Nesta segunda-feira, o jornalista esportivo Fred Sabino conta na série Sambódromo em Trinta Atos o desfile de 2007, que teve uma categórica vitória da Beija-Flor de Nilópolis, a barração de Beth Carvalho no desfile da Mangueira e o novo rebaixamento do Império Serrano, num ano de apresentações bonitas mas sem grandes emoções da maioria das agremiações.

2007: Beija-Flor recupera título em ano de desfiles frios

Depois que Mocidade e Salgueiro iniciaram os desfiles de domingo em 2005 e 2006 e tiveram péssimos resultados nas apurações, a Liesa anunciou que a campeã do Grupo de Acesso voltaria a abrir os desfiles. Isso, claro, porque houve uma enxurrada de críticas dos torcedores por duas tradicionais escolas terem sido canetadas (em excesso) após abrirem os desfiles.

Sem outras novidades no regulamento, uma notícia movimentou os bastidores do Carnaval carioca depois dos desfiles de 2006: o badalado carnavalesco Paulo Barros deixou a Unidos da Tijuca seduzido por uma tentadora proposta da Unidos do Viradouro e prometeu um surpreendente desfile sobre os jogos com o título “A Viradouro vira o jogo”.

Já a Unidos da Tijuca escolheu como enredo a história da fotografia e dividiu os trabalhos entre os carnavalescos Luiz Carlos Bruno e Lane Santana. Restava dúvida se a escola manteria a pegada dos anos Paulo Barros, mas o presidente Fernando Horta prometia criatividade na concepção do enredo.

Campeã de 2006, a Unidos de Vila Isabel optou por outra temática: as transformações do mundo, ou melhor, as metamorfoses. A Acadêmicos do Grande Rio continuava firme no sonho do título inédito e contaria a história de sua casa, o município de Caxias. Sem Jamelão, a Estação Primeira de Mangueira faria um tributo à língua portuguesa. Já a Beija-Flor de Nilópolis exaltaria o continente africano com um samba primoroso.

Os Jogos Pan-Americanos, que seriam disputados na cidade meses depois do Carnaval, seriam lembrados pela Portela, enquanto o vizinho Império Serrano contaria a história das pessoas que, mesmo com limitações, davam certo na sociedade. Buscando uma nova temática, a Imperatriz Leopoldinense de Rosa Magalhães contaria a história do bacalhau com bom humor e a Mocidade Independente de Padre Miguel passearia pelo artesanato brasileiro.

Mordido com o 11º lugar de 2006, o Salgueiro teria um instigante enredo sobre as rainhas da África Oriental e as negras que superavam as dificuldades do dia a dia, com um samba que, pela primeira vez em muito tempo, era mais poético e menos oba-oba. Completavam o Grupo Especial a Unidos do Porto da Pedra, que faria uma homenagem à África do Sul (com um belo samba-enredo), e a Estácio de Sá, de volta à elite com a reedição de “O tititi do Sapoti”, de 1987.

OS DESFILES

Dez anos depois de cair, a Estácio finalmente retornou à elite e fez uma bonita, mas fria apresentação. Antes do desfile, a escola pediu um minuto de silêncio devido ao assassinato do menino João Hélio, que revoltou o Brasil. O famoso samba-enredo puxado por Anderson Paz teve um andamento muito rápido pro meu gosto e, com o sambódromo ainda frio, a escola não conseguiu empolgar o público.

Mas a escola esteve inegavelmente bonita, com uma comissão de frente representando os senhores da selva e a civilização asteca, com os bailarinos mascando chicletes para lembrar a goma de mascar feita com a seiva do sapoti. O enorme e bonito abre-alas em dourado era ladeado por seis tripés e um pede-passagem.

Uma das mais criativas alegorias foi a chamada “Isso virou tutti-frutti”, com uma representação da Estátua da Liberdade coberta por 600 mil pastilhas de chicletes. Gostei também das fantasias, mas, por incrível que pareça, como os figurinos foram grandes e luxuosos, os desfilantes não evoluíram com grande empolgação, a despeito de o enredo ser leve e o samba, popular. Restava saber o quão isso implicaria na apuração.

Já o Império Serrano mais uma vez frustrou seus torcedores ao escolher para uma data redonda (no caso, a dos 60 anos de fundação) um enredo pouco característico das tradições da escola: “Ser diferente é normal: o Império Serrano faz a diferença no carnaval”, do carnavalesco Jack Vasconcelos. Paulo Menezes, carnavalesco de 2006, foi demitido por ter se recusado a fazer este enredo, assinando o carnaval da Estácio de Sá. Apesar de alguns bons momentos, infelizmente não foi uma boa apresentação nos quesitos de pista, principalmente em Evolução, com descompassos e buracos.

As exaltações a deficientes visuais, cadeirantes, portadores de deficiência auditiva e portadores de síndrome de Down emocionaram e  gostei das homenagens a Noel Rosa, Arthur Bispo do Rosário e Aleijadinho. Mas visualmente a escola esteve abaixo da Estácio, exceto pelo interessante carro “O Tempo e o Espaço da Inteligência”, com o cérebro de Albert Einstein iluminado por neon. Reflexo de um enredo difícil de carnavalizar.

O destaque absoluto foi mesmo a bateria de Mestre Átila, apesar de o samba-enredo dos craques Arlindo Cruz, Maurição, Carlos Sena, Aluísio Machado e João Bosco não ter caído no gosto do público. No fim das contas, a ideia foi passada de forma confusa, já que o Império usou o setor que homenageava a própria escola de forma a dizer que a escola era diferente das demais. Pareceu mais uma forma de enxertar no desfile alguma lembrança pelos 60 anos da Verde e Branco. Um desfile bem irregular, em resumo.

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Terceira escola a desfilar, a Estação Primeira de Mangueira manteve o alto padrão de suas apresentações na década (exceto 2005) e se colocou como candidata às primeiras colocações, graças a um excepcional trabalho do carnavalesco Max Lopes na confecção do enredo “Minha língua é minha pátria, Mangueira, meu amor. Meu samba vai ao lácio e colhe a última flor”, sobre a língua portuguesa. Mas a escola passou por três situações complicadas, uma na fase pré-carnavalesca, e outras quando a escola já se armava na concentração.

