Ia começar a série de posts esportivos sobre os Estados Unidos e New York pela NBA, seguindo a ordem pela qual assisti aos eventos, mas decidi começar pela NFL, a liga de futebol americano. No decorrer do texto explico o porquê.
Ao contrário das partidas do New York Knicks e do New York Rangers, que foram no Madison Square Garden – praticamente ao lado do hotel onde fiquei – o NY Giants joga suas partidas no moderníssimo MetLife Stadium, que fica em New Jersey. Embora já seja até outro estado, a distância entre o hotel e o estádio é de cerca de 15 quilômetros, menos que, por exemplo, do Centro do Rio a onde moro.
Existe um sistema de ônibus que leva de Manhattan ao MetLife, mas optei por contratar um “transfer” devido ao fato de não conhecer o lugar. Não foi exatamente barato, mas recomendo àqueles que vão pela primeira vez ao estádio.Saí do hotel um pouco depois das 10 da manhã, para o jogo que seria às 13 horas locais. Curiosamente vimos um grupo de presos sendo transportado para o camburão durante o percurso: todos algemados e em fila – enquanto os policiais riam da situação.
Cheguei por volta das 11 horas e, como havia comprado meus ingressos diretamente no clube (via Ticketmaster), tive de ir à bilheteria trocar o voucher pelos bilhetes. Aí se começa a perceber a diferença no tratamento ao cliente: por algum motivo a máquina não reconheceu o cartão de crédito que havia utilizado para fazer a compra, mas bastou uma consulta da bilheteira a seu superior (assim me pareceu) para a impressão dos tickets. Aqui no Brasil seria dor de cabeça na certa.Algo bem interessante ainda na parte externa do estádio é a “tailgate” – literalmente, “festa da porta traseira” (acima). Os torcedores chegam bem cedo ao estádio, abrem mesas, isopores e churrasqueiras e ficam comendo e bebendo enquanto o jogo não começa. Tanto que o estádio em si só enche faltando dez minutos antes do jogo começar.
Acabei entrando cedo devido ao frio e especialmente ao vento inclemente sobre o local. Tanto que sequer fui às comodidades existentes tanto na parte interna do estádio – embora tenha fotografado – como na área de entretenimento existente no primeiro andar, onde ficam a megastore e mais algumas estruturas de bares e restaurantes.
Optei – até porque estava com minha esposa, que não é aficionada pelo esporte – por subir até o lugar que havia comprado, através das escadas rolantes – não sem antes receber o programa da partida. Então se percebe a diferença na estrutura dos Estados Unidos para o Brasil.Meu ingresso dava direito a uma espécie de “clube”, um espaço climatizado com bares, restaurantes e mais algumas conveniências (foto acima) atrás dos setores propriamente ditos de lugares. Tomei café da manhã (cerveja com cachorro quente) e pude me sentar em uma das mesas do espaço, que possuem visão para o campo.
Tudo é feito para o conforto do espectador: várias opções de comida (até sushi e comida kosher os restaurantes vendiam) e de bebida. Um dos bares tinha cervejas especiais em ótima variedade (abaixo), mas todos os outros tinham pelo menos três opções “draft” (o nosso chope) além das engarrafadas Bud e Bud Light – ambas em garrafas de um plástico rígido e tampas de rosca.Aliás um dos momentos engraçados foi minha esposa, que não é especialista em cerveja como eu, reclamando da qualidade da Bud Light: “parece água suja”. Por meu turno pude beber ótimos chopes como o “60 Minutes” da DogFish, e o IPA da Lawrence Captain, entre outros. Teoricamente a venda se encerra após o intervalo, mas dada a fila estenderam um pouco – tanto que vi na televisão o “field goal” dos Raiders no terceiro quarto.
Sem dúvida é uma estrutura muito superior a de qualquer arena brasileira, mesmo as novas construídas para a Copa do Mundo. Seria um modelo que buscaria copiar caso estivesse na administração de uma arena brasileira.
Outra curiosidade é que neste “clube” há grandes gôndolas com batatas fritas, amendoins e pipocas (carameladas, um pouco diferente das brasileiras) para consumo “gratuito” – obviamente, estão incluídas no preço dos ingressos. A mensagem é clara: se só há dinheiro para comer ou para beber, beba. Se bem que, pelo preço do ingresso ali, não acredito que tenha ninguém nesta situação.Apenas achei a loja de produtos oficiais bastante tímida, com uma variedade bem menor que a esperada. Não estive na megastore do primeiro piso, mas ainda assim poderia ter uma variedade maior. Comprei duas camisas, o “livro anual” do clube e mais alguns badulaques como adesivo de carro e canetas, além de um boné para minha filha mais nova.
Outra coisa é que bastava eu dizer que era um “brazilian Giants fan” para o tratamento mudar nesta área. Inclusive com pessoas bastante admiradas em saber que o time tem torcedores brasileiros.Tomei o meu lugar cerca de 20 minutos antes do jogo, para poder observar os preparativos. Embora não fosse um lugar central – para quem vê pela TV estava à esquerda das cabines, próximo à endzone – tinha visão perfeita de todo o campo, em ótima definição.
