Na última semana, uma das notícias mais comentadas no meio virtual foi a onda de demissões empreendida pela Editora Abril na última semana, com o fim previsto de onze revistas do portfólio da editora – que foram anunciados ontem, mas escrevo este artigo antes. Entre elas, a revista Playboy. É medida que nos oferece uma série de análises.

Antes de mais nada, a revista Playboy, ícone de muitos moços da minha geração, sofreu com a concorrência da internet. Ao contrário do que ocorria quando era jovem, hoje se tem acesso a pornografia – sejam fotos sensuais, sejam vídeos explícitos, sejam relatos eróticos – a um clique do mouse. Não se precisa esperar a última edição da revista a fim de viajar em sonhos eróticos e muitas vezes solitários.

Outra questão, a meu ver, é o excessivo uso do programa Photoshop nas imagens. Acaba-se por emitir uma visão feminina que, muitas vezes, é irreproduzível na vida real. O que se expõe não é a capa da revista, mas sim uma idealização muitas vezes completamente dissociada na vida real. A moça da capa não é a moça da capa, mas sim uma espécie de “holograma” da pessoa – muitas vezes, bastante diferente.

Bom exemplo é o da chamada “Mulher Melancia”, cujas fotos na revista mostraram um corpo completamente diferente do real. A ponto de publicações dedicadas à vida das (sub) “celebridades” divulgarem fotos da Mulher Melancia “real” e da retratada pela revista. Realmente pareciam duas pessoas diferentes.

Aí entramos em outra seara e que pode explicar não somente o fim da Playboy como a própria crise da editora Abril: a credibilidade.

Se a Playboy passou a mostrar mulheres que somente existiam nas páginas da revista, o principal veículo da editora, a revista “Veja”, jogou sua credibilidade no lixo a partir do momento em que atirou às favas as regras do bom jornalismo para empreender uma campanha raivosa e francamente golpista contra o ex-Presidente Lula, a atual Presidenta Dilma e o PT em si.

A publicação passou a se utilizar de métodos bastante inusuais para difundir suas teses contra o governo e o PT. Desde matérias absolutamente descoladas da realidade até colocar os dois pés no Código Penal, com práticas como invadir quartos de hotel ou se aliar a bicheiros como Carlinhos Cachoeira a fim de repercutir suas escutas e práticas infratoras.

Evidentemente tais práticas se refletiram em perda de credibilidade e consequente redução da circulação. A partir do momento em que o bom jornalismo é jogado às favas e existem outras fontes de informação disponíveis, parece lógico que não somente a circulação irá cair como a atratividade aos investidores irá parecer menor. Quem irá colocar publicidade em um veículo editorial que se afasta da verdade? O Governo Federal? Mas este é caso para outro artigo.

A ponto do Senador Roberto Requião, do Paraná, divulgar o seguinte epíteto: “Veja. Não compre. Se comprar, não leia. Se ler, não acredite. Se acreditar, relinche…”

Na verdade, a meu ver estes vários “passaralhos” que vem ocorrendo em veículos da chamada “velha mídia” tem a ver com dois fatores. O primeiro eu expus acima. O segundo é o advento da internet.

Hoje em dia os veículos considerados como da “velha mídia” não detém mais o monopólio da informação. Além disso com a internet a informação passou a circular em muito maior velocidade, de forma que os jornais e revistas semanais acabam muitas vezes se tornando obsoletos ou atrasados.

Acaba se tornando um movimento duplo: falta de agilidade somada a proselitismo partidário acabam minando não somente a credibilidade como o público consumidor deste jornalismo considerado como “da velha mídia”. Com isso se sucedem os “passaralhos”, ou seja, demissões em massa na imprensa.

Sem pesquisar muito, recentemente tivemos “passaralhos” na Editora Abril, na Folha de São Paulo, no Estado de São Paulo, no jornal O Dia, também em “Valor Econômico” e na Rede Record. “A exceção da última, onde parece estar havendo um movimento de alinhamento à controladora, são todos casos onde os fatores expostos acima acabaram por tornar inviáveis a permanência das estruturas originais. Isso acaba se refletindo em perda de qualidade associada à redução de custos, o que acaba gerando um círculo vicioso: a qualidade cai, a audiência cai, então a estrutura se torna “grande”. Sobrevém demissões, a qualidade cai, a audiência cai, e la nave va…

Sem dúvida alguma a chamada mídia impressa precisa encontrar um caminho que a faça sobreviver neste novo quadro onde a rapidez trazida pela internet e a convivência de diversas formas de mídia acabam tornando mais estreito o seu campo de atuação. Além disso a “conversão” destes veículos a uma pregação político-partidária trouxe como consequência a perda de credibilidade, que é algo básico a uma empresa jornalística. E jornalismo sem credibilidade é jornalismo morto.

Voltando ao caso da Playboy, sem dúvida alguma caso se confirme o fechamento da revista será um réquiem a tempos históricos do erotismo. Mas tempos superados pela cada vez maior disponibilidade de acesso a produtos do chamado “mercado erótico”. Mas sem dúvida alguma este é outro mercado e outra história.

Até porque em termos de reputação “sair na Playboy” hoje não é mais um atestado de “gostosura”. Com o Photoshop…

4 Replies to “O (possível) fim da Playboy, sexo e jornalismo”

  1. A tese e texto são razoáveis. Mas é engraçado quando critica uma “pregação político partidária” que é executada justamente nesse blog…chega a ser risível.
    Aliás, é bem estranho quando visitei este blog outras vezes e vi comentários (meio absurdos) com gente assinando “revista VEJA”.

    Porra amigo, essa tática é mais velha do que eu…mas que é engraçado isso é. Continue.

    1. Meu caro, seu argumento é um sofisma. Este é um blog de opinião, ou seja, não tem compromisso com a imparcialidade – ao contrário de um órgão jornalístico. Além disso temos visões plurais trazidas pelos colunistas, sem censura.

      Quanto ao ítem dois, são comentários do blog antigo onde, ao que parece, os leitores indicavam o site do referido pasquim. sds

  2. Para que serve a Abril sem a Playboy?
    A questão é: a Playboy era uma revista que falava de sacanagem com algum charme e sutileza. Perdeu espaço e razão de ser numa editora em que VEJA faz sacanagem explícita, sem nenhuma sutileza.

Comments are closed.