Como Jamelão não teve mais condições de continuar como intérprete oficial depois de complicações no estado de saúde, a escola promoveu o experiente e competente Luizito, que estava na Mangueira desde 1998 como apoio do lendário cantor. Mas o próprio Luizito, que em 2006 não desfilara devido à morte da esposa, sofreu um princípio de infarto num ensaio técnico no começo do ano. A participação dele era incerta até a entrada da escola na Sapucaí, mas Luizito cumpriria com brilhantismo seu papel, mesmo alertado pelos médicos sobre os riscos de um infarto mais sério.

mangueira2007bJá a cantora Beth Carvalho, que estava com problemas de coluna, queria desfilar numa das alegorias por não reunir condições de passar pelos 700 metros da pista. Segundo consta, estaria tudo acertado, mas em cima da hora ela ficou sem lugar. Beth, então, tentou sair no carro dos baluartes mas foi expulsa sob a alegação de que não poderia desfilar ali justamente por não ser baluarte. Depois de grande confusão, Beth ficou aos prantos na concentração enquanto a escola desfilava. Ela ficaria afastada da Mangueira até 2010, quando seria convidada a voltar pelo novo presidente Ivo Meirelles. Outro que não desfilou foi Nelson Sargento, que desistiu de subir no carro dos baluartes porque sua esposa e filho não receberam fantasias da escola, prometidas pelo presidente Percival Pires.

Tensões à parte, a Mangueira fez um bonito desfile, a começar pela excelente comissão de frente que tinha integrantes vestidos ora com a cor da escola em tons bem fortes ora com figurinos tipicamente portugueses. Os componentes ainda levantavam placas com as palavras poesia, Mangueira, Jamelão, felicidade, galera, entre outras. Em seguida, um belo pede-passagem com inscrições em neon precedia as primeiras alas que representavam o latim (surgido na região do Lácio, na Itália), ladeados por lindos tripés sobre o império romano, e um lindo carro acoplado de 60 metros simbolizando essa época todo em dourado e soltando chamas.

A alegoria “Navegar é Preciso” era ainda maior e, a meu ver, a mais bonita do desfile, com uma grande caravela dourada inspirada no barroco português. O requinte foi tão grande que a pintura foi feita em pó de ouro. Outro belo carro era chamado “Inspiração Literária” com uma grande representação do quadro “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, para homenagear a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas infelizmente houve problemas na alegoria “Miscigenação Brasileira”, pois o topo de uma igreja estava danificado. Além disso, um erro impediu que uma das alas desfilasse na posição correta.

Apesar desses percalços, o desfile continuou muito bonito, com Max Lopes adotando diferentes tons para o verde e o rosa, o que é sempre complicado, e com fantasias belíssimas e bem acabadas. Gostei muito da ala das baianas, que representou “As rosas não falam”, de Cartola. A Mangueira fez ainda um passeio pelos países que falam a nossa língua e o belo samba-enredo agradou. A bateria, que tinha Mestre Russo de volta, teve ótimo andamento e a velha batida seca do surdo um, com boas bossas e paradinhas. Não foi um desfile tecnicamente perfeito, mas a escola estava credenciada a brigar pelos primeiros lugares.

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Debaixo de muita expectativa, a Unidos do Viradouro entrou com força na passarela e fez um desfile surpreendente. Na chegada a Niterói, o carnavalesco Paulo Barros usou e abusou de criatividade, e a proposta do enredo “A Viradouro vira o jogo” foi bem recebida pelo público, mas com ressalvas pela crítica carnavalesca – chegaremos lá mais tarde. O show começou com a comissão de frente chamada “Embaralhando as Cartas”, cujos componentes estavam vestidos de curinga e usavam grandes cartas de baralho (cujos versos tinham letras para formar palavras) para executar coreografias.

O abre-alas vinha cheio de dados que giravam e pierrôs mascarados dentro deles. Já o carro “Cassino” era todo em dourado, mas os componentes giravam discos em formato de roletas e isso dava belíssimo efeito. A também criativa alegoria tinha a assinatura de Paulo Barros, com os componentes representando o tradicional oráculo oriental do I Ching em interessante coreografia.

viradouro2007Mas as grandes surpresas ainda estavam por vir. Uma alegoria representava um gigantesco tabuleiro de xadrez (foto ao lado), mas as peças eram simplesmente os ritmistas da bateria. Ora eles ficavam em cima do carro, ora desciam para o recuo da bateria e eram substituídos por componentes da ala posterior, que tinham a mesma fantasia. Mas nada superou o elemento “Castelo de cartas” (foto acima), construído de cabeça para baixo com as rodas no topo da alegoria. Infelizmente, o mecanismo da alegoria que representava os jogos de dados teve problemas durante o desfile.

As alas representaram  diversos tipos de jogos como os de raciocínio e estratégia, jogo da velha, dama, xadrez, além de jogos de adrenalina, vídeo-game, batalha naval, carros eletrônicos, futebol e paintball. Gostei muito da ala que representava um “efeito dominó” e a que simbolizava o “Cubo Mágico”. Já a ala das baianas representava o jogo de búzios.

No entanto, tudo isso, se mais uma vez comprovou a indiscutível capacidade de Paulo Barros surpreender e inovar, gerou reclamações mais fortes dos puristas. Estes reclamavam que Barros utilizava uma linguagem e estética que não contavam simplesmente um enredo, mas juntavam diversas ideias isoladas e serviam simplesmente para chamar a atenção sem compromisso com uma história de início meio e fim. Um dos motivos para as críticas foi o fato de o carnavalesco mais uma vez recorrer a filmes ou personagens, como nos carros sobre o filme “Guerra nas Estrelas” e o livro “Onde Está Wally?”. De fato, nestes casos achei um exagero.

