: direi que o Carnaval de 2014, a princípio, será um carnaval ‘tampão’ para a Portela. Por conta de toda problemática política (necessária) da escola nesse ano e a eleição extremamente tardia, a nova administração está montando um time com o que sobrou de toda movimentação de profissionais após o carnaval desse ano, que foi especialmente frenética.
Dentro das possibilidades, gostei bastante do que foi anunciado até agora pela Portela. Sempre avaliando dentre as opções possíveis, as escolhas anunciadas até aqui foram corretíssimas.
Por exemplo, o novo carnavalesco Alexandre Louzada. Apesar de ter, pessoalmente, objeções, ao estilo do carnavalesco, admito que dentre os nomes ainda disponíveis ele era, de longe, o melhor. Tanto isso é verdade, que ele era o único profissional que poderia dizer que estava garantido na Portela, já que estava fechado com ambas as chapas.
Louzada sempre cria roupas lindas, mas extremamente pesadas e nem um pouco práticas para os desfilantes (que o diga o chapelão lindo que ele criou para a bateria da Mocidade em 2012, mas que impediu que os ritmistas tivessem contato visual com os diretores de bateria).
Para um ‘Mr. Bean’ como eu isso é um dilema (espero com bastante esperança que consiga meu lugar na harmonia para escapar dessa tortura), mas o portelense de modo geral está acostumado a vestir fantasias pesadas. Ele até gosta disso e reclama quando a fantasia é leve, como ocorreu em algumas alas neste ano (Migão é exceção). A qualidade estética do trabalho de Louzada é inegável: vide a queda de bom-gosto ocorrida na Beija-Flor desde que ele deixou a comissão de carnaval. A parte plástica da Portela estará em boas mãos.
Também foi divulgado o nome de Ghislaine Cavalcanti para a comissão de frente. Com passagens pela Beija-Flor de 97 a 2010, ela criou e inovou bastante no quesito: há até quem chama os anos 2000 de Era Ghislaine. Apenas com essa contratação a comissão de frente da Portela, sempre um ponto fraco nosso, já se tornará temida. Foi, literalmente, uma ressurreição de quesito.
Também já foi anunciado Wantuir como primeiro puxador para o Carnaval de 2014, tendo como apoios Rychah (mais conhecido como se chamava antigamente: Rixxa) e Rogerinho.
Particularmente tenho objeções aos três individualmente. Porém, caso não haja nenhum arroubo de vaidade pessoal e eles saibam trabalhar, vejo o trio com bons olhos, pois acredito que os três se complementem. Além do mais será um prazer enorme ouvir nesse momento de reconstrução da Portela o grande samba de 1995, última vez que a Portela desfilou para o título, em sua voz original (Rixxa, então na época, era o puxador daquele ano).
De qualquer forma, os portelenses sonham e esperam com a volta de D. Sebastião, quero dizer, de Gilsinho, para o microfone principal em 2015. A saudade de seu vozeirão será imensa. A fantástica Tabajara do Samba continuará brilhante como sempre esteve sob o comando do Mestre Nilo Sérgio.
Por fim, com o anúncio oficial após escrever estas linhas, o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira será uma aposta ousada: Diogo Fran e Danielle Nascimento. Não é um casal considerado de ponta, admita-se, mas dentro das possibilidades era a melhor, ainda mais se for pesado o fator da valorização da tradição portelense.
Para quem não está ligando o sobrenome, Danielle Nascimento é filha da grande Vilma Naascimento, o Cisne da Passarela, porta-bandeira histórica da Portela, e neta de ninguém menos do que Natal. Ela já teve passagem na Portela em 2009.
Já Diogo Fran, é o atual terceiro mestre-sala da Portela, há 3 anos defende com brilho o pavilhão da Acadêmicos da Rocinha e é sobrinho da fantástica passista, já citada na primeira parte da coluna, Nilce Fran. Lembro inclusive que, no carnaval deste ano, a Rocinha estava na avenida eu escrevi no twitter que estávamos vendo o futuro mestre-sala da Portela. Só que não imaginava que o futuro estivesse tão próximo.
