As disputas de samba do Grupo Especial

Ufa! Depois de uma rotina bem atribulada de trabalho antes, durante e depois da Copa do Mundo, finalmente consegui escutar com mais calma os sambas-enredo concorrentes para o Carnaval de 2015. É lógico que ainda preciso escutar, ouvir novamente e “degustar” outra vez as dezenas de obras inscritas, mas pelo menos já dá pra ter uma primeira análise.

Estamos no fim de agosto e dez das 12 escolas do Grupo Especial já estão na fase das disputas de sambas-enredo. Em outubro, as agremiações consagrarão as composições que serão ouvidas nos desfiles da Marquês de Sapucaí.

A Unidos do Viradouro optou por não fazer disputa (numa ideia interessantíssima, diga-se de passagem) e a Acadêmicos do Grande Rio entregou sua sinopse apenas na última sexta feira, optando por uma disputa extremamente curta: serão apenas cinco noites até a escolha decisiva.

Já se pode dizer de antemão que será uma safra mais fraca do que em anos anteriores, pois minha primeira avaliação após ouvir os sambas é a de que existem poucas excelentes composições, ao contrário do Grupo de Acesso já enfocado pelo Migão. Também já se pode afirmar que os prêmios de melhor samba, como o Estandarte de Ouro, deverão ser disputados pela Portela e pela Beija Flor.

Por outro lado, deveremos ter um desfile de domingo muito fraco em termos de sambas, com uma segunda feira um pouco melhor. Escola a escola, vamos a um panorama, na ordem de desfile.

Domingo:

Viradouro

Optou por não fazer disputa e seu samba enredo é uma junção dos dois sambas de Luiz Carlos da Vila que dão origem ao enredo da agremiação em sua volta ao Grupo Especial depois de quatro anos no Acesso. A junção foi feita pelo presidente da escola, o compositor de mão cheia Gusttavo Clarão, e os direitos autorais irão para a família de Luz Carlos da Vila. Não sou muito fã de junções, mas essa eu gostei!

Abaixo, o samba oficial da escola.
https://www.youtube.com/watch?v=2KZ8kvkj_9g

Mangueira

Recebeu 28 sambas, mas já cortou a metade ainda na primeira rodada de apresentações. Lamentavelmente minha escola do coração recebeu uma safra bastante aquém de suas tradições, mas na qual se destaca, especialmente, a parceria de Renan/Cadu, com uma letra muito qualificada e uma ótima sacada no refrão central (à la Vila-2013, reparem quando ouvirem).

Entretanto, as notícias que chegam de lá indicam que a composição desta vez apenas correta da parceria multicampeã de Lequinho é a grande favorita à vitória. Porquê eu não sei, mas vamos aguardar.

O samba da parceria Renan/Cadu
https://www.youtube.com/watch?v=v7yancKHaSI

Mocidade

Era a grande expectativa deste ano, pois se sabe que para o carnavalesco Paulo Barros o samba está a serviço do visual e a letra deve estar o mais próximo possível da sinopse musicada. Não deu outra: uma safra extremamente fraca, apesar dos 42 sambas recebidos – recorde neste grupo.

Na última terça feira, a direção da escola resolveu solicitar o recall dos sambas, liberando para ajustes. Resta saber se o carnavalesco dará maior flexibilidade a partir de agora e as composições alteradas serão entregues dia 10 de setembro. Até o momento, há quatro ou cinco sambas de fracos para razoáveis, entre eles o da parceria do funkeiro Mr. Catra, em uma parceria que, entre outros, conta também com o jogador do Fluminense Leandro Eusébio.

Ouça o samba de Mr.Catra e parceiros
https://www.youtube.com/watch?v=p8UwVEZ2a7Y

Vila Isabel

Com nova diretoria e o compositor André Diniz sem assinar nenhum samba concorrente, recebeu 18 sambas, bom número comparado aos apenas oito de 2014. Hoje restam dez e dois dos considerados favoritos já caíram precocemente.

Destaco as composições das parcerias de Eduardo Katata (abaixo), Allexandre Valle e Tunico da Vila. Também não se pode descartar a parceria comandada pelo percussionista Macaco Branco, tendo em vista os apoios de compositores famosos de que dispõe. Entretanto, nenhum deles, se escolhido, proporcionará um samba a se ombrear com os melhores.

A disputa da escola esteve envolvida em polêmica recentemente, pois a Presidenta Beta afirmou de forma pública que teve parceria oferecendo 40% dos direitos à escola para se sagrar vencedora, o que foi rechaçado.