Em relação aos quesitos de pista, o samba-enredo funcionou para a escola, mas não ocorreu o “sacode” que se imaginava, apesar de não ter sido um desfile frio. Já a bateria de Mestre Ciça, embora com a precisão de sempre nas marcações e a criatividade de costume, imprimiu um andamento acelerado demais pro meu gosto. A expectativa de favorita ao título não se confirmou, mas de qualquer forma um agradável desfile da Viradouro, que a colocaria nas primeiras colocações, já que, repito, a proposta do enredo (ou tema, como preferem os críticos de Paulo Barros) foi bem transmitida.

Já a Mocidade Independente de Padre Miguel, com o enredo “O futuro do pretérito – uma história feita à mão”, do promissor carnavalesco Alex de Souza, abordou a arte feita pelas mãos do homem, mas a ideia foi um tanto confusa para o público. A escola viajou pela história dos artesãos brasileiros, com belas alegorias diga-se de passagem, mas fez uma associação com o que seria o futuro da criação, com uma estética chamada de “retrofuturista”, colocando como questão se a criatura poderia ameaçar a criação.

Gostei mais da parte em que o desfile passou por criações como as obras em cerâmica, as rendas, os curtumes, mas essa parte mais ficcional não agradou tanto. O samba-enredo foi bem cantado pelo estreante Bruno Ribas e a bateria esteve firme, ainda com uma cadência verdadeira de samba-enredo. Foi um desfile irregular, daqueles de meio para o fim de tabela.

Outra que fez uma irregular, mas bonita apresentação, foi Vila Isabel, com o enredo “Metamorfoses: do Reino animal à Corte popular do carnaval”, que misturava as transformações do mundo, dos animais, das plantas e… da própria escola do bairro de Noel, a campeã de 2006 – o samba dizia que “A Vila também se modificou / No universo do Carnaval / Lindamente desabrochou / E um sonho fez real”. Inegavelmente a escola esteve bem nos quesitos plásticos, mas foi outro desfile frio.

A comissão de frente representava a “Transmutação da Espécie Humana” e tinha seus componentes vestidos de macacos, com um tripé em forma de torre de relógio para mostrar a passagem do tempo, mas a coreografia não agradou. O interessante abre-alas era multicolorido com uma grande escultura de lagarto e os componentes vestidos de borboletas para mostrar o processo de metamorfose.

Gostei também do segundo carro, que se chamava “Mãe África” e mostrava a evolução do homem, com destaques vestidos de macacos, homens das cavernas e e homens da atualidade. Mas o que agradou ainda mais foi o elemento “A robotização humana”, com uma grande escultura de robô, com bons movimentos e muito neon, e ainda um enorme teclado de computador, o que valorizava a alegoria.

As fantasias também eram muito bonitas, com plumas e materiais ricos. O samba-enredo era correto, mas a escola esteve irregular no quesito Harmonia, apesar da força da bateria de Mestre Mug, que fez muitas paradinhas e bossas. Já a evolução foi constante e sem problemas aparentes, o que colocava a escola com boas condições de pelo menos voltar no sábado. Mas o título era um sonho mais distante.

A segunda noite de desfiles começou com uma agradável apresentação da Unidos do Porto da Pedra. O enredo “Preto e Branco a cores”, do carnavalesco Milton Cunha, abordava a luta na África do Sul pelo fim do regime do apartheid e prestava uma homenagem a Nelson Mandela.

A comissão de frente teve dez integrantes representando Mandela, com uma excelente caracterização e carregando uma enorme bandeira da África do Sul, e cinco fantasiados de tigres, o símbolo da agremiação. Havia ainda uma roda metálica com o mapa da África do Sul.

O lindo abre alas tinha o tigre em preto e branco e o segundo, chamado “Anjo Colonizador Racista” mostrava a revolta contra o apartheid e esculturas de pessoas feridas, como a de um pai carregando o filho. As alegorias, embora menores, tinham bons movimentos e eram coerentes.

Diga-se de passagem, gostei muito da abordagem do enredo, com setores em preto e branco representando o apartheid e outros coloridos simbolizando a nova África do Sul, com a união das raças. As fantasias não estavam tão luxuosas, mas contavam bem a proposta a ideia.

O excelente samba-enredo funcionou e ainda teve uma bateria dirigida pelo saudoso Mestre Louro, com um andamento acelerado, mas muitas ousadias. A Vermelho e Branco terminou seu desfile sem riscos de rebaixamento.

tijuca2007Segunda escola do dia, a Unidos da Tijuca jogou para longe qualquer desconfiança que existia depois da saída de Paulo Barros e fez uma criativa e inteligente exibição ao contar a história da fotografia. O enredo “De lambida em lambida, a Tijuca dá um click na avenida” foi muito bem desenvolvido pelos carnavalescos e lembrou desde o tradicional lambe-lambe até as modernas máquinas digitais.

A criativa comissão de frente se chamava “Paparazzi imperial” e o principal componente estava fantasiado de D.Pedro II, responsável por trazer a fotografia para o Brasil, e carregava um tripé em formato de câmera antiga. Os demais componentes representavam os presidentes das outras escolas de samba do Grupo Especial e estes eram “fotografados”.

O abre-alas tinha uma enorme escultura de diabo com barras de fósforo e magnésio, usados como flash quando a fotografia surgiu, e mostrava a passagem da pintura para a fotografia, com a disputa entre pintores e fotógrafos. Havia ainda um Leonardo da Vinci pintando uma Monalisa na avenida – a alegoria sofreria um incêndio durante o desfile das campeãs.

Agradou muito a alegoria “Álbum de Família”, que mostrava o velho hábito de se reunir os entes queridos para registrar momentos do dia a dia, com os componentes realizando coreografias. Outro elemento muito criativo tinha imagens do público registradas em tempo real por dois fotógrafos e exibidas em telões.

Houve também espaço para momentos mais sérios, como o carro alegórico “Retratos da Vida”, que retratou (sem trocadilhos) a famosa fotografia da menina fugindo sem roupas após um ataque durante a Guerra do Vietnã. As fantasias também agradaram, tanto em concepção como em acabamento, além de serem muito criativas.

