Nesta quarta feira a coluna do advogado Rafael Rafic traz suas opiniões sobre os sambas enredo do Grupo Especial. Hoje domingo, amanhã as escolas de segunda feira.

Sambas Enredo do Grupo Especial: Domingo

Depois de analisar a Série A,  é o momento de reanalisar os sambas do Grupo Especial, agora já com os sambas nas versões oficiais, já mexidos e remexidos pelas escolas. Algumas melhoram, outras conseguiram piorar o que já não era muito bom. Vamos à análise por escola, sempre na ordem de desfile. Hoje as escolas de domingo, amanhã as de 2ª feira.

Império da Tijuca

Enredo: “Batuk”

Compositores: Márcio André, Vaguinho, Rono Maia, Alexandre Alegria, Karine Santos e Tatá [1]

Intérprete: Pixulé

A Império da Tijuca tomou a atitude corajosa que Renascer e Inocentes não tiveram em suas promoções ao grupo especial e trouxe um ótimo enredo, porém sem patrocínio. Creio que comparações com o “Tambor” vencedor pelo Salgueiro em 2009 serão inevitáveis, porém é um enredo com um forte toque afro e mais uma vez, enredo afro não costuma produzir música ruim. Ajudado por isso, a Império da Tijuca trará a melhor música de uma escola recém-promovida desde 2001, quando o outro Império, o Serrano, faturou o Estandarte de Ouro com “O Rio corre para o Mar”.

Devo concordar com dois bambas do assunto samba-enredo que afirmaram em conversas particulares que o hino da Império da Tijuca não seria um samba-enredo porque a melodia não possui traços que são característicos do samba, especialmente no forte refrão principal.

Mesmo não sendo um samba, concedo que é uma grande música que deverá causar um ótimo impacto na Sapucaí. É uma música convidativa a dança e é quase impossível resistir com os pés no chão ao mesmo  refrão principal  supracitado “Vai tremer, o chão vai tremer / É nó na madeira, segura que eu quero ver…”.

Esse refrão, especialmente na voz do Pixulé (para mim um dos dois melhores puxadores da atualidade), é uma pancada. Tenho minhas dúvidas se a comunidade da Formiga fará  o “bate e volta” no Especial. Mesmo se fizer, duvido ainda mais que Pixulé volte com ela.

grande rioGrande Rio

Enredo: “Verdes olhos sobre o mar no caminhão: Maricá”

Compositores: Deré, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Hugo e Tony Vietnã

Intérprete: Emerson Dias

Fazer um desfile de 8 carros e umas 30 alas sobre Maricá é tarefa hercúlea, haja Maysa para ajudar (que saída espetacular arranjou o Fabio Ricardo). Se o enredo já foi polêmico quando anunciado, o samba-enredo está seguindo a mesma trilha. De todos os sambas, esse é aquele que as opiniões mais divergem: alguns acham um ótimo samba, outros horrível.

Particularmente, aposto que ocorrerá com este samba o mesmo que ocorreu com o samba de 2013 da Grande Rio. Um samba criticado em sua escolha ganhou uma boa gravação, que me encheu de esperanças, para não aguentar sequer 15 minutos de desfile.

Até aqui, o samba vem seguindo o mesmo script e admito que a gravação não ficou ruim, mas acredito que o samba acabe cansando rápido. Especialmente o “Vou daqui / vou pra lá / vou sambando com você” do refrão principal que é muito parecido com o “Vem cá me dá / o que é meu é meu” do samba de 2013 que foi muito chato na avenida.

São Clemente

Enredo: “Favela”

Compositores: Ricardo Góes, Serginho Machado, Grey, Anderson, FM e Flavinho Segal

Intérprete: Igor Sorriso

Se eu não afirmei que o Pixulé é o melhor puxador da atualidade, é justamente por causa de Igor Sorriso que me deixa com dúvidas. Mais uma vez, Igor pegou um samba de mediano para ruim, matou no peito, arredondou o passe e chutou para o gol.

O samba da São Clemente se estava disputando as últimas posições do especial, com a voz de Igor Sorriso fica no meio da segunda metade do CD e pelas dificuldades que a escola apresentou nesse período pré-carnavalesco pode ser que ainda seja um quesito de destaque da escola. Situação complicada.

Pode até ser batida, mas o ponto forte deste samba são dois versos da primeira estrofe que fazem duas ótimas antíteses “Pobre… mas rico de emoção / Livre… mas preso na paixão”.

mangueiraMangueira

Enredo: “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”

Compositores: Lequinho, Junior Fionda, Igor Leal e Paulinho Carvalho

Intérprete: Luizito

Como já afirmei ao fim da coluna sobre a Série A, não gosto do estilo de sambas de Lequinho & Cia e com este samba não é diferente. Ainda sim, é um ótimo samba bem ao estilo “arrasta-multidões” que é característico da Mangueira, muito bem encaixado com o toque seco, único da bateria da verde e rosa e que hoje ninguém sabe se adaptar melhor do que Lequinho, Fionda e Igor Leal.

