Nesta quinta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, comenta o anúncio da ida de Felipe Massa para a Williams na próxima temporada da Fórmula 1.
O novo desafio de Felipe Massa na Williams
Finalmente foi confirmada nesta semana a transferência de Felipe Massa para a Williams. Serão dois anos de contrato, com opção de renovação por mais um. O piloto brasileiro terá como companheiro de equipe o promissor finlandês Valteri Bottas, que, apesar das limitações do carro, vem fazendo uma temporada bem consistente e sem erros, ofuscando o outrora badalado Pastor Maldonado, este de saída do time após dizer com todas as letras que preferia voltar para casa se tivesse de guiar outra vez um carro ruim.
Como escrevi no parágrafo anterior, o carro da Williams na temporada deste ano é um desastre absoluto. Aliás, para falar o Português claro, a temporada da equipe é um desastre absoluto. O único ponto do time foi conseguido por Maldonado no GP da Hungria, prova em que normalmente os carros são nivelados por baixo. Em classificação, Bottas obteve um terceiro lugar no Canadá, mas sob chuva.
Os anos anteriores também não chegaram aos pés do que uma equipe nove vezes campeã mundial deveria fazer. A única vitória nos últimos nove anos, em 2012, foi de Maldonado no GP da Espanha, onde inexplicavelmente o carro esteve fantástico, e, mais inexplicavelmente ainda, Maldonado não apenas foi muito rápido, mas passou o fim de semana sem cometer erro algum.
Para a torcida brasileira, exceção feita ao tricampeonato de Nelson Piquet em 1987, todas as demais passagens de brasileiros por lá não deixaram saudades: por um motivo ou outro, Ayrton Senna (foto), Antonio Pizzonia, Rubens Barrichello e Bruno Senna deixaram a Fórmula 1 após correrem pela equipe.
O leitor pode, com razão, estar se perguntando: então quer dizer que Felipe Massa está dando o empurrão que faltava para sua decadência na Fórmula 1? Não é bem assim, e, de um cenário catastrófico, até que pode sair uma boa surpresa.
Isso porque, como já escrevi aqui no Ouro de Tolo na semana passada, o regulamento da categoria vai sofrer uma grande modificação em 2014. Os motores aspirados de oito cilindros darão lugar a novos propulsores turbo de quatro cilindros, e os carros estão sendo projetados do zero.
É aí que a coisa pode ser boa para Felipe Massa. Como todas as equipes estão recomeçando tudo de novo num regulamento técnico radicalmente diferente, zebras podem acontecer. Lembram-se da Brawn de 2009? Lembram-se como Ferrari e McLaren se deram mal naquele ano?
É lógico que as atuais equipes de ponta, como as duas citadas há pouco, além de Red Bull, Lotus e Mercedes, tendem a conseguir bons carros por terem boas estruturas. Mas sempre que se muda regulamento, acabam saindo projetos muito certos ou muito errados.
Nesse cenário, a Williams passa por uma reestruturação. Pat Symonds, que participou do famoso Cingapuragate (quando Nelsinho Piquet foi coagido a bater de propósito para beneficiar Fernando Alonso, seu colega de Renault) está reorganizando o corpo técnico. Apesar da mancha na carreira, Symonds também foi fundamental para estruturar a Benetton campeã com Michael Schumacher e a Renault campeã com Alonso.
O motor da tradicional equipe será o Mercedes, considerado o melhor entre os novos propulsores turbo. Melhor não apenas em potência, mas, ao que consta, também em relação ao consumo, um ponto fundamental na nova Fórmula 1 com restrições ao gasto de combustível.
O próprio Massa considerou estes pontos como fundamentais para assinar com a Williams. O brasileiro, diga-se de passagem, teve propostas concretas também de Lotus, Force India e Sauber, além de uma sondagem inicial da McLaren.
Imagino ainda que essa mudança de ares fará bem ao brasileiro. Passar anos na Ferrari e aguentar diversas situações políticas desagradáveis já estava demais – penso, aliás, que Felipe poderia até ter saído antes do time. Sem essas pressões, Massa poderá usar sua experiência de dez temporadas para comandar o processo de renovação da escuderia.
Por outro lado, Felipe precisará mostrar mais consistência, pois este foi seu ponto fraco nos últimos anos. Em alguns fins de semana, ele mostrou potencial excelente e superou Fernando Alonso em classificações e até em corridas, enquanto em outros ficou bastante longe e até sofreu acidentes – não sempre por culpa dele, é bom que se diga também.
É óbvio que o novo desafio não vai ser nada fácil, e que a Williams vai precisar acertar o novo projeto para que Massa consiga desenvolver esse processo. Mas vai que sai alguma coisa boa desse casamento entre Massa e a Williams?
Aguardemos.