O agradável samba-enredo, mesmo sem ser nenhuma obra-prima, rendeu na voz do sempre competente Wantuir e a Tijuca não só cumpriu com louvor a missão de se dissociar da figura de Paulo Barros, como se colocou como uma das melhores escolas do ano com tranquilidade.

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Terceira escola a entrar na pista, o Salgueiro fez uma apresentação arrebatadora ao defender o enredo “Candaces”, sobre as rainhas da África Oriental desde a época antes de Cristo. O brilhante carnavalesco Renato Lage, que teve ao lado a esposa Márcia Lávia, mostrou que não é só competente ao conceber enredos mais contemporâneos, mas também com temáticas mais densas e clássicas – o Migão já escreveu sobre esse desfile no Ouro de Tolo.

salgueiro2007A comissão de frente (foto acima) tinha coreografia baseada na tradição egípcia da busca pela imortalidade buscava uma das Candaces citadas no enredo, Nefertiti. O belíssimo abre-alas chamava-se “Raízes da Criação” (foto ao lado) e tinha um grande baobá e uma impressionante escultura de feiticeira, com incríveis movimentos e acabamento perfeito, cercada por orixás.

O segundo carro, chamado “Cortejo de Mekeda”, representava uma das rainhas africanas e também era maravilhoso, com perfeita iluminação, e diversas esculturas de negras. Mas, a meu ver, o elemento mais impressionante era chamado “Egito de Neferiti”, com uma riqueza de detalhes incrível – além do rosto da rainha, havia diversos coqueiros típicos e, a exemplo dos demais elementos, pendia para o dourado.

Já o carro “Maracatu e a Glória Real da Corte Negra” trazia o enredo para o Brasil, com os escravos que surgiram na Bahia e ao ritmo que apareceu em Pernambuco. Para fechar o show salgueirense, a linda alegoria “Mães de Santo, Mães do Samba” (foto ao lado), com uma gigante e muito bem acabada escultura de mãe de santo abençoando o ritmo que tanto amamos e os grandes nomes da agremiação, que estavam como destaques.salgueiro2007c

Assim como as alegorias, as fantasias estavam também brilhantes, como por exemplo o espetacular figurino da ala das baianas, com bastante palha. Diga-se de passagem, a divisão cromática da escola foi um colírio para os olhos, com bastante dourado misturado ao vermelho, o que aumentou ainda mais a força da apresentação salgueirense.

O samba-enredo (acima, o áudio ao vivo do desfile) era valente, apesar de não deixar de ser curioso e engraçado uma obra classuda como aquela – e bem diferente dos últimos sambas da escola – ter sido intercalada pelos cacos do intérprete Quinho, como no trecho “Orayê yê o, oxum (TÁ CEEEERTOOO!) / Oba xi obá” – e estes cacos trariam perda de pontos no quesito durante a apuração. A bateria de Mestre Marcão esteve em grande noite, com ótimas viradas e paradinhas criativas.

Apesar de problemas de harmonia, o  Salgueiro fez a melhor apresentação até aquele momento e se candidatou à disputa pelo campeonato pela grandiosidade das alegorias e a correção com que o enredo foi abordado.

portela2007Já a Portela (acima, o esquenta com “Portela na Avenida”) fez uma simpática apresentação ao levar para a avenida o enredo “Os Deuses do Olimpo na Terra do carnaval: uma festa dos esportes, da saúde e da beleza”, sobre o Pan do Rio de Janeiro que começaria meses depois.

Gostei muito da comissão de frente, com a deusa da vitória Niké e deuses do olimpo mostrando as primeiras modalidades esportivas com acrobacias bem feitas, cercados por tripés em formato de colunas gregas. Um pede-passagem em formato de arena grega levou a águia, que estava muito bonita (foto). O abre-alas representava a Grécia antiga e tinha outras 21 águias representando os títulos da escola.

O enredo passou pela fase em que o Barão de Coubertin criou os Jogos Olímpicos da Era Moderna – ora bolas, o conceito do Pan evidentemente saiu das Olimpíadas – e depois fez uma homenagem ao Rio, sede dos Jogos de 2007. O belo elemento “As Pratas da Casa são Ouro” era muito bem resolvido, todo em dourado, e não faltaram atletas famosos como os ginastas Diego e Danielle Hypolito e Daiane dos Santos, além do bicampeão olímpico no vôlei Giovane e do medalhista Robson Caetano.

No entanto, apesar deste bonito carro, a Majestade do Samba apresentou um conjunto visual um tanto irregular, tanto em alegorias como em fantasias, com elementos mais pobres em relação a outras escolas – mais detalhes no “Cantinho do Editor”. Surpreendentemente em se tratando de Portela, houve também problemas em Harmonia e Evolução.

Já a bateria, que tinha a exuberante Adriana Bombom à frente, teve uma grande exibição e estava vestida de terno e gravata, representando “A Delegação Medalha de Ouro da Portela”. O samba assinado por Diogo Nogueira (filho do grande João Nogueira), Ciraninho e Celso Andrade era bonito e os componentes cantaram com entusiasmo. Enfim, uma apresentação agradável, mas irregular.

Com o complicado enredo “Terezinha uhuhuuu!!! Vocês querem bacalhau?” sobre a história do bacalhau e as brincadeiras que o povo faz sobre o peixe, a Imperatriz Leopoldinense fez uma apresentação muito abaixo do que vinha sendo habitual.

Com alegorias concebidas por Rosa Magalhães muito abaixo de seu padrão habitual (especialmente o abre-alas e o carro que retratava o encontro da geleira com o vulcão), a ideia da escola de fazer um desfile irreverente sucumbiu devido a um fraquíssimo e quilométrico samba-enredo, que se arrastou na avenida e não conquistou nem público nem componentes, apesar da volta do grande Preto Joia ao posto de intérprete principal. A escola passou praticamente muda, à exceção da última ala, a do Bacalhau do Batata – que ganharia o Estandarte de Ouro.

