Hoje a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, volta a falar da Majestade do Samba e faz um panorama da disputa de samba que se avizinha. Deixo claro que o texto reflete a opinião do colunista sobre o assunto.
Este ano, como faço parte da Diretoria, irei me abster de emitir opiniões aqui sobre a mesma. Farei apenas o já tradicional post de apresentação dos concorrentes no dia da final, quando irei – ou não – apontar minha preferência pessoal.
Alguns pitacos sobre a disputa de samba
Enquanto os surdos já estão sendo afinados para o início da disputa de samba-enredo na Portela no dia 10 de agosto, quero tecer algumas considerações sobre a mesma.
De início aviso que, conforme decidido na reunião da ala do dia 11/06 a mesma está fechada para compositores que já tenham concorrido na escola anteriormente, só aceitando novos componentes após aprovação e estágio de um ano.
Foi uma decisão polêmica, mas, pelo menos para este ano, está decidido. Me abstenho de comentar este ponto pois não tenho uma opinião formada. Como há bons argumentos dos dois lados, prefiro esperar o que irá ocorrer nesta temporada de disputa antes de emitir qualquer opinião.
Espero nesse ano poder aproveitar as eliminatórias portelenses, com uma grande safra de bons sambas, sem precisar desde o primeiro momento apoiar explicitamente um dos sambas só porque ele é muito melhor que os outros como ocorreu ano passado.
Principalmente, espero que a política passe longe da escolha do samba e caso ocorra de um samba se destacar no decorrer do concurso, que o mesmo não seja ameaçado pelo puro e simples jogo político que manchou as disputas portelenses nos últimos anos.
Até nas safras 2012 e 2013, quando o melhor samba venceu, só quem acompanhou de perto sabe as manobras que foram feitas nos bastidores tentando consagrar outros sambas. Quem não se lembra da interminável final do ano passado, que durou inacreditáveis nove horas?
Como o atual presidente foi um dos compositores mais injustiçados por essa situação, tenho grandes esperanças e certezas de que ele presidirá uma disputa perto da ideal.
Mesmo sabendo que toda a máquina gira com o objetivo de apenas um samba ser escolhido ao final, não importando os outros cortes, espero que a justiça seja feita em todos os cortes: desde a primeira eliminatória da chave azul até o último corte da semifinal.
Quero que os sambas sejam julgados por sua qualidade, não pelas amizades dos compositores, nem pelo dinheiro investido, muito menos pelo palco montado pela parceria.
Não nego que muitas vezes a escolha do cantor pode ajudar bastante um samba ou matá-lo de vez, ainda mais se forem sambas do menos nível. Mas normalmente a disparidade é tão grande que nem um Wander Pires consegue disfarçar a realidade.
Definitivamente não quero ver uma final na qual metade dos sambas chegou lá de forma a meu ver injusta. Alias, inacreditável, já que tinham falta de qualidade suficiente para cair no primeiro ou, no máximo, no 2° corte. No caso do ano passado, cito especificamente o samba de Marcos Glorioso, Gerson PM e Cia, puxado insuportavelmente pelo Nino do Milênio em ritmo sertanejo.
Enquanto isso, fui obrigado a ver um excelente samba do Edson Batista, que cresceu bastante durante a disputa, ser o único samba cortado da semifinal em detrimento ao samba citado acima.
Ainda posso citar aqui o corte do samba do profe… ops, do Naldo, o terceiro ou quarto melhor da disputa, ainda nas oitavas-de-final (apesar de que, todas as informações me levam a crer que este corte fora solicitado pelos próprios “apoiadores” do samba). Ou o precoce corte do samba de Celsinho de Andrade ainda na primeira eliminatória da chave branca apenas porque foi o único palco que não fora composto por nenhum puxador conhecido. Admito que não era sequer um bom samba, mas dentro do deserto da chave branca resistiria facilmente a mais 1 ou 2 cortes.
Enfim, são tempos passados.
