Quando me convidaram para falar sobre Manaus e Copa do Mundo, questionei-me se como paulistano poderia aceitar esse desafio. A rigor, nessas quase duas décadas radicado no coração da selva, ainda assim sou apenas um aventureiro de passagem. Mas porquê não tentar?

Se o espaço é para falar sobre Copa do Mundo e aqui somos um dos locais mais improváveis para sediar um evento como esse, vamos lá. Sejam bem-vindos à Amazônia e celebremos todos o Hexa que virá. Em tempo, ajustem seus relógios, pois nessa época estaremos com uma hora a menos em relação a Brasília.

Em termos de oferta de jogos (vide tabela ao final do artigo), dona FIFA até que foi generosa com a nossa sede. Receberemos quatro jogos da primeira fase e pronto, acabou. Por aqui espera-se ansiosamente pelo Cristiano “eu estou aqui” Ronaldo, não se fala em outra coisa. Além do melhor jogador do mundo em atividade, seremos brindados com a passagem de Inglaterra e Itália, disputando um jogo chave no dito “grupo da morte” que reúne três campeões mundiais, incluindo aí o Uruguai de triste lembrança quando o assunto é Copa do Mundo no Brasil. Os Estados Unidos, que a cada competição FIFA demonstram que não são apenas suas meninas que batem um bolão, além de Camarões, Croácia, Honduras, Suíça e Portugal, ora pois. Os ingressos estão praticamente esgotados, sinônimo de “casa cheia” e muita agitação com a invasão de fãs de diversos países…

arena_amazonia_820Mas será que é isso mesmo? O que esperar da cidade e das pessoas? Felinos à espreita e símios saltando nos fios e telhados? Uma metrópole moderna e segura com um povo educado e cordial, preparado para acolher bem e proporcionar uma experiência única aos visitantes?

Em tempos de discurso politicamente correto, prefiro parafrasear o Sr. Valcke para definir o que esperar da nossa cidade: “Não é a Alemanha…”

Ou seja, pode vir tranquilo, mas prepare-se para encontrar aqui as mesmas mazelas das nossas grandes cidades. Hoje, Manaus é uma área urbana com mais de 2 milhões de habitantes, totalmente isolada por via terrestre das demais regiões do Brasil. No dia a dia, “Com Licença, Por Favor e Obrigado” não fazem parte do vocabulário da maioria, no vaivém dos locais e transportes públicos. É mais fácil ouvir um “deixe eu passar…”, mas já passando, entende? Todo mundo por aqui é bacana, mas não muito gentil e polido.

Para ir e vir pela cidade é melhor evitar os moto-taxis, eles são ágeis e abundantes, mas não muito seguros, em todos os sentidos. As linhas de ônibus são o único meio de transporte público, além dos táxis. Nada de metrô ou trem urbano. O Monotrilho da Copa ficou só no projeto, sabe como é… Se decidir por alugar um carro, use o App Waze para se orientar, não ouse tentar se deslocar com um GPS: vais perder mais que tempo, vais perder o rumo.

Na mala de quem vem, recomendo incluir os tecidos mais leves e ventilados. A temperatura média começa a subir nessa época, pois coincide com o início da estiagem. Embora nesse início de junho continue chovendo todos os dias. A umidade relativa do ar é em torno de 98%, o que indica muita transpiração à vista. O povo aqui chama essa época de verão, já que a temperatura sobe muitos graus com a falta de chuvas, mas tecnicamente, é o inverno seco na Amazônia. Ao contrário do seu verão chuvoso (chamado de inverno por conta da queda da temperatura média).

fotógrafo Gideão SoaresA Copa do Mundo em Manaus não é só de futebol, também é uma oportunidade para confraternizar e se divertir. Até porque, para quem é FLAMENGO, está difícil se divertir com futebol nos dias de hoje. Nessa questão de acolhida e calor humano, e bota calor nisso, Manaus não ficará devendo nada a qualquer outra sede, pode ter certeza.

Índio quer apito e como em outras praças teremos um Fan Fest com diversas atrações nacionais. O local escolhido para isso, o bairro da Ponta Negra, é uma das melhores áreas residenciais da cidade, com shopping center, gastronomia e áreas de lazer, inclusive com uma praia, apesar do bairro ficar relativamente distante do centro. Por estar situado na beira do Rio Negro, o acesso ao local é limitado e pode ser demorado chegar e sair, principalmente em dias de jogos. O chamado legado de infraestrutura e logística, de fato não rolou por aqui. Provavelmente, a prefeitura implantará linhas extras de ônibus para atender a demanda, mas nada anunciado publicamente, até o momento. Como o transporte público não é um dos orgulhos desta sede (e de nenhuma outra, ao que parece), nessa área preparem-se para menos, do mesmo que há por aí…

Como ninguém é de ferro, na hora de repor as energias pode-se aproveitar a oportunidade para conhecer a culinária local, cuja base é o pescado e os produtos agrícolas regionais. Fica aqui uma dica: “Quem come Jaraqui com farinha do Uarini, nunca mais sai daqui…” Essa é uma lenda urbana popular entre os Manauaras para zoar os visitantes. O Jaraqui é um peixe de consumo popular e eu recomendo cuidado com o consumo dessa farinha do Uarini porquê é dura como pedra e tem uma moagem, grossa.