Além disso, a mistura que envolveu Noruega (patrocinadora do enredo, diga-se de passagem), Chacrinha e os blocos de Carnaval pernambucanos complicou muito o entendimento da ideia. Foi aquele típico desfile de meio de tabela para trás, mas sem risco aparente de descenso – embora muitos especialistas em carnaval tenham colocado o desfile da escola como passível de rebaixamento.

granderio2007Outro desfile que decepcionou (pelo menos a mim) foi o da vice-campeã de 2006 Acadêmicos do Grande Rio. O enredo “Caxias, caminho do progresso, um retrato do Brasil”, do carnavalesco Roberto Szaniecki, teoricamente era uma exaltação à casa da Tricolor, mas me pareceu uma propaganda política velada da cidade e seus governantes.

Isso ficou patente no setor do desfile que falava sobre a refinaria do município, já que, como dizia o trecho do (fraco) samba “A minha refinaria / tem combustível para exportação / Eu sou de Caxias / Sou pura energia / Suficiente pra alegrar seu coração”. A obra ainda louvava Tenório Cavalcanti como um dos ícones da cidade.

Com alegorias enormes e luxuosas, mas sem muita criatividade, a Grande Rio passeou pelo surgimento de Caxias (aliás, a comissão de frente representava formigas, já que a construção da cidade foi, segundo queria dizer o enredo, uma espécie de trabalho de formiguinhas), a religiosidade e manifestações do folclore nordestino que forma o povo local, além de personagens famosos da cidade como Zeca Pagodinho, então morador de Xerém, e o hoje presidente de direito Milton Perácio.

Assim como em 2006, a escola cometeu sérias falhas no quesito Evolução devido à grandiosidade das alegorias. Mais uma vez o destaque absoluto foi a cadenciada e firme bateria de Mestre Odilon, que levantou o público e deu vida ao longuíssimo (e, repito, chatíssimo) samba. Um desfile bem irregular, com cara de meio de tabela.

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Assim como em 2005, a Beija-Flor de Nilópolis encerrou os desfiles com uma apresentação maravilhosa, que a credenciou como favorita ao campeonato. Com o enredo “Áfricas – Do berço Real à Corte Brasiliana”, a Azul e Branco não só esteve riquíssima nos quesitos plásticos, como teve o melhor samba-enredo do ano e ainda uma fortíssima exibição em todos os quesitos.

A comissão de frente era chamada “Áfricas: realidade, realeza e axé” e representava a gênese africana, com belíssimas fantasias de guerreiros. A seguir, como já vinha sendo hábito, Claudinho e Selminha Sorriso e depois uma ala com enormes tripés em formato de girafas – elas pareciam de verdade e pareciam desfilar de verdade.

beijaflor2007cChamado de “O Imponente dom divino”, o gigante e acoplado abre-alas era em tons dourados e tinha um lindíssimo beija-flor que se movimentava. Além disso, os destaques vestidos em dourado carregavam nas mãos espécies de asas e faziam coreografias que simbolizavam mais efeitos de pássaros, o que dava um grande impacto.

O segundo elemento fazia jus ao nome e se chamava “Majestosa Negra África”, simbolizando a cultura africana, com esculturas de leões e belíssimas fantasias para os destaques. O terceiro carro era muito bem resolvido e, em vez de a escola utilizar um navio negreiro clássico para simbolizar a viagem dos negros para o Brasil, os colocou nos braços de Iemanjá, em tons de prata.

Outro carro alegórico trazia uma lembrança do arrebatador (e injustiçado) desfile de 2001 e trazia “A Luz que vem de Daomé”, com duas grandes esculturas de mães de santo na parte traseira. Em seguida, a meu ver a melhor alegoria do desfile: “Zumbi, Rei Guardião de Palmares”, simbolizando o grande quilombo com uma grande escultura de Zumbi, além de muita palha, bambu e fantasias dos destaques com plumas verdes. Um efeito maravilhoso!

A alegoria “Vila Rica, a dourada África de Chico Rei” voltou a trazer tons de dourado e também foi de uma realização impecável, mesclando ótima iluminação e efeitos de água. Em seguida, um outro carro prateado, mostrando as tradições folclóricas como o maracatu, e a última alegoria com uma enorme baiana e seu tabuleiro. No fim, a escola passeou pelos bairros da Gamboa e Saúde, que receberam os negros no Rio de Janeiro. beijaflor2007d

Em relação às fantasias, ao contrário do Salgueiro, que optou durante praticamente todo o desfile pelo dourado e vermelho, no começo a Beija-Flor teve essa coloração mais forte nos figurinos, e depois optou por tons mais claros e coloridos que se juntaram ao azul e branco da escola, no que obteve sucesso, já que todos os elementos tinham excelente realização e acabamento.

O samba-enredo (acima, em versão ao vivo), como já dito, era o melhor do ano tecnicamente, com melodia e letra perfeitas. A comunidade nilopolitana, como de costume, cantou com muita garra do começo ao fim, ao som da precisa bateria de Mestre Paulinho, que, como nos anos anteriores, procurou priorizar a firmeza em fez de usar e abusar de paradinhas e convenções mirabolantes.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Mal a Beija-Flor deixou a pista e foi considerada a favorita ao campeonato, pela grandeza de sua apresentação e correção nos quesitos. Além disso, a Azul e Branco conquistou os dois principais prêmios do Estandarte de Ouro (melhor escola e melhor samba-enredo). Com seus bonitos desfiles, Salgueiro (principalmente), Viradouro, Mangueira e Tijuca também eram cotadas para as primeiras colocações, mas não pareciam ter força suficiente para ameaçar a vitória nilopolitana, pois falharam em algum momento.

A Verde e Rosa liderou a apuração depois dos dois primeiros quesitos (Comissão de frente e Enredo), mas caiu para o quarto lugar depois da leitura das notas de Harmonia, atrás da nova líder Beija-Flor, Grande Rio e Viradouro. A esta altura, o Salgueiro já havia perdido muito terreno e estava praticamente fora da briga.

