O clima de Copa, enfim, toma conta das ruas. É bastante comum presenciar marmanjos trocando figurinhas próximos às bancas de jornais do Centro de São Paulo, por exemplo. Há quem diga que as ruas estão menos enfeitadas, mas é sempre bom lembrar que não é apenas na conclusão de obras que os brasileiros têm fama de deixar tudo para a última hora. Também começaram a serem formados os “bolões” com prognósticos dos resultados dos jogos. Afinal, o palpite é – até mais que o futebol – o verdadeiro esporte nacional.
Como dar opinião é o que eu mais faço aqui na Sobretudo, eu não poderia deixar de fazer minhas apostas sobre os grupos e confrontos mais importantes desta Copa. Tudo fica ainda mais engraçado porque, por mais que eu tente seguir alguma lógica e explicar meus palpites, findada a Copa veremos que cometi erros grotescos de futurologia. Mas vamos ao que, pelo menos eu, enxergo como razoável como resultado dos embates. E que caminho cada seleção fará, grupo por grupo, na corrida até a final, no Maracanã, no dia 13 de julho.
Eu vejo o grupo do Brasil como bem próximo do ideal. Não há nenhuma pedreira muito difícil pela frente, mas todos os times têm uma força relativa e imporão dificuldades. A vantagem disso é que o Brasil terá que entrar de cabeça no torneio desde o início e chegará às fases posteriores mais bem treinado e testado.
Ainda assim, não acho nada impossível passar de fase em primeiro lugar, com três vitórias. Nenhuma delas virá com facilidade, a menos que Camarões chegue à última rodada já eliminado.
A briga pela segunda vaga será boa. A Croácia, que é a equipe mais forte, leva a desvantagem da tabela. Se perder na estreia contra o Brasil (jogo em que não contará com seu principal atacante, Mandzukic), enfrenta Camarões na segunda rodada precisando de uma vitória. O desafio é encarar este jogo no calor amazônico, já que a partida está marcada para Manaus. Se os camaroneses – que têm uma equipe mais fraca, mas não menos experiente – tirarem proveito desta vantagem, pode complicar.
Já o México fará suas três partidas em cidades próximas, no Nordeste. Tem uma equipe que está recuperando a confiança, depois de quase se perder nas eliminatórias. Tem talentos e trará mais torcida que seus adversários. Se iniciar a participação bem, tem mais chances de ficar com a segunda vaga do grupo, o que é minha aposta.
Temos neste grupo três equipes fortes e uma bem abaixo do nível destas: a Austrália. Eu parto do princípio que ninguém que tenha ambições reais pode perder ponto para os Soceroos. Tratemos, pois, do “triangular” entre Espanha, Chile e Holanda.
A Espanha, ainda que não tenha mais o mesmo brilho que a fez campeã em 2010, é superior aos rivais. Tem o conforto de até poder empatar o primeiro jogo, contra a Holanda, porque ainda entraria nos dois jogos posteriores como franca favorita. É minha candidata a fechar a fase de grupos na liderança, escapando de um confronto contra o Brasil nas oitavas.
Tudo caminha para que a decisão sobre esta discutível honra seja disputada na terceira rodada, no confronto direto entre Holanda e Chile, em pleno Itaquerão. E, na minha opinião, contrária à da maioria das pessoas, é o Chile que leva esta.
Porque a Holanda vem de um desgaste físico maior, estará atuando fora de seu continente, acaba de perder um jogador importante (Van der Vaart), jogará com a antipatia da torcida local (foi a equipe que eliminou o Brasil em 2010), tem seus dois principais craques bem mais envelhecidos (Robben e Sneider) e enfrentará a melhor geração da história do futebol chileno. De quebra, a equipe andina é treinada por Jorge Sampaoli, um dos melhores técnicos em atividade, da escola ofensiva de “el loco” Bielsa.
A Colômbia sobra neste grupo, mesmo com o corte de Falcao Garcia. Em minha opinião, se classifica até com facilidade. A segunda vaga fica disputada por equipes de estilos completamente diferentes, mas que se equivalem em qualidades e defeitos.
