Nesta sexta-feira, a coluna do jornalista esportivo Fred Sabino aborda as semifinais da Copa do Brasil, definidas na noite de ontem.
A imprevisível Copa do Brasil
Foram definidas nesta semana as semifinais de mais uma edição da Copa do Brasil. Clube mais vitorioso da história da competição, o Grêmio de Porto Alegre enfrentará o sólido time do Atlético Paranaense numa semifinal. Na outra, o Flamengo tentará aproveitar a maré positiva para derrotar o perigoso time do Goiás.
Como o Brasileirão de pontos corridos chegou ao décimo ano, a Copa do Brasil é o paraíso daqueles que defendem o mata-mata no futebol nacional – eu vejo pontos positivos em ambos e creio que as duas competições, no atual formato, podem coexistir, mas isso é tema para outra coluna.
E, nos últimos anos, essas semifinais são as que prometem mais não só aos torcedores dos clubes envolvidos como aos que só querem ver bons jogos e viver um pouquinho dessas emoções. Até porque dos quatro semifinalistas, três estão entre os cinco primeiros colocados no Campeonato Brasileiro deste ano – e o outro é o clube de maior torcida do país.
Os mais precipitados podem dizer aos quatro ventos que, pela tradição dos clubes, Grêmio e Flamengo decidirão o título. Mas camisa e tradição apenas não ganham títulos. Afinal, o Tricolor já perdeu um título para o Criciúma do então desconhecido técnico Luiz Felipe Scolari em 1991 e o Flamengo foi aniquilado pelo Santo André em casa, em 2004.
E, convenhamos, Atlético e Goiás têm mais tradição do que Criciúma e Santo André. O Furacão já foi campeão brasileiro e vice da Libertadores. Já o Goiás, embora tenha voltado da Segundona este ano, na última década teve participações muito boas no próprio Brasileirão, Sul-Americana e até Libertadores.
De qualquer forma, fazendo uma análise fria de como estão os quatro times e quais suas virtudes e deficiências, o Grêmio é o que reúne o melhor pacote. O elenco é mais encorpado, com boas opções no banco de reservas, e o clube é o de maior tradição do país em competições de mata-mata.
Pode não estar apresentando um futebol exuberante, até porque o técnico Renato Gaúcho anda, digamos, cauteloso na escalação da equipe. Tanto que não conseguiu marcar um gol sequer contra o combalido Corinthians. Mas foi lá e conquistou a classificação com ótima participação do goleiro Dida nos pênaltis.
O Atlético-PR, que no começo do Brasileirão era dado como um dos “rebaixáveis” (existe essa palavra?), cresceu demais sob o comando de Vágner Mancini e já mostrou que não é surpresa, mas sim uma realidade. Pesa contra o fato de provavelmente ter de jogar no Couto Pereira, que não é um alçapão como a Vila Capanema ou a própria Arena, que está em obras. Mas é também um time qualificado, senão não estaria tão bem no Brasileirão e na própria Copa do Brasil.
Nas quartas de final, o Furacão fez ótima partida contra o Internacional fora de casa e só não ganhou por causa de uma bobeada no finalzinho. Na volta, conseguiu segurar a pressão do Colorado e avançou com justiça.
O Goiás, que eliminou o Vasco (com interferência da arbitragem, diga-se de passagem), está numa toada parecida com a do Atlético. De um clube desacreditado a uma das sensações da temporada, o Esmeraldino atingiu um sólido nível graças ao trabalho de Enderson Moreira, que construiu um elenco bastante confiável. Porém, o Goiás terá o desfalque sério do atacante Walter, destaque do time, no primeiro jogo das semifinais.
Por fim, o Flamengo. Até este momento, o Rubro-Negro não conseguiu vencer nenhum dos outros três semifinalistas na temporada. Foram dois empates e duas derrotas. Mas tem como trunfo a força que emana do povo e o Maracanã. E o atacante Hernane está, a exemplo de Walter, num momento inspiradíssimo. Existe também aquela máxima de que “deixou o Flamengo chegar…” Será?
O confronto contra o Botafogo mostrou um grupo cada vez mais confiante, a ponto de sufocar um adversário tido como superior tecnicamente. Além disso, a torcida comprou o barulho do time e do técnico Jayme de Almeida.
Mas, independentemente do campeão, a Copa do Brasil deste ano já ficará marcada como uma das poucas emoções que o torcedor brasileiro verá neste fim de temporada. Com o campeão e G4 do Brasileirão praticamente definidos, sobra essa tal imprevisibilidade que a Copa do Brasil sempre apresenta.
Uma imprevisibilidade que ocorre pelo tamanho continental que este país têm, a ponto de termos em campo quatro clubes de quatro estados diferentes (e três regiões diferentes) com chances de um título nacional.
Tomara que essa imprevisibilidade dentro de campo se torne uma previsibilidade fora das quatro linhas, para que os clubes sejam mais organizados e para que o torcedor brasileiro seja definitivamente tratado como merece.
Mesmo com todos os desmandos que vimos diariamente, ele ainda está lá, firme, torcendo pelo seu time, pronto a extravasar em emoções na conquista de um título.
Que vença o melhor!