Dali até o fim da apuração foi um passeio tranquilo da Beija-Flor, que dos 28 julgadores seguintes teve apenas três notas diferentes de dez (totalizando 0,4 ponto perdid0). A Azul e Branco terminou com 399,3 pontos contra 397,9 da surpreendente, para não dizer inexplicável, vice-campeã Grande Rio, que, mesmo com problemas em alegorias, fantasias e evolução, foi menos despontuada do que deveria.

A Mangueira terminou em terceiro lugar, seguida pela Unidos da Tijuca, que somou a mesma pontuação da Viradouro mas superou a escola de Niterói no desempate (Evolução). A Vila Isabel fechou o grupo das seis que voltariam no desfile das campeãs. Já o Salgueiro, que deveria ter brigado pelas primeiras posições, inexplicavelmente ficou num injusto sétimo lugar, à frente da Portela. Caíram Império Serrano e Estácio de Sá.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Beija-Flor de Nilópolis 399,3
Acadêmicos do Grande Rio 397,9
Estação Primeira de Mangueira 397,4
Unidos da Tijuca 397,3
Unidos do Viradouro 397,3
Unidos de Vila Isabel 396,6
Acadêmicos do Salgueiro 396,4
Portela 394,8
Imperatriz Leopoldinense 392
10º Unidos do Porto da Pedra 391,2
11º Mocidade Independente de Padre Miguel 391,1
12º Império Serrano 389,6 (rebaixada)
13º Estácio de Sá 386,5 (rebaixada)

Se a vitória da Beija-Flor foi incontestável, o Carnaval de 2007 não deixou muitas saudades nos amantes dos desfiles de escolas de samba, já que o público em pouquíssimos momentos ficou empolgado e, apesar de alguns bons momentos (sobretudo de Beija-Flor e Salgueiro), houve uma irregularidade patente nas bonitas, mas frias apresentações.

No Grupo de Acesso A, que teve um desfile de nível sofrível, a São Clemente foi a campeã com um enredo que pedia o fim da discriminação a pessoas como gays, negros, nordestinos e funkeiros – apesar do ótimo desfile do Império da Tijuca. No Acesso B, a Lins Imperial conquistou o título com a reedição do enredo “Chico Mendes, o arauto da natureza”, do Carnaval de 1991.

CURIOSIDADES

– O carnavalesco Chico Spinoza passou a integrar a equipe de comentaristas da TV Globo. Ele ficou bastante impressionado com o trabalho de Renato Lage e Márcia Lávia no desfile do Salgueiro, que também emocionou o grande salgueirense Haroldo Costa.

– Infelizmente foi o último desfile completo de Mestre Louro. Um dos grandes diretores de bateria da história do Carnaval carioca, Lourival de Souza Serra sucumbiu a um câncer no estômago, aos 58 anos, no dia 14 de março de 2008. Filho de Iracy Serra, um dos fundadores do Salgueiro, e irmão de Almir Guineto, Louro se consagrou na Vermelho e Branco e ainda defendeu Caprichosos de Pilares e Unidos do Porto da Pedra, sua última escola. No desfile de 2008 ele passou mal no primeiro recuo e somente retornou no segundo, em más condições.

– Ouvi pela primeira vez o samba-enredo da Beija-Flor ainda durante as eliminatórias, pelo (infelizmente) extinto site Tamborins.com.br, e fiquei impressionado pela qualidade da obra, ainda na voz de Bruno Ribas. Cheguei a apostar na redação do jornal em que trabalhava que a Beija-Flor só perderia o título se um meteoro atingisse a Terra. Desta vez, acertei.

– Após a polêmica criada por Benvindo Siqueira no julgamento de 2006, as escolas passaram a se preocupar em destacar as sílabas tônicas nas letras dos sambas. A Mangueira, por exemplo, trocou a entonação de dois versos entre a gravação das eliminatórias e a oficial: “Faz no Palácio do Samba”, que tinha uma entonação “Pálacio do Samba” teve mudanças para não haver riscos de despontuação. Da mesma forma, o verso “Caidás de Mangueira” teve a sílaba tônica destacada “Caídas de Mangueira”. Ficou estranho, mas na apuração a escola levou quatro dez.

– Antes dos desfiles, quem estava cotada como favoritíssima ao título era a Viradouro, graças à chegada de Paulo Barros. Além disso, o refrão principal “Sou Viradouro e vou cantar / Com muito orgulho, com muito amor / Esse jogo vai virar / E eu quero ser o vencedor” era muito popular desde a fase pré-carnavalesca a ponto de as torcidas de Vasco e Botafogo terem cantado os versos no Maracanã, trocando o nome da escola pelos dos times, claro.

– Depois de um longo tempo de inatividade, o grande intérprete Sobrinho chegou a ser anunciado pela União da Ilha para defender o samba “Ripa na tulipa, Ilha”, sobre a cerveja, . Mas o cantor, que já tinha problemas de saúde, não se adaptou ao samba e acabou não participando da gravação e do desfile.

– A Unidos da Tijuca mostrou força e ficou na quarta colocação à frente da badalada Viradouro de Paulo Barros. Mesmo elogiando Barros, o presidente Fernando Horta disse depois da apuração que a escola “não depende de carnavalesco”, frase que repetiria recentemente, depois da saída do profissional após o título de 2014.

– Depois de 21 carnavais, mudou a gravadora responsável pela produção e venda do disco de sambas-enredo: saiu a BMG e entrou a Universal. De 2007 a 2009 a gravação ainda foi num estilo mais artificial, mas depois voltou o estilo de gravação “ao vivo” – comentaremos mais tarde na série Trinta Atos.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro MigãoBarracão Portela 2007 (I)As fotos acima e abaixo, de minha autoria e tiradas na ocasião pelo celular na Cidade do Samba, mostram o estado do barracão da Portela a 18 dias do desfile: carros ainda no chassi, alguma coisa em madeira e muita no ferro.

Aliás, isso seria uma constante nos anos do mandato de Nilo Figueiredo, bem como a demora no anúncio do enredo – feito já em meados de agosto de 2006. Chegou-se a cogitar um enredo sobre a própria escola para aquele ano, assim como foi feito em 2011 – ambas as vezes descartado.