Já na primeira rodada, Japão e Costa do Marfim se enfrentam em Recife, em jogo que pode decidir o destino de todos. A temperatura pode favorecer os africanos, mas os japoneses são mais disciplinados e equilibrados taticamente, além de bem mais estruturados na defesa. Portanto, se souber ditar o seu ritmo, dando campo ao adversário e saindo no contra-ataque preciso, pode inclusive reverter a questão da temperatura a seu favor. No banco, conta com a experiência do italiano Alberto Zaccheroni, que deu consistência à equipe.
A Grécia, ao contrário de seus adversários de grupo, é mais uma vez equipe travada, que procura jogar fechada e no erro do adversário. Costuma funcionar na fase eliminatória, em que é possível atuar com paciência e somar pontos aos poucos. Mas num torneio de tiro curto, como a Copa, é imperioso buscar o resultado. Portanto, pode atrapalhar os planos de algum rival, mas tem poucas chances de classificação.
Aposto, portanto, no Japão, com alguma chance para a Costa do Marfim.
No chamado grupo da morte, se alguém tropeçar na frágil Costa Rica merece voltar para casa antes da hora. Deve valer o “triangular” entre as equipes que têm no currículo campeonatos mundiais.
Itália e Inglaterra têm a desvantagem de fazerem o primeiro jogo entre si, e logo sob o calor da mais inadequada das sedes: Manaus. A Itália acaba de perder o seu único jogador com criatividade para municiar diretamente o ataque: Montolivo quebrou a perna na último amistoso. Assim, perde o elo entre a inteligência de Pirlo e a força ofensiva de Balotelli. A organização defensiva sempre presente em equipes da “bota” não deve ser suficiente para conter a impetuosidade de uma Inglaterra renovada e cheia de jogadores bastante jovens.
A se confirmar esta vantagem, a Inglaterra chega a São Paulo para enfrentar o Uruguai podendo apostar num empate, resultado que agradaria a ambos. A Itália, depois de muitos deslocamentos, chegaria à rodada decisiva contra o Uruguai em outra cidade quente: Natal. Ou seja, se tiver pretensões reais, a Itália tem que desmentir sua tradição em Copas (sempre inicia mal) e entrar firme na disputa desde o primeiro jogo, revertendo sérias dificuldades que lhe estão sendo impostas.
Se o atacante Luis Suárez estiver recuperado até a segunda rodada, aposto que o Uruguai liderará o grupo, seguido pela jovem Inglaterra.
Não acredito que Honduras conseguirá sequer endurecer algum jogo, muito menos tirar pontos dos adversários. A menos que a Suíça chegue com pouca ou nenhuma chance de classificação a Manaus, na terceira rodada.
Por outro lado, apesar de ter um time apenas mediano, a França poderá se dar ao luxo de um tropeço e, ainda assim, chegar em primeiro lugar – apesar do corte de Ribéry.
Fica a segunda vaga em disputa entre dois estilos completamente diferentes. A Suíça, apesar de ter se modernizado e apresentar uma geração mais talentosa, tem um estilo duro e disciplinado. O Equador é imprevisível, alternando boas e péssimas apresentações. É mais fácil acreditar que a equipe europeia conseguirá impor seu jogo e atuar em função de suas necessidades na tabela.
Portanto, França e Suiça, num resultado embolado.
A qualidade da equipe Argentina destoa para cima, e a do Irã destoa para baixo. Nossos vizinhos gostam de se enrolar em jogos tidos como fáceis, mas terão que se esforçar muito se quiserem deixar pontos para trás nesta fase.
A Nigéria não é mais a sombra da equipe perigosa que já foi num passado recente. Mas terá seu jogo mais decisivo disputado sob o calor úmido de Cuiabá.
Difícil imaginar que uma equipe estreante como a Bósnia, depois de encarar a Argentina já na primeira rodada (no Maracanã) vá ter pernas para jogar a decisão logo em seguida, contra um time africano dado a correrias, em Cuiabá. Em outras condições, ficaria com a segunda vaga, mas na situação que se apresenta, a Nigéria deve passar.