A cerimônia do hino americano (acima, em pequeno vídeo que gravei) mesmo para quem não é natural do país acaba por ser emocionante. Os americanos sabem dar valor a seus símbolos e criam todo um ritual de valorização. Agora entendo o que certa vez escreveu o colunista Walter Monteiro, que “dava vontade de ser de direita”.
A torcida tem um comportamento que parece contraditório, mas não é.
Ao mesmo tempo em que muita gente se levanta de seus lugares e vai explorar o estádio durante a partida (que no caso em questão durou três horas e isso é considerada uma partida rápida), a torcida é muito participativa. Vaia o adversário, canta, grita, comemora intensamente os “touchdowns” (pontuação mais valiosa do esporte) e repete um comportamento do Maracanã: o de cumprimentar com apertos de mão e tapas as pontuações com o desconhecido ao lado.Destaque para um garotinho atrás de mim, com uns 10 anos, que “cornetava” tudo e todos no time.
O curioso é que nos momentos em que o New York Giants atacava os placares de altíssima definição do estádio pediam para que ficássemos calados, a fim de facilitar a comunicação entre o quarterback e craque do time Eli Manning com o restante da linha ofensiva do time. A acústica não é nada demais, mas permite pressão sobre o adversário.
Nos setores onde eu estava muita gente optou por assistir ao jogo de dentro do “clube”, em especial quando começou a chover e a ventar muito. O estádio tem pouquíssimos lugares cobertos – por um acaso meu lugar, na penúltima fila do setor (segundo nível), tinha cobertura parcial.O MetLife Stadium, inaugurado em 2010 a um custo de mais de US$ 1 bilhão e que se divide entre os Giants e o outro time da cidade, os Jets, será a sede esta temporada do SuperBowl, a finalíssima do campeonato e maior evento esportivo do mundo – maior até que a Copa do Mundo. Se em um jogo em novembro às 13 horas já estava frio e com muito vento, fico imaginando uma final em fevereiro (auge do inverno) e à noite. Será muito hostil tanto para jogadores como para o público, possivelmente com neve.
O mesmo Walter Monteiro escreveu que é melhor ver um jogo da NFL pela TV dados os recursos tecnológicos da transmissão, mas gostei de ver ao vivo. Embora não haja a linha eletrônica que determina se a jogada (down) teve sucesso ou não, em poucas jogadas se ganha percepção de onde está o objetivo e se foi alcançado. As informações do placar eletrônico e dos telões também ajudam muito a se entender o que está acontecendo.O jogo em si não teve grande nível técnico, mas teve o mérito de apresentar uma jogada que os Giants não executavam com sucesso desde 1988: um touchdown após bloqueio de punt – aqui, os melhores momentos. Além disso, mais dois touchdowns – um aéreo e um após interceptação – e um field goal trouxeram a vitória aos Giants por 24 a 20, apesar de uma interceptação do quarterback Eli Manning retornada para touchdown dos Raiders – aliás, exatamente à minha frente.
Com o resultado, os Giants continuaram sua recuperação após perderem suas seis primeiras partidas – em uma temporada regular de 16 – alcançando então a terceira vitória seguida. No último domingo o time venceu novamente e, se vencer a “decisão” domingo que vem contra os rivais de divisão Cowboys passam a ter chances reais de chegar à pós temporada. Por isso antecipei o post, pois queria escrever antes de domingo.Algo que impressiona é que, ainda que houvesse 80 mil pessoas no estádio, ele se esvaziou em não mais que cinco minutos. Sem dúvida é algo muito rápido e eficiente. Aguardei o transfer do lado de fora (sob um frio de lascar) e retornei ao hotel.
Gostei muito da experiência e gostaria de repeti-la em outra ocasião. E fica claro que tanto em termos de estrutura como de tratamento ao cliente os esportes americanos estão muito à frente de nós brasileiros. A diferença é abissal – e nos posts sobre o basquete e o hóquei verá que isso não é exclusivo do futebol americano.
eu moro aki perto do estadio e ontem estava fazendo 59f graus, a temperatura estava otima. Voce esta falando que estava muito frio, vem em Janeiro ver o jogo denovo ai sim vc vai ver o que eh frio. Valeu pelo blog.
Obrigado pela visita, Marcelo.
Mas no próprio post eu friso que a temperatura durante o SuperBowl deverá estar bem mais fria. Na prática só fiquei incomodado mesmo com o vento enquanto esperava o transfer de volta.
abraços
Bom demais seu relato. Obrigado pelas sua visão clara sobre a diferença Americana no tratamento ao consumidor.
Abcs
Migão,
Só fiquei na dúvida com a afirmação de que o Superbowl é o maior evento esportivo do mundo.. Em quais sentidos? Todos? Financeiros? Audiência?
Abraços!
Em todos os sentidos: audiência, financeiro e atenção do público