Em mais um texto da série “Escola do Meu Coração”, o jornalista Aloy Jupiara, do jornal O Globo, traz suas lembranças pelo glorioso Império Serrano.
Sou Império, sou Patente
Não tem uma explicação. Puxo pela memória, procuro um fato. Nada. Ou nada muito concreto. Vem à minha cabeça um flash, só uma luz: uma tarde de carnaval, de sol forte, talvez uma segunda-feira, num mês de fevereiro da metade dos anos 70. E eu cantava um samba… do Império Serrano.
Naquela época, comprávamos o LP dos sambas em dezembro. Muitas vezes era um presente de Natal, como o disco do Roberto Carlos. E decorávamos todos os sambas. As rádios tocavam. Só sei que quando me perguntavam “qual sua escola de samba”, eu respondia: Império Serrano.
Por quê? Não tem explicação.
Posso tentar racionalizar, mas não acho que chegarei ao centro de tudo: por que uma escola nos toca mais fundo? O Império da minha infância era o dos anos 70, e foi a sua aura que me conquistou, sem eu saber que estava sendo conquistado. Comecei a assistir aos desfiles pela TV – a transmissão em preto e branco. E lia os jornais e as revistas Manchete e O Cruzeiro. Gostava de todas as escolas, de todo o desfile; era mágico, encantamento. E entre elas estava o Império, com algo especial para mim. A chave que poderia explicar isso se perdeu no tempo.
Minha mãe adorava os desfiles. Ia sempre ver. E quando achou que eu já estava grande o suficiente me levou. Foi em 76.
Eu não sabia nada sobre o Império (como não sei até hoje, esse saber que só pertence a quem vive inteiramente e por dentro uma escola). Ainda não conhecia “Heróis da Liberdade”. Não tinha ido à quadra. A Serrinha era uma miragem distante, um nome. E mesmo assim o Império já estava comigo, sendo gravado em mim ano após ano.
Como eu gostava de cantar “Violas de pássaros / Clarins de vento / O arlequim / Entoando um canto lento…” Acho lindo, e (de novo) não tem explicação.
Em 1978, vi o desfile pela TV. O Império caiu para o Grupo 1B, atual Acesso A. No ano seguinte, fui com meus pais ver o desfile daquele grupo. O Império homenageava o Theatro Municipal. Ali, naquele momento, já era totalmente coração. Tinha ficado triste com a queda. Então, estar na avenida, cantar o samba e torcer para o Império ganhar e subir são um marco. Eu não tinha 15 anos ainda.
Muita água passou debaixo das pontes. E não procuro explicar o inexplicável: o Império e sua bateria são uma renovação para a alma, uma limpeza do corpo, um renascimento a cada ensaio que eu vá, e a cada carnaval.Fotos: O Globo e Extra