Levando-se em conta que o barracão foi feito em três semanas, o oitavo lugar saiu melhor que a encomenda. Ajudou para isso o bom samba, naquela que até 2011 seria a única disputa “à vera” do mandato do presidente Nilo Figueiredo.Barracão Portela 2007 (II)A Mocidade também só confirmaria seu enredo em meados de julho. A reedição de “A Festa do Divino”, de 1974, chegou a ser considerada pela direção da agremiação à época.

Assisti na Sapucaí aos dois grupos de Acesso nas frisas do Setor 3, desfilando no Boi da Ilha do Governador pelo segundo ano seguido (foto no fim desta seção). Aliás, acho que foi a única vez em que desfilei acompanhando o carro de som.

estácioFoi um pré-carnaval atribulado para Estácio de Sá e Salgueiro: Flávio Eleutério, presidente da primeira, foi assassinado em outubro de 2006 com quatro tiros e encontrado dentro da mala de seu carro (foto). Antecedendo o que também ocorreria em 2014, Guaracy Paes, vice presidente do Salgueiro, foi assassinado na porta da quadra a uma semana do carnaval junto com a sua esposa – seu carro recebeu mais de 20 tiros. Até onde consta, ambos os crimes ficaram sem solução.

O desfile do Acesso A teve um nível técnico fraquíssimo – e mais uma subida controversa da São Clemente. Lins Imperial e Inocentes de Belford Roxo, campeã e vice do Acesso B, disputariam tranquilamente as primeiras posições do grupo anterior.

A Caprichosos não teve seu desfile transmitido pela televisão (então na CNT), porque a sua diretoria não concordou com os valores oferecidos.

A Tradição reeditou não somente o samba: repetiu ipsis litteris todas as fantasias do enredo original de 1994 – e um carro onde o 14 Bis era maior que a Torre Eiffel… Obviamente, foi rebaixada.

A União da Ilha foi bastante prejudicada em seu desfile devido às divergências políticas internas.

A Unidos da Tijuca levou para o Desfile das Campeãs uma faixa onde se dizia “O Borel vira o jogo”, em clara provocação à Viradouro e ao fato de ter se colocado à frente mesmo sem Paulo Barros.

A meu juízo as grandes injustiças do resultado final foram o Salgueiro fora do Desfile das Campeãs (deveria ter ficado, no mínimo, com o vice campeonato) e o não rebaixamento da Imperatriz, que fez de longe o pior desfile do Grupo Especial de 2007. Este mesmo desfile em uma escola com menos força política cairia com uns 15 pontos a menos que as demais, em minha opinião.

Reza a lenda que, além do samba da campeã Beija Flor, um dos autores também estava, sem assinar, em outras três composições do Grupo Especial – inclusive uma delas acho melhor que o premiado samba nilopolitano.

Ainda sobre a Beija Flor, em sua disputa de samba chamou a atenção a força econômica da parceria vencedora, que chegava a levar 30 ônibus com torcedores à quadra por eliminatória e distribuía cestas básicas à torcida e, dizem, a alguns segmentos. Que fique claro que a composição tem ótima qualidade.

O Império Serrano tinha um de seus carros andando “de marcha a ré” – a frente era a traseira e vice versa. De acordo com relatos de amigos, pessoas na arquibancada acusavam o motorista de “estar bêbado” por ter deixado o carro entrar ao contrário na avenida.

A propósito, a escola repetiu o erro de seu cinquentenário e foi punida com o rebaixamento – e, pior, o patrocínio prometido não veio… O enredo, originalmente, seria sobre a Síndrome de Down, sendo “alargado” durante o desenvolvimento.

No Acesso B, durante o desfile da Alegria da Zona Sul um diretor de Harmonia virou para outro e gritou: “- Canta, porra!” Recebeu como resposta: “Canta você”. pano rápido…

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Links

O desfile que deu o título à Beija-Flor

A boa apresentação da Mangueira em 2007

A criativa exibição da Unidos da Tijuca

A bonita apresentação da Viradouro

Fotos: Liesa, O Globo,G1 e O Dia

16 Replies to “Sambódromo em 30 Atos – “2007: Beija-Flor recupera título em ano de desfiles frios””

  1. 2007 foi um desfile chatinho, chatinho… Dá nem pra comentar, o título da Beija-Flor foi merecido ao meu ver (um dos poucos) vale destacar a garra do Luizito que desfilou contrariando a ordem médica! A bateria da Viradouro protestou nas campeãs colocando narizes de palhaço, e chegou a vir com tamborins escritos com os dizeres: “9.8? É palhaçada” curiosamente, a partir de 2007 a Viradouro começava a descer a ladeira até o rebaixamento três anos mais tarde. O Acesso da São Clemente, preciso dizer alguma coisa a não ser… CONTESTÁVEL? e no B, a Lins foi campeã com o samba que havia rebaixado a escola em 91. Coisas do carnaval…

    Detalhe: nas curiosidades, sobre o Paulo Barros ao invés de 2014 foi colocado 2013.

    Pra finalizar, o que fizeram com a Beth Carvalho foi triste, diria mais INACEITÁVEL

      1. Outro detalhe: se eu não me engano, naquele ano o Wander Pires foi pro desfile da Grande Rio de muletas. e houve até investigação policial meses depois, cogitando até a anular o resultado, alguma coisa do tipo, não lembro.

        1. Este fato será abordado na próxima coluna. Mas até hoje não ficou esclarecido o que era os tais “kits dos jurados”

  2. Um dos destaques desse ano foi o Roberto Horcades, então Presidente do Fluminense, que voltou no tempo e só deu notas fracionadas em 0,5.

