Nesta sexta feira a coluna do jornalista Fred Sabino nos fala do carnavalesco Fernando Pamplona (foto), que nos deixou no último domingo.

Fernando Pamplona, 1926-2013

No último domingo, o Carnaval brasileiro perdeu um de seus nomes mais importantes, com o falecimento de Fernando Augusto da Silveira Pamplona, aos 87 anos, no Rio de Janeiro.

Pamplona deu uma enorme contribuição para os desfiles das escolas de samba se transformarem num dos maiores espetáculos da Terra. Formado na Escola de Belas Artes, ele chegou ao Carnaval em 1959, vejam só, como jurado!

Naquele desfile, apenas o Acadêmicos do Salgueiro chamou realmente a atenção de Pamplona, com um enredo sobre Debret. Para o ano seguinte, ele foi convidado para realizar o desfile salgueirense. Ele aceitou, com uma condição: que o enredo fosse sobre Zumbi dos Palmares. Era a temática negra, enfim, chegando ao Carnaval.

Era também o primeiro personagem não-oficial da história brasileira a ser retratado NE um desfile. Saíram as roupas luxuosas e entraram os figurinos que remetiam à cultura africana. No fim, o Salgueiro ficou em terceiro, atrás de Portela e Mangueira, mas uma punição às duas agremiações rendeu uma confusão, pancadaria generalizada e quíntuplo empate. Assim, o Salgueiro era campeão.

Nos anos seguintes, a nova estética e os temas tipicamente brasileiros solidificaram o Salgueiro como uma das grandes agremiações do Carnaval, lançando tendência nos desfiles. Naquela época, seu grande parceiro na concepção dos carnavais salgueirenses era o extraordinário Arlindo Rodrigues.

Entre os vários enredos que marcaram época, além de Quilombo dos Palmares, estiveram Chica da Silva, Chico-Rei, Festa para um Rei Negro, Dona Beija – Feiticeira de Araxá e Bahia de Todos os Deuses. Foram quatro títulos e três vices, sempre pelo Salgueiro, escola única de Pamplona como carnavalesco.

Mesmo sendo salgueirense de quatro costados, Pamplona foi o primeiro a promover uma homenagem a uma escola de samba concorrente… Em 1972, o Salgueiro entrou na avenida com o enredo Minha madrinha, Mangueira querida. Na época, a ideia não foi tão bem aceita assim pela comunidade, mas ainda assim ficou marcada na história.

Marcada na história também foi uma frase dita por alguém que trabalhava de graça no Salgueiro e não dispunha dos enormes recursos que as agremiações têm hoje: “Tem de se tirar da cabeça aquilo que não se tem do bolso”. Mais Pamplona, impossível.

Outra faceta de Pamplona foi a de ser um contribuinte de peso para o Império Serrano, com ideias para enredos como ‘Bum bum Paticumbum Prugurundum’, ‘Mãe, Baiana Mãe’, ‘Foi Malandro, é’ e ‘Com a boca no mundo, quem não se comunica se trumbica’, todos desenvolvidos por seus aprendizes.

Sim, aprendizes. Nomes que começaram a trajetória no Carnaval também no Salgueiro e depois desfilaram o talento em outras escolas. Para citar alguns: Maria Augusta, Max Lopes, Rosa Magalhães, Renato Lage e seu discípulo preferido: Joãozinho Trinta.

Pamplona também deu sua contribuição como comentarista de televisão nos desfiles durante as décadas de 80 e 90, na TVE, e, principalmente, na Manchete.

Quando comecei a acompanhar o Carnaval, achava um barato quando o Pamplona criticava com veemência a descaracterização dos sambas-enredos, que se transformavam em “marchinhas sem-vergonha” como ele dizia.

É claro que na época eu não entendia muita coisa. Mas aos poucos fui passando a compreender como funcionava aquilo tudo e posso dizer que Pamplona, com seus comentários diretos, didáticos e, porque não dizer, ácidos, me ajudou a gostar de Carnaval.

Pamplona deixa um enorme legado. Não só o de ter revolucionado a concepção dos desfiles. Mas de ter defendido até o fim que, apesar da importância da estética em um desfile, acima de tudo trata-se de um desfile de escola de SAMBA, em caixa alta mesmo.

Também em caixa alta, deixo em meu nome e do Migão o agradecimento de todos os que amam o Carnaval.

OBRIGADO, PAMPLONA!

Links:

Pamplona comentando o desfile da Mangueira de 1990 e se desesperando com os problemas da escola
http://www.youtube.com/watch?v=mMtgUSgkK-w

Homenagem do Salgueiro a Fernando Pamplona, em 1986
http://www.youtube.com/watch?v=9MXL4F4uI5g

Pamplona chamando o samba da Ilha de 1989 de marchinha
http://www.youtube.com/watch?v=XVvsz7X8IzM

Pamplona eufórico com o povo descobrindo o Cristo Mendigo da Beija-Flor, no desfile das campeãs de 1989

Entrevista de Fernando Pamplona a Caio Barbosa, de O Dia, em 2013 – http://odia.ig.com.br/portal/o-dia-na-folia/fernando-pamplona-sou-vagabundo-eu-t%C3%B4-a%C3%AD-1.536127