O tema da coluna desta sexta feira do jornalista esportivo Fred Sabino é a renovação da seleção masculina de vôlei, visando aos Jogos Olímpicos de 2016.
A boa renovação da Seleção masculina de vôlei
No último domingo, a Seleção Brasileira masculina de vôlei acabou derrotada pela Rússia por 3 sets a 0 na decisão da Liga Mundial, em Mar del Plata (foto). A exemplo do que aconteceu na Olimpíada de Londres, no ano passado, o time comandado por Bernardinho não conseguiu neutralizar o grande poder ofensivo dos russos, com o gigante Muserskiy, o eficiente Pavolov e o provocativo Spiridonov.
Isso quer dizer que o processo de renovação da equipe, promovido por Bernardinho para este ciclo olímpico, possa ser considerado de antemão um fracasso? Não, de forma alguma. Explica-se.
Para começar, desde o Sul-Americano de 1989, disputado no próprio Brasil, uma mudança tão grande não acontecia no selecionado brasileiro. Na ocasião, Bebeto de Freitas trocou os excelentes, mas envelhecidos, Bernard, William, Xandó, entre outros, pelos ascendentes Maurício, Tande, Giovane e companhia. Agora, saíram definitivamente ídolos como Giba, Serginho, Rodrigão e Ricardinho e entraram os promissores Lucarelli, Isac, Lipe e Tiago Alves.
O primeiro título de expressão daquela geração só viria três anos depois, na Olimpíada de Barcelona, justamente na primeira final daquele time – diga-se de passagem uma gratíssima surpresa, pois esperava-se que o grupo dirigido por José Roberto Guimarães estourasse um pouco mais tarde. O renovado time de Bernardinho teve ótima campanha já na Liga Mundial deste ano e só foi vencido pela Rússia (duas vezes) e uma vez pela França – em jogo atípico.
Ou seja, em que pese não ter conquistado o título, o novo grupo logo na primeira competição demonstrou poder de fogo. William (o novo) foi bastante regular e demonstrou ser na pior das hipóteses um levantador à altura para rivalizar com Bruno Rezende. Wallace, que já havia estreado bem em Londres, entrando em alguns jogos, esteve brilhante na campanha e já pode ser considerado um atacante de respeito.
Mário Júnior, que já substituíra Serginho no Mundial de 2010, outra vez teve bom desempenho. Se não é à altura do extraordinário ex-líbero, ele manteve um padrão de ótima qualidade para a Seleção e certamente vai crescer ainda mais. E os novatos Lucarelli e Isac casaram bem com a camisa amarela. Precisam crescer, mas estão no caminho certo.
Isto posto, goste-se ou não de Bernardinho – conheço pessoas com restrições à difícil pessoa – não dá para negar que o treinador começou bem esse ciclo. Convocou os melhores da atualidade na Superliga e manteve a espinha dorsal que ele julgou correta. E sua postura após a derrota para a Rússia também foi certa. Não procurou desculpas, elogiou o time russo, que, de fato, vive melhor momento, e admitiu os erros do Brasil.
Que erros?
Como já escrevi acima, todo processo de renovação tem espinhos. Quando se troca um ou outro, normalmente o novato até cresce. Mas quando há vários calouros, há um processo de amadurecimento natural. Na decisão, sem dúvida faltou uma regularidade aos novos jogadores. No primeiro set, o Brasil chegou a abrir 5 a 0, até manteve o jogo equilibrado mas não conseguiu fechar. Daí nos dois sets seguintes, a equipe desandou – há de se destacar, claro, a atuação russa.
Além da regularidade, faltou ainda aquela carcaça de decisão aos jovens talentos brasileiros. É normal que se sinta o peso de uma final, mesmo quando se defende uma Seleção acostumada a decidir títulos importantes. São aqueles detalhes técnicos em lances que, por um eventual cochilo, nervosismo ou imaturidade, fazem toda a diferença para se ganhar ou perder uma partida decisiva.
Bernardinho sabe bem disso e certamente vai continuar dando quilometragem a essa rapaziada. É como aquele piloto de avião que precisa de muitas horas de voo até ficar na ponta dos cascos. E Isac, Lucarelli, Tiago Alves, Lipe, Mário Júnior e William vão atingir essas horas de voo que Dante, Murilo, Lucão Vissotto e Bruno Rezende já têm.
Dá para cravar aqui que essa nova geração vai ter uma sala cheia de troféus e medalhas como a anterior? Não, pois sabemos bem que muita água passa debaixo da ponte durante um ciclo olímpico e hoje, por exemplo, a Rússia está melhor. Mas esses jogadores têm tudo para manter o Brasil na briga pelo título em qualquer competição que disputar.
Bernardinho, como de costume, está trabalhando certo. Goste-se dele ou não.