Comecei meu trajeto pelos estádios da Copa junto com a Costa Rica. Terminei junto com ela, em Salvador, na Fonte Nova. A Cinderela desta Copa parou nas quartas-de-final diante da Holanda e seu ousado e mal-humorado técnico Louis Van Gaal.
Cheguei a Salvador na madrugada de sábado, dia do jogo. É interessante como o Aeroporto Luís Eduardo Magalhães é bem maior do que o de Fortaleza, para fazer uma comparação com outra capital nordestina. No horário do almoço fui ao Shopping Bela Vista, que servia como “bolsão” para o embarque no recém-inaugurado metrô, rumo à Fonte Nova. Um sistema que funcionou bem e era gratuito, mediante apresentação do ingresso. Aliás, o metrô de Salvador é bem mais lento em relação ao do Rio.
Já nos arredores, achei um quiosque, no qual assisti a Argentina x Bélgica, para na sequência adentrar no estádio. Logo no entorno era possível notar uma quantidade considerável de brasileiros vestidos de laranja – dentre eles, este que vos escreve. O que mostra o quanto a seleção holandesa é carismática, mesmo com histórico de rivalidade com o time do Brasil. Ainda assim, a grande maioria apoiou a Costa Rica, por motivos óbvios.
O estádio teve uma entrada tranquila, bem guiada e com muito menos cordões policiais do que no Rio. A Fonte Nova é um estádio imponente internamente, por causa do três anéis. Além de ser o mais bem concebido dos cinco que fui, em minha opinião.
O hino holandês no estádio
https://www.youtube.com/watch?v=HV_sRGSzPLc&feature=youtu.be
O hino costarriquenho
https://www.youtube.com/watch?v=2TsF0pcQyfk&feature=youtu.be
O jogo em si foi truncado. A Costa Rica se propôs a defender, o que fez muito bem, com direito a uma arapuca que era uma perfeita linha de impedimento. Os laranjas jogaram com a posse de bola, com muitos passes em busca de espaços, e pouca objetividade. Isso até o meio do segundo tempo normal, quando o problema começou a ser os gols perdidos.
Mesmo com inúmeras possibilidades de fazer inversões e lançamentos, acelerando o jogo, a Holanda preferiu pela segurança. É interessante ver como a tradição dos dois ponteiros é mantida no jeito holandês de jogar. Kuyt e Blind não atuavam na área lateral, mas sim em cima da linha lateral. Além do que, impressiona a velocidade de Robben e sua capacidade de comandar a bola, seja perto ou longe do corpo. Se fosse menos fominha e “mergulhador”…
No segundo tempo da prorrogação, a história do jogo. As peripécias de Van Gaal começaram pela substituição de Martins Indi, melhor zagueiro do time, por Huntelaar, centroavante mais do que contestado. A um minuto do fim do tempo extra, o choque. Cillessen, goleiro titular, daria lugar a Krul. Parecia uma clara queimação do titular, mas virou uma manobra genial, já que Krul defendeu dois pênaltis e estava na bola nos acertos da Costa Rica. Para fechar, Van Gaal começou a disputa com Van Persie, Robben e Sneijder, ou seja, o coração do time laranja. Ousadia que não foi vista contra a Argentina.
Por outro lado, Jorge Luis Pinto, apesar de ter montado uma defensiva ótima e mostrado modernidade na sua tática, resolveu tirar o melhor do time, Joel Campbell (que acabou o jogo contra o Uruguai), no meio do segundo tempo normal. Baixou o Professor Pardal nele…
As duas torcidas são divertidíssimas. A Costa Rica com uma alegria ímpar, principalmente de estar no estágio no qual chegou. Na entrada da Fonte Nova passei por uma faixa onde estava escrito: “O melhor da Concacaf: Costa Rica. O país mais feliz do mundo”. Após o jogo, mesmo com a eliminação, era possível ver costarriquenhos comemorando apaixonadamente.
Já os holandeses, além de formarem a torcida mais fantasiada da Europa (a extravagância do uniforme laranja ajuda), se esbaldavam no Brasil. Passei por alaranjados cantando “lepo lepo”, em português. Após o jogo, quando os brasileiros cantavam a música dos “mil gols, mil gols”, vi holandeses acompanhando, novamente num português carregadíssimo de sotaque. Uma cena hilária.
Na saída, um costarriquenho, ao me ver com a camisa da Oranje, me propôs uma troca, o que aceitei, com uma outra camisa (mais condizente com o preço da que ele me oferecia). Aliás, essa prática é uma das tradições legais dos latino-americanos que ficaram expostas para os brasileiros nesta Copa.
Sobre Salvador, me surpreendi com a quantidade de vias expressas que existem na cidade. E mesmo assim, o trânsito é um caos. Além de tudo, achar uma reta de 500 metros nas ruas soteropolitanas é um desafio. A cidade tem um ambiente tão leve que, na saída do estádio, mesmo uma espécie de “Olodum evangélico”, só no batuque, fazia várias pessoas darem uma sacolejada. No âmbito esportivo, tive a percepção de um domínio geral e claro da torcida do Bahia em relação à do Vitória. Mesmo longe da Fonte Nova, se viam muito mais camisas e bandeiras do tricolor.
Com este duelo encerrado na disputa de pênaltis (a primeira que vi in loco na vida), encerrei minha participação na Copa do Mundo 2014. Sete jogos e 12 gols em cinco estádios, e muitas histórias para contar para amigos, familiares, filhos, netos.
Parabéns a Holanda pela campanha além do esperado, já que muita gente inteligente apostava na eliminação da Oranje logo na primeira fase. E, claro, parabéns aos costarriquenhos, simpáticos e com uma seleção bem armada, bem melhor do que o nome sugere.
Hup Hup Holland! Viva los Ticos!