É possível que Cristiano Ronaldo não esteja totalmente em forma para o primeiro jogo, contra a Alemanha, logo o mais importante do grupo. A equipe alemã é uma das mais fortes do torneio, misturando juventude e experiência, tem conjunto, vem fazendo uma preparação correta e tem várias alternativas para além dos 11 titulares. Jogará em três capitais do Nordeste, com deslocamentos relativamente curtos. Tem tudo para confirmar o favoritismo e ser a primeira do grupo.
Na primeira fase das Copas, os resultados obtidos na primeira rodada costumam impactar a performance e destinos das equipes nas rodadas subsequentes. Um tropeço de Portugal diante da Alemanha, além de previsível, pode desestabilizar completamente o time patrício.
Gana e Estados Unidos disputam logo de cara quem é o pretendente a desbancar a segunda vaga das mãos portuguesas. Os americanos têm sido consistentes nos últimos anos, mas a base envelheceu, não sendo substituída por jogadores com rodagem internacional. Gana, por outro lado, amadureceu uma geração vencedora, que já passou de fase em 2010 e agora pretende ir mais longe. E ainda jogam com o calor a seu favor.
Em minha opinião, passam Alemanha e Gana, nesta ordem.
A Bélgica não deve encontrar muita dificuldade para confirmar o que se espera de sua geração de ouro: passar de fase e ameaçar algum favorito ao título nas fases posteriores. Já a Argélia é um time sem brilho, que demonstrou fraquezas até nas eliminatórias africanas.
A Rússia vem num crescendo no último ano, chegando à Copa com uma invencibilidade nos últimos confrontos. É franca favorita à segunda vaga, mas deve tomar cuidados especiais com a correria da Coreia que, desta vez, montou uma equipe mais consistente no sistema defensivo.
OITAVAS
A partir desta fase, as partidas são no sistema de mata-mata, e tudo pode acontecer. Considerarei o emparceiramento resultante dos meus palpites iniciais, uma das equipes de cada jogo como favorita e um motivo único e direto que pode decidir a favor de alguém.
Brasil x Chile – passa o Brasil, pela soma de todos os motivos juntos. Colômbia x Inglaterra – passa a Colômbia que, por incrível quanto pareça, desta vez tem mais qualidade (e experiência). França x Nigéria – passa a França, pela tradição. Alemanha x Rússia – passa a Alemanha, pela qualidade do time. Espanha x México – passa a Espanha, pela autoconfiança. Uruguai x Japão – passa o Uruguai, pela imensa superioridade. Argentina x Suiça – passa a Argentina, com dificuldade, pela qualidade individual. Bélgica x Gana – passa Gana, mesmo a Bélgica sendo melhor, porque o jogo é em Salvador.QUARTAS
Brasil x Colômbia – passa o Brasil, de virada, empurrado pela torcida cearense. França x Alemanha – passa a Alemanha, pelo conjunto. Espanha x Uruguai – passa o Uruguai, pelo cansaço espanhol. Argentina x Gana – passa a Argentina, por ditar o ritmo do jogo.SEMIFINAIS
Brasil x Alemanha – passa o Brasil, só porque a Copa é aqui e o time da Alemanha chegará desfigurado por cartões e contusões.
Argentina x Uruguai – passa a Argentina, pela qualidade técnica. Mas eu espero que passe depois de uma batalha campal, com direito a jogadores expulsos e um desgaste extremo das duas equipes.
FINAL
Brasil x Argentina – não dá para prever o estado psicológico e físico das equipes até lá. Mas será o clássico mais importante da história dos dois países. Imagino que será uma grande partida, para ser relembrada pela eternidade. Sem ufanismo, acho, hoje, a equipe brasileira mais equilibrada entre os setores. Mas num confronto desta natureza, até a vantagem inicial do Brasil por jogar em casa pode ser uma faca de dois gumes. Quem (sobre)viver, verá.
GRANDE AFFONSO “Sheldon” Romero!
Vou assistir Croácia x Camarões. Acho que Bélgica, Gana e Portugal podem surpreender…