Esse ponto ganha ainda mais importância quando é sabido que a única parte dos direitos autorais que a Portela reterá será aquela destinada aos finalistas perdedores, conforme foi anunciado pela nova diretoria.
A Portela também precisa tomar muito cuidado com as matérias veiculadas na imprensa especializada: percebo que a mesma vem sendo tendenciosa nas disputas, sempre em prol dos afamados como “sambas de escritório”. Só não sei dizer se isso ocorre inocentemente por mero costume dos sambas pasteurizados ou se há outros interesses.
Alias, estendo essa sugestão a todas as escolas, pois não é uma exclusividade portelense.
Por exemplo, mesmo não sendo jornalista, ano passado acompanhei toda a final ao lado da área reservada à imprensa. Fiquei espantado ao ver que mais de 80% dos “jornalistas” cantavam a plenos pulmões o samba do ops…, do Neyzinho do Cavaco, quando de sua apresentação.
Mais espantado fiquei quando do anuncio da vitória do samba de Wanderley, LC Máximo e Toninho, um verdadeiro clima de velório se instalou nessa área, com uma reclamação geral que a “Portela tinha cavado sua própria cova…”. Apenas três pessoas comemoram após o anúncio: além de mim, Anderson Baltar e Fabio Pavão, que faziam a ótima cobertura em conjunto da Rádio Arquibancada e da PortelaWeb.
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Apesar da Portela já ser uma das escolas mais baratas para se competir, o custo para se colocar um samba de forma competitiva ainda está bastante caro. Assim, sugiro algumas medidas que poderiam ser tomadas para baixar ainda mais o custo.
Inicialmente a nossa ala de compositores poderia proibir o uso pelas parcerias de qualquer tipo de adereço (mesmo que sejam as típicas bolas de encher), fantasia ou de grupo coreografado durante as disputas.
Nessa categoria já vi bizarrices, como a contratação da comissão de frente da Inocentes para fazer uma coreografia durante a execução do samba ou então um espantalho gigante vagando pela quadra. Também já vi coisas de excelente bom gosto, como um grupo de uns 50 dançarinos uniformizados que fizeram uma belíssima apresentação em uma semifinal.
Porém, nem uma coisa nem outra deveriam ocorrer, afinal apenas o samba precisa ser avaliado e irá para avenida junto a escola. A conta a ser paga pelas parceiras para produzirem esse “espetáculo” é gigantesca.
Também acredito que uma boa medida seria o enxugamento da disputa. Não precisamos de 12 ou 14 eliminatórias para saber qual é o melhor samba.
Em 2012 chegou a ser irritante ver durante 60 dias a “disputa por pontos corridos” (como bem sintetizou à época amigo que acompanhou a disputa) entre os sambas de LC Máximo e cia. e Neyzinho e cia. quando já estava claríssimo que a disputa ficara restrita aos dois. Para complicar, os dois sambas ainda ficaram um bom tempo se apresentando em semanas diferentes por conta da divisão das chaves.
Todos já estavam cansado, apenas querendo ouvir os favoritos em um número maior de passadas, para medi-los melhor. Porém isso nunca era possível porque os outros sambas não eram cortados (só caía um por semana).
Para piorar a situação, quando finalmente ficaram poucos sambas por chave e seria possível esse alongamento, uma junção precoce das chaves inchou novamente a disputa, reduzindo a quantidade de passadas. Os sambas só puderam ser ouvidos com maior duração já na semifinal, quando não havia mais muito tempo.
Por fim, outra sugestão seria a de acabar com as passagens apenas com o canto da torcida, que só ocorrem na final e não acrescentam em nada na competição, já que não é novidade que a maioria dessas torcidas não costuma ser freqüentadora assídua da escola.
Tendo em vista os pontos discutidos nesse último ponto, termino essa coluna propondo como uma simples sugestão a seguinte programação para o concurso de samba-enredo na nossa querida Portela:
10/08 (sábado) – apresentação de todos os sambas concorrentes com 2 passadas (1 com bateria e 1 sem bateria), classificando-se 16 sambas para a fase de chaves.