TAMBAQUI-ASSADO-NO-FESTIVAL-GASTRONÔMICO-20061Eu particularmente, prefiro o sabor do Tambaqui, seja assado, frito ou guisado, mas há outros peixes regionais como o Pirarucu, Matrinchã, Tucunaré, Pacu e até Piranha, que dizem, ter um caldo afrodisíaco, tal qual o da genitália de boto. Prefere o azulzinho ou não quer arriscar o tempero local?

Em Manaus, encontram-se restaurantes chineses, árabes, italianos, portugueses, enfim. Do abundante rodízio de carnes ao frugal japonês, não faltarão opções ao amante da boa mesa, mas prepare-se para pagar bem por isso. Quando a bola não rola, os rios são as estradas amazônicas: uma vez em Manaus, não deixe de fazer um tour fluvial. São muitas as opções disponíveis, que em geral incluem passeios na floresta, visita a comunidades ribeirinhas, com direito a participação em rituais folclóricos, fotos com animais silvestres e outras coisas para inglês ver. Dependendo do seu poder aquisitivo e do senso de aventura, uma estadia ou ao menos uma visita aos hotéis de selva do entorno pode ser uma experiência inesquecível. Existem também cruzeiros amazônicos em embarcações de luxo que batem de frente com seus similares marítimos.

Deixe-se surpreender pelas coisas da improvável Manaus, não tenha medo de experimentar o Jaraqui e por favor: se ouviu, esqueça esse papo de Zona Franca para compras baratas, isso existia naquele tempo antes do Collor.

Selva, comandante!

(Por Waldir Nonato – Um brasileiro, nascido em SP/SP no longínquo 20/10/1961. Minha redenção se deu com literalmente 30 anos de praia no RJ, ainda Estado da Guanabara. Morei na Gávea e estudei no Gilberto Amado, de frente para o CRF. Um paulistano Rubro-Negro de quatro costados, no sentido popular, sempre geraldino. Analista de Sistemas e Empresário, casado, quatro filhos. Em fase de preparativos finais para um ano de estudos no exterior e pensando logo em voltar para encontrar as águas na Amazônia. Lembram do papo de comer Jaraqui e tals?)

Jogos na Arena Amazônia

Grupo D 14/06/2013 18:00 Inglaterra X Itália
Grupo A 18/06/2013 18:00 Camarões X Croácia
Grupo G 22/06/2013 18:00 EUA X Portugal
Grupo E 25/06/2013 16:00 Honduras X Suíça

3 Replies to “Cidades da Copa: “Manaus não é a Alemanha…””

  1. Algumas dicas de um paulista e só para complementar:
    Manaus sedia o Teatro Amazonas, um dos mais bonitos do Brasil; O Mercado Municipal (não sei se já reabriu) é uma boa pedida; Tem o Zoo do CIGS (caminho da Ponta Negra), o Bosque do INPA (Aleixo) e a Reserva Ducke (Cidade de Deus) para quem quer ver um pouco da fauna e flora amazônica. Tem alguns museus e centros culturais e vários shoppings. Outro passeio bom e (relativamente) barato é conhecer as cachoeiras de Pres. Figueiredo, cerca de 100 km ao norte, na BR 174.
    Por fim, em junho tem os ensaios para o Festival de Parintins e no final do mês ocorre o grande Festival lá em Parintins!

    1. Pois é, um belo conjunto arquitetônico no centro da cidade. Além dos que você citou, eu incluiria o Palácio Rio Negro. O calçadão de Copacabana é inspirado no calçamento em frente ao Teatro Amazonas, que por sua vez emula o Encontro das Águas. O mercado municipal Adolpho Lisboa está aberto sim, junto com o Porto é a memória viva da influência inglesa no tempo da Paris dos Trópicos.
      Manaus tem muito mais coisa do que tive habilidade para incorporar ao texto sem descaracterizar o tema…

  2. gostei do comentário do valdir, claro que faltou detalhes mais profundo sobre a nossa cidade. nós não somos uma ssao paulo e muito menos rio de janeiro. mais garanto que o povo amazonense é sim um povo alegre e divertido.

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