Por hora no momento em que escrevo esses são os nomes já comentados. Alguns deles serão apresentados oficialmente na Feijoada da Família Portelense (na qual estarei) que ocorrerá depois de amanhã (escrevo ainda na 5ª feira, dia 30) e, por mais que nada tenha sido comentado, meu sentimento diz neste evento que também será apresentado o enredo que a Portela apresentará em 2014. Ou pelo menos, todos os movimentos indicam que esse anúncio virá [1].
Portanto peço ao editor que, se for o caso, atualize esta coluna com suas indefectíveis NEs quando de sua publicação.
O importante é que após anos de aflição, finalmente posso dizer que estou extremamente confiante com o futuro da Águia de Madureira e disposto a ajudar a nova administração no que eu puder.
P.S.: como já é de conhecimento público, Migão também foi eleito conselheiro fiscal da Portela e por isso não poderá mais falar sobre carnaval neste espaço. Assim eu, Aloísio Villar e Fred Sabino ficaremos responsáveis por essa parte no Ouro de Tolo. Por isso, esperem cada vez menos uma coluna “Made in USA” e cada vez uma “Made in Madureira City”.
(e-mail para o colunista: rafaelrafic@pedromigao.com.br)
[N.do.E.: 1 – o enredo foi anunciado e, como eu já sabia, será histórico sobre o Centro do Rio de Janeiro: “Rio, de mar a mar. Do Valongo à glória de São Sebastião”.]
Grande Rafic, sangue azul da nobreza!
Só discordo do otimismo todo quanto à contratação de Ghislaine Cavalcanti…
Mas vamos que vamos, torcendo pra que a nuvem negra se afaste de vez do Portelão!!!
Gabriel, lógico que muita coisa não se pode escrever, mas minha visão é mais otimista que a do colunista. Quanto à Ghislaine, a contratação dela está em um contexto que considero adequado.
abraços
Sim, sim… Acredito que, dentro do contexto, esteja adequada a contratação.
Como o próprio Rafic escreveu, também acredito que deixaremos de ter um quesito fraco. Mas não acho que seremos temidos neste quesito com a Ghislaine responsável por nossa CF.
VOA MINHA ÁGUIA!!!!!!!
Grande Gabriel,
Chega a ser com tristeza que escrevo sobre comissão de frente. É o único quesito que hoje eu gostaria de ver abolido do julgamento das Escolas de Samba.
Eu odeio essas comissões de frente coreografadas, cheias de modernidades e absolutamente nenhuma representatividade para o mundo do samba. Muito menos estou gostando da evolução do quesito.
Os trambolhos que nos vimos na avenida nesse ano foram o cúmulo e eu acho que deveria ser o ponto de partida para repensarmos o quesito. Até os 4 jurados, coreográfios e afins que adoram essas esquisitices, escreveram que a coisa passou do ponto.
Para mim, fazer comissão de frente, ainda mais para a Portela, é simplíssimo. É só pegar Monarco, Paulinho da Viola, Neide Santana, Tereza Cristina, Zilmar, Surica, Noca, David Correa, D. Dodô, Nilce Fran, Valci Pelé e Marisa Monte, coloca=los em fila, e uma roupa imponente e bonita, com cartola ou chapéu, e eles simplesmente apresentarem a escola para o público.
Porém, dentro do contexto atual de julgamento, se fizermos isso é ferro na hora, justamente porque os jurados são coreografos, não sambistas. Ou seja, desses 12 que eu citei, se eles conhecerem só a Marisa Monte já será muito.
E é justamente pensando nesses julgadores é que eu acho que a presença da Ghislaine transforma nossa comissão de frente. Ela tem a cabeça bem parecida com a deles e, até certo ponto, tem bom gosto (que alias, faltou na Beija-flor em 11, 12 e 13).
Assim, uma Portela, uma escola que é muito mais do que apenas uma comissão de frente ou um carnavalesco da moda, com um reforço desses em um dos seus poucos pontos fracos, passa a ser temida.