16/08 (6ª feira) – chave azul com 8 sambas. 2 passadas (1 sem e 1 com). 2 sambas cortados
18/08 (domingo) – chave branca com 8 sambas. 2 passadas (1 sem e 1 com). 2 sambas cortados
6/9 (sexta feira) – chave azul com 6 sambas. 3 passadas (1 sem e 2 com). 2 sambas cortados
08/09 (domingo) – chave branca com 6 sambas. 3 passadas (1 sem e 2 com). 2 sambas cortados.
20/09 (6ª feira) – chave azul com 4 sambas. 5 passadas (1 sem e 4 com). 1 samba cortado
22/09 (domingo) – chave branca com 4 sambas. 5 passadas (1 sem e 4 com). 1 samba cortado.
4/10 (6ª feira) – semifinal com os 6 sambas restantes em chave única. 15min de apresentação para cada samba (2 passadas sem bateria e resto com). 2 sambas cortados.
11/10 (6ª feira) – final com 4 sambas. 20 min de apresentação para cada samba (2 sem e o resto com).
Para quem acordou com preguiça,foi ótima leitura: só ler e assinar embaixo.
Luis, é gratificante ler isso vindo de alguém que eu sempre corro para ler os textos publicados (e no final sempre assinando embaixo).
E também desejo um ótimo trabalho no desafio que você aceitou na nossa Portela!
Só é preciso tomar um certo cuidado com essa afirmação categórica sobre o samba do Wanderlei e parceria no ano passado. Eu era um dos que, em alguns momentos, achava o samba do Neyzinho superior em letra e melodia. Eu sentia, nas 2 vezes em que fui na disputa ano passado, que as pessoas queriam enfiar goela a baixo no gosto das pessoas que o samba do Wanderley era melhor. Pra muita gente, não era.
Gosto é assim. Cada um tem o seu. E o samba do Wanderley não é essa unanimidade toda. É bonito ter 3 refrões, ser diferente… isso é lindo, mas é possível que outros sambas sejam lindos também. Ainda que sejam do professor ou do Global ou do escritório que for. Até porque ninguém é virgem ali naquele P… Portelão.
A INTERNET, infelizmente, tem viciado as disputas. Tanto quanto os churrasquinhos e as cervejadas na “comunidade”. Tem samba que é “unanimidade” na internet e vc vai na quadra e percebe que não é nada disso. (nesse caso não estou falando do samba do Wanderlei)
Que a disputa na Portela seja boa, justa e nos brinde com um belo samba!
Sobre o lance de brecar integrantes que nunca tenham participado da disputa anteriormente, também prefiro aguardar para me manifestar. Mas adianto que a disputa estará repleta de escritórios.
Gabriel,
Tudo se resume a opiniões e aceito a sua sem problemas. Porém, tenho total tranquilidade ao afirmar o que afirmei, principalmente sabendo de onde vinham os apoios aos outros sambas.
Os dois sambas tinham apoio de torcida comprada.
Os dois sambas tinham o apoio de verdadeiros Portelenses.
No fim, ficou evidente que o apoio dos verdadeiros portelenses era bem maior ao samba do Wanderlei e parceiros.
Mas quem lia na internet, principalmente no fórum EA ou facebook, tinha a sensação de ser um samba puramenete genuíno, sem torcida comprada, sem financiamento de ninguém e com o apoio de 100% dos portelenses… contra um samba intruso, vindo de fora, bancado com dinheiro de não sei de onde e que os Portelenses não gostavam…
Esse é o meu ponto. Jamais vou discordar da avalanche que esse samba provocou na Escola, mas tinha quem gostava de outro.
Também não estou dizendo que você afirmava o contrário, só aproveitei que vc tocou nesse ponto, pra lembrar desse “detalhe”.
Abs