Cidades da Copa: “Porto Alegre, a Copa no Frio”

Quem mora no Sudeste para cima tem a falsa impressão de que Porto Alegre é a capital mais fria do país, que na verdade é Curitiba. Mas para padrões brasileiros Porto Alegre é, sim, muito gelada, no inverno são comuns dias a fio com a temperatura na casa dos 5º C. Para um carioca, cuja noção de frio estava associada a vestir casaco em dias chuvosos, foi estranho aprender que a melhor notícia do inverno são justamente esses dias, porque a chuva espanta a massa polar e eleva a temperatura. Aqueles dias ensolarados são terríveis.

O turista que vier a Copa vai começar a gostar da cidade na chegada: em comparação com qualquer outra cidade brasileira que conheço, Porto Alegre tem a melhor saída de aeroporto. Além de ser perto da região central da cidade (não se gasta mais de R$ 30,00 para ir a qualquer hotel que conheço ou direto ao estádio), os taxis do aeroporto (brancos) cobram o mesmo do que os taxis “comuns” (que são alaranjados). E não há exclusividade, nem no aeroporto, nem em qualquer ponto de taxi da cidade, se os taxistas da cooperativa não estiverem, outros taxis podem entrar na fila – por isso raramente falta taxi e é bem comum ver taxis laranjas apanhando passageiros sem qualquer restrição.

A reforma do aeroporto não ficou pronta, mas ninguém vai perceber isso, porque o que atrasou foi a reforma da pista. Nos 2 terminais não há tapumes ou obras em andamento. O terminal 1, mais novo, tem uma oferta melhor de alimentação, o terminal 2 (onde pousam apenas vôos da Azul) deixa a desejar. E uma coisa legal ficou pronta: um aeromóvel, um pequeno trem suspenso movido a ar, liga o terminal 1 diretamente à estação de trem, onde se pode ir até a Rodoviária ou ao centro da cidade.

A rede hoteleira foi ampliada por conta da Copa e a melhor notícia é de que não há hotéis caríssimos, os melhores 5 estrelas cobram diária abaixo de US$ 300.00. Em compensação, não há muitas opções de hotéis econômicos.

Os portoalegrenses se queixam do trânsito, mas ele é melhor do que no Rio, SP, BH, Salvador ou Brasília. Está pior por conta de obras de mobilidade, que deveriam ter ficado prontas para a Copa, mas não ficaram – efeito colateral das Jornadas de Junho: o prefeito, acuado, resolveu desacelerar o ritmo das obras em resposta aos protestos e deixou os canteiros de presente para a população.

A cidade tem duas zonas boêmias: a Cidade Baixa e o bairro Moinhos de Vento. A primeira reúne gente descolada, intelectuais, posers, roqueiros (a cidade tem uma relação sólida com o Rock), mas tem o inconveniente de fechar às 2 da manhã, para atender as reclamações dos moradores, porque embora lembre levemente a Lapa carioca, é uma região residencial. A segunda faz mais o estilo mauricinho, é frequentada por gente bonita e endinheirada – e como tem gente bonita nessa cidade -, um desfile de carrões, bolsas de grife e uma impressão forte de que não se está no Brasil.

Por falar em vida noturna, se o turista for homem ou grupo de homens, invariavelmente receberá um convite para frequentar algumas das famosas casas de tolerância da cidade. Porto Alegre cultiva uma relação muito amistosa com a prostituição, que anuncia livremente nos jornais, outdoors e até mesmo na TV. E esse mercado se movimenta mediante comissão, portanto o taxista deverá insistir para levá-lo até a Tia Carmem ou ao Gruta Azul, em busca de uma gorda gratificação.

As melhores opções culturais são o Museu Iberê Camargo (bem perto do Beira-Rio, com boa vontade dá para ir caminhando) ou a região do centro, com museus e centros culturais. Vale também uma visita ao meu lugar predileto na cidade, o Mercado Público, uma espécie de feira em um prédio antigo, com as melhores iguarias encontráveis por aqui.

Distantes mais ou menos 1h30min da capital há duas opções de passeio bem legais.

A primeira é Gramado/Canela, com restaurantes incríveis, parques temáticos (dá até para esquiar em neve artificial) e diversão para todas as idades. Li no jornal que mil argelinos já fizeram reserva antecipada para passear no trenzinho turístico da cidade – bom, se passear em algo tão insosso como um trenzinho já atraiu tanta gente, fico imaginando a fila no parque de neve.

A outra é o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, onde é possível conhecer vinícolas e degustar vinhos da região – alguns, bem melhores do que vinhos importados que as pessoas tomam com ar esnobe. Se alguém não gosta de beber pode aproveitar para passear de Maria Fumaça e conhecer as raízes da colonização italiana, terminando o passeio no enorme varejo da fábrica da Tramontina, onde se pode comprar quase tudo que a empresa fabrica a preços bem em conta. E não pense que é diversão de mulherzinha: a parte de utensílios de churrasco e de ferramentas é de encher os olhos de qualquer marmanjo.

No dia do jogo, a grande vantagem do Beira-Rio é justamente a sua localização privilegiada. Dependendo de onde for seu hotel, dá até para ir caminhando (com alguma disposição). Ou, de taxi, vai ser barato. A parte chata é que a troca de ingressos fica em um shopping DEPOIS do estádio (no sentido da localização dos hotéis). Recomendo fortemente trocar antes do dia da partida. A saída não é um exemplo de fluidez, mas ainda assim melhor, por exemplo, que o Maracanã.

Finalmente, se quiser levar um regalo futebolístico da cidade, a dica de ouro: não compre camisa do Inter, muito menos do Grêmio. A camisa mais original da cidade é da FLA RS, Embaixada do Mengão em Porto Alegre. Se quiser uma, é só falar comigo, custa R$ 50,00 e é lindona.

Enjoy your stay!

Jogos:

França e Honduras – 15/06 às 16 horas;

Austrália e Holanda – 18/06 às 13 horas;

Coréia do Sul e Argélia – 22/06 às 16 horas;

Nigéria e Argentina – 25/06 às 13 horas;

Oitavas de Final (1G vs 2H) – 30/06 às 17 horas;