O melancólico adeus da Seleção Brasileira na Copa do Mundo diante da Holanda foi o ‘gran finale’ de uma comédia pastelão recheada de equívocos, arrogância e autossuficiência. O posto final do time, o quarto lugar, não obscureceu uma participação patética.

Não que tenha havido falta de vontade dentro de campo, mas houve uma série de problemas, que, unidos uns aos outros, resultaram no desastre. Problemas de planejamento, problemas táticos, problemas técnicos, problemas de comportamento, problemas emocionais, problemas, problemas…

Para começar, a preparação: enquanto na Copa das Confederações o grupo treinava em dois períodos e claramente havia um padrão de jogo, com os jogadores muito mais conscientes do que se deveria fazer em campo, agora houve apenas quatro coletivos em 45 dias. E ninguém se entendia direito em campo. Ficamos à espera sempre de um milagre individual de Neymar, que aconteceu até um certo ponto.

Uma autossuficiência inaceitável e surpreendente em se tratando de profissionais antigos como Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira. Depois do que se viu na Copa das Confederações, é claro que o Brasil ascendeu à condição de grande favorito, mas ambos deitaram nos louros da vitória e não se preocuparam em aperfeiçoar a equipe.

Não é preciso ser muito inteligente para saber que em um ano, as fases dos jogadores mudam, seja por questões físicas ou por mudanças de clubes. Então, acharam que o time da Copa das Confederações estava pronto para a Copa do Mundo. E não houve uma correção de rumo quando viu-se que a coisa não andava bem.

brasil e holanda 3É claro que, além disso, jogadores que no ano passado estavam em boa fase técnica tiveram uma queda comum. Daniel Alves, por exemplo, não foi nem sombra do ótimo jogador do Barcelona. Já Fred mal dominava uma bola e se movimentava pouco, mas, por outro lado, os meias também não faziam chegar a bola a um atacante sabidamente de finalização.

Paulinho também caiu muito de produção, muito devido ao fato de estar sendo menos usado do que se esperava no Tottenham. E Marcelo, depois do gol contra na estreia, passou a tentar subir desordenadamente ao ataque, deixando espaços e mais espaços, principalmente contra a Alemanha.

Com um meio de campo improdutivo e mal posicionado (lembre-se que houve apenas quatro míseros coletivos), a marcação ficou frouxa e tudo estourou em Luiz Gustavo e Fernandinho, que tiveram de recorrer a muitas faltas – ambos levaram dois cartões durante a competição.

Quando não conseguiam parar as jogadas, a coisa caía para a defesa. Thiago Silva não esteve tão mal tecnicamente e fez algumas partidas boas, mas surpreendeu pelo desequilíbrio emocional no jogo contra o Chile e também levou dois amarelos, o que o tirou da semifinal e contribuiu para o descalabro contra a Alemanha, já que o reserva Dante estava fora de ritmo e David Luiz jogou fora de posição.

Falando em David Luiz, este, apesar de bom zagueiro e esforçado em campo, se empolgou com a fama que ganhou durante a Copa. Sem Thiago Silva a assessorá-lo, perdeu-se contra a Alemanha e, mesmo com o companheiro de volta, foi mal contra a Holanda. Louve-se, insisto, o esforço dele, mas os constantes lançamentos (dele e da bola) ao ataque mostraram que David estava como aquelas balas de fuzis disparadas a esmo num típico confronto entre polícia e traficantes. Um amigo o descreveu como o primeiro “zagueiro de ligação” da história do futebol.

Oscar fez uma excelente partida contra a Croácia, mas depois caiu de produção e o meio de campo como um todo também caiu. Os reservas Willian, Hernanes e Ramires pouco acrescentaram diante do cenário de trevas.

Mas vocês podem se perguntar, com razão: são maus jogadores? Obviamente não!

Ninguém reclamou da convocação, diga-se de passagem. Mas, uma preparação malfeita e autossuficiente, sem que os momentos de cada jogador fossem levados em conta, ocasionou uma Copa claudicante.

Ainda assim o Brasil passou de fase, mas a deficiência de conjunto ficou clara diante do valente time do Chile. Só não fomos eliminados logo pela incompetência dos chilenos em aproveitar as oportunidades e pelas defesas de Julio Cesar na disputa por pênaltis. Além disso, o descontrole dos jogadores ficou evidente.

Contra a Colômbia, houve um sopro de esperança com o melhor primeiro tempo do time na Copa. Mas aí a contusão de Neymar no fim do jogo escancarou mais problemas: houve uma comoção exagerada e esqueceu-se do jogo contra a poderosa Alemanha. E deu no que deu, como já escrevi anteriormente.

brasi le holanda 2A partida contra a Holanda foi uma mera formalidade e mais uma vez o time esteve mal, com todos os defeitos já mencionados, e desanimado – em que pese a má atuação do árbitro e os dois gols irregulares da Holanda. O time já estava realmente aniquilado e doido para a Copa terminar.

Uma pena que uma Copa aqui no nosso país, muito boa em tudo, diga-se de passagem, tenha sido tão frustrante no aspecto que imaginávamos que seria melhor, a nossa Seleção.

Eu disse nossa? Uma Seleçãozinha que, com o quarto lugar, rendeu R$ 44 milhões à CBF. De fato, só mesmo os interesses da entidade foram atendidos.

Mas esse é papo pro próximo texto…

Imagens: Fifa.com

[N.do.E.: é inacreditável ver o Brasil levando gol onde o jogador adversário faz duas embaixadas antes de chutar, como no segundo gol holandês. PM]