Ouça o samba de Eduardo Katata e parceiros
https://www.youtube.com/watch?v=zNNW6U1I7hc

Salgueiro

Um caso curioso. A sinopse do enredo sobre a história e culinária mineira era bem explicativa, mas gerou (mais) uma safra extremamente decepcionante. Com cerca de 20 sambas, acabou se tornando o primeiro caso de “PT” deste ano – e não é o partido.

As composições das parcerias de Demá Chagas e Tico do Gato são razoáveis (no alto do post, o primeiro vídeo), mas a parceria comandada por Marcelo Motta parece ser a favorita. Ainda assim, a escola não terá um grande samba enredo, longe disso.

Grande Rio

Entregou a sinopse apenas na última sexta feira.

Segunda Feira

São Clemente

Com um modelo de disputa no qual as eliminatórias somente estarão abertas ao público nas quartas de final (o que reduz os custos), a Preta e Amarela recebeu 28 sambas. Entretanto, outra safra bastante fraca, onde se destaca a composição de Gabrielzinho.

Portela

33 sambas, 14 atualmente na disputa, com três ótimas composições – que devem ser as finalistas. O restante dos concorrentes está bem abaixo, mas é aquilo: a Majestade do Samba tem três excelentes sambas e isso basta.

Apesar da ótima composição resultante da fusão entre as parcerias de Gérson PM e Edson Batista, a disputa desde já está polarizada entre os sambas dos atuais tricampeões Luz Carlos Máximo e Toninho Nascimento e o assinado pelo veterano Noca da Portela, que também se fundiu à outra parceria finalista em 2014.

Para meu gosto pessoal considero a composição dos atuais campeões a melhor, com o samba de Gérson PM sendo considerado caso a opção seja por um samba mais leve, dado o horário do desfile. Mas qualquer um dos três, se escolhido, deixará a escola do chapa Pedro Migão tranquila neste quesito, como de costume.

Ouça o samba de Máximo e Toninho
https://www.youtube.com/watch?v=-O_SaV8Z3D8

Beija Flor

Mesmo caso da Portela: recebeu cerca de 20 sambas, uma safra fraca, mas tem três ótimas opções e, numa primeira análise (é claro), deve disputar com a Portela o Estandarte de Ouro. As parcerias de Serginho Aguiar, Serginho Sumaré e Samir Trindade se destacam, com meu gosto pendendo para o samba do Sumaré – que tem ótima melodia.

Entretanto, os torcedores da escola tendem a preferir a composição capitaneada por Samir Trindade, em especial devido ao refrão que fala ao orgulho de seu torcedor, como no samba campeão de 2008 que dizia “Comunidade impõe respeito / Bate no peito, eu sou Beija-Flor!”. Enfim, uma safra alentadora depois do fraco samba de 2014.

Ouça o samba de Sumaré e parceiros
https://www.youtube.com/watch?v=Jr04PmfEe5o

União da Ilha

Um caso curioso: o enredo tem a cara da escola, a sinopse ajudou… e a safra lamentavelmente não tem nada digna de destaque. Com boa vontade destaco a parceria de Cadinho, com um samba correto.

Nesta disputa temos uma situação bizarra: não somente o vice presidente Djalma Falcão assina um dos sambas como a obra é defendida pelo (ótimo) intérprete oficial da escola, Ito Melodia. Surreal.

Imperatriz

Tem quatro ou cinco bons sambas em uma safra de apenas 13, e com qualquer um deles a agremiação da Leopoldina deverá ter o terceiro melhor samba do ano neste grupo. Gosto muito do samba da parceria de Eduardo Medrado, mas todos os gresilenses com quem converso querem a composição assinada por Zé Katimba (como aliás, ocorrera em 2013 e 2014…).

Uma curiosidade é que o refrão do samba assinado pelo cantor Elymar Santos (vencedor de 2014, na homenagem a Zico) é bastante semelhante a um dos existentes no samba da Acadêmicos do Cubango de 2014.

Ouça o samba do grande compositor Zé Katimba
https://www.youtube.com/watch?v=G0EQAQoWXeY

Unidos da Tijuca

Havia uma grande expectativa sobre o legado dos “Anos Paulo Barros” na escola, após sua saída. E o rescaldo não é animador: o que ficou foi uma terra arrasada e uma ala de compositores perdida. Outra safra que decepcionou.

Os sambas que se salvam são os das parcerias de Diego do Carmo (este deveria ter vencido em 2014) e Zezinho Professor, o mesmo que o Migão elogiou no Império da Tijuca.

Finalizando, um presente aos leitores: todos os áudios citados aqui em uma única playlist – e mais alguns – com agradecimentos ao sempre competente site Carnavalesco. E que vençam os melhores.