Não fosse uma safra tão forte esse samba poderia estar disputando o pódio, porém neste ano de alto nível ele “apenas” abre a segunda metade do Grupo Especial.

Os compositores foram especialmente felizes ao descreverem a Parada do Orgulho Gay, logo seguida da parte sobre o carnaval que já desemboca em um refrão muito interessante “(Oba, oba, eu quero ver quem vai / Cair na folia, sambar com a Mangueira / É bom se segurar, levanta / É verde e rosa a festança brasileira”).

salgueiroSalgueiro

Enredo: “Gaia – a vida em nossas mãos”

Compositores: Dudu Botelho, Xande de Pilares, Miudinho, Rodrigo Raposo, Betinho de Pilares e Jassa

Intérpretes: Quinho, Serginho do Porto e Leonardo Bessa (Part. Especial: Xande de Pilares)

Pode parecer perseguição minha com o Salgueiro pois sempre encontro algo para criticar,  mas eu não acho este samba “fantástico, sensacional e incrível” como descrito pela mídia e por alguns fãs de carnaval.

É inegável que estamos comentando sobre a melhor melodia do ano e fosse o samba-enredo um gênero instrumental, este samba seria o número 1 da minha lista. Mas estamos samba-ENREDO, assim a letra se torna fundamental e esta letra é um desastre se comparada com a beleza desta melodia.

A sinopse que já era bastante confusa foi ainda mais embaralhada nesta letra e o “parênteses” africano, que já era um defeito da sinopse sobre uma lenda grega, se espalhou para quase todo samba. Na prática o grupo de Dudu Botelho fez um samba-enredo afro, pois até mesmo na descrição dos quatro elementos foram incluídas alusões à Umbanda.

Em resumo: um samba absurdo, o melhor samba da academia desde “Me Masso se não Passo na Rua do Ouvidor” de 1991 (para mim “Explode Coração” é um trash extremamente popular), mas que não tem preocupações com o sentido da sinopse.

De qualquer forma será complicadíssimo tirar o Estandarte de Ouro de samba-enredo das mãos do Salgueiro; afinal o samba é bom, é afro e é do Salgueiro.

beija florBeija-Flor

Enredo: “O astro iluminado da comunicação brasileira”

Compositores: Sidney de Pilares, JR Beija-Flor, Júnior Trindade, Zé Carlos, Adilson Brandão e Diogo Rosa

Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

Que desastre. O enredo sobre Boni já foi extremamente mal construído, conforme já comentei nas minhas análises sobre as sinopses, o que engessou os compositores. O resultado é que apesar da Beija-Flor ter quase 60 sambas concorrentes, espremendo-os mal dava um mísero samba.

Ao final, foi escolhido o único samba possível de ser levado para a avenida que tinha um refrão interessante “Brilhou na tela o meu grande amor… Beija-Flor/Da comunidade um canto ecoou/A campeã voltou”.

O que o Laíla fez logo após a final? Excluiu esse refrão por inteiro e transformou a estrofe anterior em refrão. Só que a estrofe anterior não fora feita para ser refrão. Sem contar outras mudanças que não fazem sentido como “Um lado a comunicar, o outro já publicou” que foi transformado de forma nada criativa em “Um lado a comunicar/o outro comunicou”, piorando bastante o samba concorrente.

Não satisfeita coma as críticas a este samba a Beija-Flor lançou uma nota oficial oficial explicando detalhamente cada verso do samba. Para quê? Apenas aumentou a polêmica porque ao que parece não houve uma pesquisa profunda antes de publicá-la e a mesma foi lançada com um erro, para deleite da torcida “anti Beija-Flor” que é gigante – e que reclamou bastante da “bula” para o samba.

Ao menos nesta explicação, a escola disse que a ideia quanto ao verso acima seria fazer uma brincadeira com a arquibancada dos dois lados da Sapucaí. Se isso realmente ocorrer, retirarei todas as críticas e aplaudirei de pé a escola por ser a pioneira em usar a seu favor a nova arquitetura da Sapucaí. Porém eu ainda estou duvidando que a séria Beija-Flor vá tentar fazer esta audácia.

[N.do.E.: sinceramente não entendo o fato do diretor de Carnaval de uma agremiação assinar samba em outra no mesmo grupo. Eu, que sequer tenho função ligada diretamente a carnaval na Portela, abri mão da fantasia a que teria direito em outra escola – justamente onde o compositor em questão é diretor…]

(Imagens: Band Folia)