Em mais um texto da cobertura especial de Carnaval do Ouro de Tolo, o estudante Leonardo Dahi comenta a primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo.
Primeira noite sem brilho no Grupo Especial de SP
Sempre que o Carnaval de São Paulo foi tema aqui no Ouro de Tolo, os comentários principais eram: a escola a ser batida é a Mocidade Alegre. Depois de sete das 14 escolas desfilarem, podemos dizer que, até agora, nenhuma delas desfilou para vencer a Morada do Samba.
Os trabalhos foram abertos pela Leandro de Itaquera, que, apesar do belíssimo samba, passou completamente muda pela Avenida em seu desfile sobre a paixão do brasileiro pelo futebol. A ideia do enredo foi bem desenvolvida e a comissão de frente foi bastante criativa, simulando o momento do pênalti e trazendo componentes fazendo malabarismos com a bola.
O problema, porém, foi a realização das alegorias e fantasias de Marco Aurélio Ruffim. O carnavalesco, voltando para a escola, não foi feliz na escolha das cores do abre-alas, que passou muito claro e, para não usar meias palavras, feio com muitos leões (símbolo da escola) e uma cópia deveras mal feita da Brazuca, a bola do Mundial. Os demais carros também me decepcionaram na parte plástica, com muitos adereços desnecessários e um acabamento não muito feliz. Para piorar, caiu uma chuva danada no Anhembi na hora do desfile. Em suma, foi uma apresentação digna de rebaixamento, apesar do excelente desempenho da bateria do Mestre Pelé e do intérprete Juninho Branco.
Em seguida, desfilou a Rosas de Ouro. Falando de momentos inesquecíveis na nossa vida, a escola da Freguesia do Ó apresentou mais um desfile impecável plasticamente. Jorge Freitas, um dos melhores carnavalescos do Brasil atualmente, esbanjou bom gosto na divisão cromática da escola e na realização de fantasias e alegorias, com exceção da última, que considerei simples demais.
Simples também foi a comissão de frente. A ideia de retratar personalidades “inesquecíveis” foi boa, mas os tais personagens só andavam de um lado para o outro. Faltou aproveitar melhor. O samba, apesar de fraco, foi bem cantado pelos componentes, mas a bateria do Mestre Rafael Gordinho foi um desastre. Além das paradinhas mal realizadas, o andamento certo do samba só foi encontrado no meio do desfile, o que pode custar pontos preciosos para a escola. Enfim, foi um desfile para brigar por título, embora, ao meu ver, tenha sido inferior ao de 2013 e muito longe de uma escola campeã de fato.
Em seguida, veio a renovada X-9 Paulistana. Mais alegre, mais animada, mas com o mesmo desenvolvimento tosco de enredos e com alegorias que não querem dizer nada com coisa nenhuma. O samba até que rendeu bem em mais uma grande interpretação de Royce do Cavaco, mas o enredo sobre a insanidade não foi bem aproveitado em sua metade inicial.
Quase todas as alas e carros falavam de hipnose e a ideia era dar efeitos bacanas mesmo que os mesmos não fizessem sentido, como no carro abre-alas. A comissão de frente estava bem vestida, embora a roupa não tenha acendido por causa da chuva que voltara a cair, mas também não representou muita coisa. O desfile melhorou consideravelmente na sua metade final, que apresentou boas fantasias e alegorias, mas foi apresentação típica de meio de tabela, como a X-9 tem se acostumado a fazer.
A quarta escola a desfilar foi a Dragões da Real, que trouxe os anos 70 e 80 para a Avenida e fez um desfile muito, mas muito bom mesmo. O samba funcionou bem até os 40 minutos de desfile, depois se arrastou um pouco, mas, plasticamente, o desfile foi impecável. A comissão de frente foi espetacularmente bem desenvolvida, embora houve um enorme exagero no tamanho do tripé.
O abre-alas também foi bastante criativo e o enredo todo foi contado com correção, afora uma ou outra ala deslocada. Os carros estavam bem acabados, bem trabalhados e a harmonia da escola foi muito bem. Tivemos algumas falhas na evolução, mas foi um desfile para brigar lá em cima. Só um detalhe: não foi feito pela Rosa Magalhães de jeito nenhum.
Em seguida, veio a Tucuruvi com um desfile que foi a cara da escola e do carnavalesco. Esse sim seria um desfile para bater a Mocidade. Seria. Wagner Santos foi mais uma vez muito feliz nas alegorias e fantasias. Coloridas, com bastante informação, criativas, apesar do acabamento não estar perfeito, elas causaram bom impacto. O samba foi bem cantado por Wantuir. A comissão de frente não comprometeu e a fantasia do primeiro casal foi a melhor da noite.
Porém, dois quesitos comprometeram todo o desfile: enredo e harmonia. O enredo ficou confuso, contraditório e misturou muito os setores, enquanto a harmonia destruiu a escola. Alas inteiras passaram sem cantar em uma repetição do ocorrido em 2012, quando a escola só perdeu pontos no quesito e acabou em sexto lugar. Uma pena, mas dificilmente o Zaca levará o título, embora quesito a quesito tenha sido um dos melhores desfiles da noite.
A penúltima escola foi a Vai-Vai. Com um duvidoso enredo sobre Paulínia, a escola me decepcionou bastante. O samba rendeu bem menos que nos ensaios técnicos e as alegorias do Carnavalesco Chico Spinosa não apresentaram bom acabamento, além de a concepção não ter sido das mais felizes. Algumas fantasias estavam muito bonitas ao passo que a Comissão de Frente representou a relevância de um enredo sobre Paulínia, ou seja: nada.
Como é a Vai-Vai, acredito que brigue lá em cima, mas foi desfile pra meio de tabela. A bateria do Mestre Tadeu não fez as paradinhas que ele tanto prometeu, mas foi bem, tal como a harmonia da escola. Na evolução, alguns buracos foram abertos.
A última escola foi a Tom Maior, que falou sobre Foz do Iguaçu e fez um desfile para se salvar com tranquilidade do rebaixamento. As alegorias estavam bastante luxuosas, mas de gosto duvidoso em termos de concepção. Um problema do desfile foi na escolha das cores. Como a escola desfilou de manhã e falou sobre Foz do Iguaçu, poderia ter aproveitado melhor o azul e o branco, ao invés de apostar em cores mais fortes que não causaram o efeito desejado. Algumas fantasias estavam bem bonitas, ao contrário de outras como a dos turistas fotógrafos, mas nada que preocupasse a escola.
Só que a Tom Maior acabou, sim, como o pior desfile da noite em termos de nota. É que o primeiro carro empacou na concentração e só entrou na Avenida quando o desfile tinha 11 minutos. Para se ter uma ideia, a escola gastou metade do tempo máximo para a comissão de frente chegar ao meio do Anhembi. Para fechar o desfile no tempo máximo, a escola correu desesperadamente e deve perder muitos pontos em evolução.
Para piorar, o abre-alas, para chegar até o final, teve que andar com um trator acoplado e este tinha sua marca aparecendo visivelmente, o que deve acarretar perda de um ponto.
Em suma: foi uma noite decepcionante e que deixou a sensação de que a campeã não passou.
Parei de ler o texto quando o autor disse que o samba da Leandro é belíssimo…