Nesta quinta, o advogado Rafael Rafic analisa as escolas de segunda feira e seus sambas.

Sambas Enredo do Grupo Especial: Segunda Feira

Retomando a análise iniciada ontem, os sambas de segunda feira.

Mocidade

Enredo: “Pernambucópolis”

Compositores: Dudu Nobre, Diego Nicolau, Jefinho Rodrigues, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Marquinho Índio

Intérprete: Bruno Ribas (Part. Especial: Dudu Nobre)

Este é um dos sambas que cresceram na minha opinião desde a coluna passada. Não pelo CD ou pela audição incessante, mas por causa de uma apresentação ao vivo do Dudu Nobre com bateria (no caso a Tabajara do Samba) que ouvi na feijoada da Portela de janeiro.

Mesmo com Dudu longe de estar em uma grande noite (o show de Neguinho da Beija-Flor logo antes fora bem mais interessante no meu ponto de vista) percebi que este samba com bateria ao vivo tem um gingado diferente e é melhor do que o aparentado pelo CD (será o “efeito Bruno Ribas”?) e tem boa letra (“efeito Diego Nicolau” mais uma vez?).

Também não vejo como um samba fantástico e antológico como alguns estão desenhando, mas é muito bom e foi extremamente mal gravado no CD. Para mim, a pior gravação de 2014.

Eu realmente gostaria de ouvir esse samba na voz do Luizinho Andanças. Uma pena o que ocorreu.

União da Ilha

Enredo: “É brinquedo, é brincadeira; a Ilha vai levantar poeira!”

Compositores: Gabriel Fraga, Paulo George, Régis, Carlinhos Fuzileiro, Canindé e Flávio Pires

Intérprete: Ito Melodia

Quem diria que a Ilha finalmente acertaria uma escolha de samba na era Ney Filardis. O samba é gostoso e brincalhão, bem ao estilo histórico da Ilha e do que o enredo pede.

Também não foi uma boa gravação de Ito Melodia no CD, mas já ouvi esse samba em várias versões diferentes “ao vivo da quadra diretamente pelo Youtube” que me permitem afirmar com boa probabilidade de acerto que foi apenas uma gravação infeliz.

Além de brincalhão, o samba consegue ser emocionante (difícil ser as duas coisas ao mesmo tempo) e a letra tem tiradas fantásticas como “Vem reciclar a saudade, de ioiô nas mãos de Iaiá” e “Meu carnaval é o quintal do amanhã”, sem contar o refrão principal muito bem trabalhado.

Infelizmente a Ilha virá forte em um ano em que Portela e Mangueira se fortificaram e não deverão deixar brechas para ela voltar nas campeãs.

vila isabelVila Isabel

Enredo: “Retratos de um país plural”

Compositores: Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Professor Wladmir e Arthur das Ferragens

Intérprete: Gilsinho

Outro samba polêmico. Alguns dizem que ele é bom e que as pessoas o estão comparando com os sambas da Vila de 2012 e 2013 que foram de qualidade incomum. Particularmente discordo dessa teoria, afinal a Portela teve sambas tão incomuns quanto em 2012 e 2013 e não obstante, mesmo quando há a comparação, 2014 não fica devendo.

Para mim, a Vila tem um samba tão confuso quanto a sua sinopse e que só salva as partes de exaltação à escola. Mantenho minha opinião que a Vila foi a única a claramente errar a escolha de samba. Os sambas do Tunico e outro da Mart’nália eram melhores do que o de André Diniz.

O resultado é que a Vila irá desfilar com uma melodia comum e uma letra que nada diz. É um samba ruim? Não, afinal tem a marca de qualidade André Diniz. Mas também não é um samba bom: é apenas mediano e em uma safra concorrida como a de 2014, a Vila despencará boas posições na minha classificação.

Imperatriz

Enredo: “Arthur X – O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz”

Compositores:Elymar Santos, Guga, Tião Pinheiro, Gil Branco e Me Leva

Intérprete: Wander Pires (Part. Especial: Elymar Santos)

Outro samba que me agradou bastante na eliminatórias mas que não teve o mesmo efeito no CD. É difícil dar opinião mais concreta, até porque eu ainda não o ouvi ao vivo e com bateria (muitas vezes isso faz diferença) na voz do Wander Pires, mas a impressão que me deu é que na voz do Ito Melodia estava melhor.

É um ótimo samba, com um refrão que tem tudo para ser cantado no Maracanã: “Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe ô, O show começou/Da-lhe Da-lhe Da-lhe ô, um canto de amor/Imperatriz, me faz reviver/Zico faz mais um pra gente ver”. Tudo a ver com o homenageado Zico.

A ideia de transformar em fábula a história de Zico, apesar de uns pequenos problemas aqui e acolá, parece que deu certo e os compositores foram muito felizes em utilizar esta característica na letra. Mais uma vez a Imperatriz trará um samba para a metade de cima da safra.

PortelaPortela

Enredo: “Um Rio de mar à mar: do Valongo à Glória de São Sebastião”

Compositores: Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento, Waguinho, Edson Alves e J. Amaral

Intérprete: Wantuir

Quem leu minhas colunas sobre a disputa na Portela sabe que eu sou suspeitíssimo para comentar sobre este samba, mas apenas peço que respeitem minha opinião de que este samba é o melhor da safra (e juro que não é pelo fato de ser portelense, porque quando tenho que reclamar, reclamo sem pestanejar).