  3. De fato, um ano que não deixou muitas saudades, a não ser pela bela exibição da Beija-Flor, e do Salgueiro (apesar do PÉSSIMO Samba). Salgueiro merecia o vice, sem dúvida!
    Enfim, não tem muito o que falar desse ano, a não ser tb sobre a Viradouro, que bem que poderia mudar o nome de seu Enredo para “A Viradouro abre o jogo”, já que no pré-carnaval ela contava tudo o que ia acontecer no seu desfile, acabando com o efeito surpresa… O jornal “Extra” da quinta-feira anterior ao Desfile mostrava praticamente todo o desfile em desenho rs
    Ah, vou discordar MUITO de vc quando disse que a Porto da Pedra fez um desfile livre de rebaixamento… Pra mim, era ela e o Império rebaixados… E o Samba dela não rendeu bem, ao contrário do que vc diz… Foi cantado em tom menor e acabou morrendo no desfile, infelizmente, pq era o melhor samba do ano! Milton Cunha exagerou em certos momentos, como numa ala em que os componentes fantasiados de elefantes tinham a tromba numa posição muito indecente (me lembrou uma Alegoria da Beija-Flor de 96, que tb era do Milton, o que me faz ter a certeza de que é intencional por parte dele rs)
    Sobre o Acesso, pouco sei, pois nunca assisti, mas o samba da Ilha era triste e chato…

  4. – O samba da Beija-Flor teve várias subidas de tom em relação ao original, principalmente no refrão central. Ao contrário da maioria das subidas, estas considerei adequadas e achei que melhoraram ainda mais o belo samba.

    – Na época da divulgação do samba campeão da Grande Rio, quase ninguém sabia quem era Perácio. O samba era quilométrico toda vida, mas a bateria do Mestre Odilon mais uma vez teve uma atuação épica.

    – Eu me recordo de ver um vídeo em que o Raymundo de Castro, o senhor que vociferou contra a presença da Beth Carvalho na alegoria, aparece dias depois do desfile vibrando com a exclusão da cantora. Raymundo seria em 2013 candidato à presidência da Mangueira, perdendo pro Chiquinho. Já a Beth, na época, foi acusada de não colaborar com a escola na ocasião e que aparecera somente para desfilar. Mas ela já tinha os crônicos problemas na coluna.

    – Recomendaram que o Luizito não participasse do desfile das campeãs. E lá estava lá, com pontes de safena, cantando o desfile inteiro. Foi uma das maiores demonstrações de amor ao samba que eu vi. Salve Luizito!

    – O incêndio da alegoria tijucana, no sábado das campeãs, se não me salva a memória foi o maior desde o da Viradouro em 1992. Foi também bem chocante!

    – Candaces, nem me lembrem… Ano em que os amiguinhos de um compositor do samba do Salgueiro pegaram no pé do site Sambario devido às críticas do samba ao João Marcos, que avaliou mal a obra salgueirense. O samba infelizmente não teve um bom rendimento, prejudicou demais a harmonia e a caneta se deveu e muito aos cacos do Quinho (“Do mito a hisÔÔÔ, encanto e leÔÔÔ”), com mais de um jurado relatando os ôôôs.

    – Eu sou um dos poucos que curte o samba da Imperatriz, pois é o único que é sincero quanto aos atuais andamentos das baterias “Eu vou de samba afrevado num chamego arretado…”. Muito também por contar com a voz do mito Preto Jóia.

    – No lindo samba da Porto da Pedra, geral encrencou com o verso “mas cor não tenho”, alertando que o “cornão” poderia originar um novo cacófato. E até hoje não entendi aquela introdução do Rei Leão na abertura da faixa do CD. Na minha opinião, uma das intervenções mais desnecessárias da história dos discos de Carnaval.

    – A comissão de frente da Mocidade, com o homem saindo de dentro do livro, inspirou uma do Carnaval de Porto Alegre em 2014, quando a Vila Isabel de Viamão utilizou uma concepção praticamente idêntica, dessa vez com um Adão e uma Eva.

    – A novela “Páginas da Vida” exibiu o desfile imperiano durante um capítulo inteiro, já que a Helena de Regina Duarte adotara uma menina com síndrome de down (“moçamunita”).

    – Foi doloroso amargar os rebaixamentos de Império Serrano e Estácio de Sá.

    – Samba original da Caprichosos era emo e chorão ao extremo: “Caprichosos quer voltar, na verdade não deveria sair”. Depois mudaram para “Pra fazer Pilares cantar mais feliz”.

    – A transmissão da CNT só iniciou a cobertura do desfile da Cubango lá pelos 40 minutos de apresentação, já com quase toda a escola na dispersão, devido a uma longa e maçante entrevista de Jorge Perlingeiro com César Maia.

    1. Moçamunita eu ri!

      2007 teve indícios de manipulação de resultado. Eu acharia que a Grande Rio seria a campeã depois do carnaval, devido investigações envolvendo Anísio e Cia.

  5. Esse imperatriz 07, e uma das coisas mais horrendas que já vi.Pau a pau com Mocidade 09 e Portela 05

  6. O que fizeram com a Beth Carvalho se iguala ao que aconteceu com a Velha Guarda da Portela.

    No mais, título inquestionável para a Beija-Flor e um 11º MUITO INJUSTO para a Mocidade, que àquela altura não tinha mais nenhuma força política. E concordo que a Imperatriz deveria ter caído.

    No mais, não culpemos Paulo Barros pelo desfile atrapalhado da Viradouro (bateria chegando no recuo com 62 minutos foi de acabar com a evolução). Lembrem-se de quem era o presidente da Viradouro e o que ele fez com a escola.

    Excelente texto, Fred! Como sempre! E ainda mataram uma dúvida minha, que achava que o carro “de cabeça pra baixo” da Viradouro tivesse sido em 2008!!

    1. Só pra constar pode se confirmar vendo em qualquer video no qual mostra a bateria descendo do carro, que ela desceu aos 55 minutos de desfile,se fosse aos 62 cm vc disse logo a viradouro iria perder inúmeros pontos em harmonia o que n ocorreu…veja antes de falar merda

      1. Tua mãe te ensinou a ser mais educado??

        E não foi com 55 minutos, porque até o Cléber Machado soltou um “quase 1 hora de desfile e só agora há a troca das ‘peças de xadrez’ na alegoria”, não sei se nestes termos, mas algo bem próximo a isso.

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