Máximo e Toninho, que este ano vieram sem o forte nome de Wanderley Monteiro na parceira (que decidiu se afastar da disputa após o resultado das eleições), tiveram que enfrentar a desconfiança de vir sem aquele que daria o “toque de genialidade” no samba.

Porém o que eles provaram é que eles não precisam de Wandeley e ainda fizeram um samba bem mais leve e assimilável sem perder a beleza e a dificuldade nas composições melódicas. Ou seja, eles fizeram o difícil parecer fácil.

O resultado disso é que além da melodia ser bonita, ela ajuda a contar o enredo. Fiquei abismado que ninguém reparou (ou ao menos escreveu) no maxixe da refrão “Oi bota abaixo, sinhô/Oi bota abaixo, sinhá/Lá vem o Rio/De terno de Linho e chapéu Panamá”, justamente o estilo musical que escandalizou a sociedade nesta época.

O refrão principal é uma pancada tão forte quanto o “Madureira sobe Pelô” e o “Abre a roda, chegou Madureira”, porém é muito mais fácil de ser cantar e decorar.

Isso tudo em um ano em que a Portela resolveu seu grande calo: seu barracão está bastante adiantado e de excelente bom gosto nas mãos de Alexandre Louzada. Não teremos mais plásticas inacabadas ou feitas as pressas como nos anos da administração anterior.

Nem comento o  “ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô” do primeiro verso. Para mim, que sinto falta desses “ôos e lalaiás” nos sambas enredo, é uma dádiva.

Unidos da Tijuca

Enredo: “Acelera, Tijuca!”

Compositores: Gustavinho Oliveira, Fadico, Caio Alves e Rafael Santos

Intérprete: Tinga

Por mais que algumas escolas tenham tentado com todas as forças, ninguém conseguiu superar a Unidos da Tijuca em falta de qualidade de samba. O estilo Paulo Barros complicou e o samba ficou horrível, especialmente no laudatório trecho final sobre o Senna. Fica claro no samba que ele é forçado – e isto está sendo dito por um “Sennista” de carteirinha.

Para ajudar, ainda há a salada mista da sinopse, fielmente reproduzida na letra do samba que, automaticamente, também torna a letra tão ruim quanto. Esse sempre foi o estilo de Paulo Barros e invariavelmente o samba nada diz sobre a possível performance da Tijuca, sempre calcada no visual, na avenida.

Porém para os ouvintes de samba-enredo, Paulo Barros é sinônimo de desastre.

Um comentário off-topic: quero ver como o Paulo Barros irá representar a internet ultrapassando a energia. Isso está claríssimo tanto na sinopse quanto no samba.

Considerações finais: uma grande safra.  A segunda melhor desde 1999. Só não fica a frente da safra de 2012 porque é difícil emparelhar com uma safra que apresentou ao mesmo tempo “Madureira sobre o Pelô”, “Semba de lá que eu sambo de cá” e os bons sambas de Mocidade e Imperatriz naquele ano.

  1. Portela
  2. União da Ilha
  3. Mocidade
  4. Salgueiro
  5. Imperatriz
  6. Império da Tijuca
  7. Mangueira
  8. Vila Isabel
  9. São Clemente
  10. Grande Rio
  11. Beija-Flor
  12. Unidos da Tijuca

(Imagens: Band Folia)

 

2 Replies to “Made in USA – “Sambas Enredo do Grupo Especial: Segunda Feira””

  1. o comentário acima está corretíssimo.da minha concepção de musicista(regente),por eu ser torcedor de uma outra escola,admito dizer claramente que a Portela tem o melhor samba de 2014.também sou formado em letras(português,com especialização em latim),afirmo também que a sinopse da Portela é muito bem feita,de uma concórdância extraordinária na norma culta da língua portuguêsa.Muito harmoniosa com o enredo e com o próprio samba.Eu particularmente,sou fã das escolas de sambas do rio,então por isso me dedico muito a ler as sinopses,a ouvir os sambas,analiso os enredos,observo a ousadia dos carnavalescos,vejo as gravações e ensaios das batérias e tudo mais.E reclamo,quando vejos certas rainhas de baterias sem samba no pé,com o corpo todo marombado,cheios de musculaturas exageradas e peitos siliconizados demasiados.bonito é ver madrinhas de outros carnavais tais como: Luíza Brunnet , Luma de Oliveira,Juliana pães,a Paloma da novela da globo que acabara de terminar.Um exemplo: a rainda da minha escola pra mim j´a está bombadinha demais(A Raíssa-Beija-flor)ela era muito mais bonita sem esse corpo marombado.Gostei da atitude do Laíla com relação a ela,advertindo-a com relação a malhação do corpo.Portanto,devemos amar e defender nosso pavilhão da nossa escola do coração,porém,devemos ser realista,quando não estamos acertando.O samba da Beija-flor está sem beleza,sem expressão que é a escola de Nilopolis.Eu tenho sã consciência do que eu estou vendo.Um enredo muito apagado(Bonni).Verdade seja dita,que a escola de madureira vem com tudo.Ela vem com o melhor samba gente e um dos melhores carnavalescos do carnaval carioca que o Louzada e com a coreográfa que um dia foi da Beija-flor.Um diretor de carnaval o ex-Unidos da tijuca.Isso é muita coisa.E um enredo maravilhoso”Do cais do valongo a glória de São Sebastião.Aqui deixo o meu desabafo.

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